Doce pimenta

 

 

 

            Das que vi, e conheci (para inveja do Rockmann), Elis Regina Carvalho Costa foi a maior de todas.

            Mas não sou como os argentinos, que elegem Maradona como o melhor por não terem visto, ou não terem olhos de ver, Pelé e Garrincha.

            Além de olhos, tenho ouvidos e não  posso ignorar a Pequena Notável Carmen Miranda, a Estrela Dalva de Oliveira, a Rainha Linda Batista, a Divina Elizeth Cardoso, entre outras, que me parecem ter sido assimiladas e sintetizadas por Elis. A propósito, chama-me a atenção e me intriga o fato de que continuamos a ter grandes cantoras, geração após geração, enquanto os bons cantores (não os compositores que interpretam suas próprias canções e, de vez em quando, as de outros) mínguam.

            Temperamental, sem papas na língua, com uma franqueza que ignorava os eufemismos sociais, o que lhe valeu o apelido carinhoso de “Pimentinha”, dado por Vinicius de Moraes, Elis era por muitos tachada de presunçosa e petulante. Creio, porém, que tudo não passava de autodefesa daquela gaúcha tímida e pequenina que ela nunca deixou de ser, e que somente se agigantava no palco e quando cantava. Consta que com apenas sete anos de idade foi ao programa “Clube do Guri”, da Rádio Farroupilha de Porto Alegre, animado por Ary Rego, e se recusou a cantar. Mais tarde, aos onze anos, foi naquele mesmo programa que cantou pela primeira vez no rádio.

           Dois exemplos do seu talento fulgurante: ainda no comecinho da carreira, mas com a voz já límpida e afinadíssima, acompahada por uma big band, “Dá-me um beijo”, versão de Romeo Nunes da balada italiana “É per sempre”, de C. Daniel e A. Trovaioli (a música italiana estava  na moda então), gravada no LP “Poema de Amor”, de 1962, que lhe rendeu o prêmio de “Melhor Cantora do Ano”; cerca de dez anos depois, em 1973,  na plena maturidade artística, a antológica “Atrás da porta”, de Chico Buarque e Francis Hime. Tenho um velho disco de vinil, gravado ao vivo, em que ela interpreta essa mesma canção com a voz embargada por lágrimas que no final  lhe correm pelo rosto (após o encerramento do vídeo abaixo, é possível acessar um outro que reproduz essa segunda interpretação, em que o paroxismo da sua emoção é impressionante).

 

 

 

 

 

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4 comentários

  1. 21/07/11 at 11:49

    O que não deixa de ser um comentário suspeito dos lábios de mel de Ribeirão Preto.

  2. Lilian
    22/07/11 at 14:02

    Também gosto muito de Elis.
    Algum tempo atrás a TV Globo fez uma minisérie sobre ela. Fantástico, em todos os sentidos. Além da voz incrível, a interpretação impecável (a cada apresentação), ela tem uma estória de vida muito bonita. Me fez gostar da Elis pessoa.
    Minha música preferida com ela é “Atrás da porta”. Nem preciso dizer porque, né?
    Qualquer um que tenha visto Elis cantando tal música alguma vez, se lembrará para sempre.
    Da “nova geração” gosto de Adriana Calcanhoto, especialmente com a célebre música Mentiras…
    http://www.youtube.com/watch?v=iqiXCtWb4dY&feature=fvwrel

  3. brenno
    25/07/11 at 13:34

    Essa é Elis, única, apesar das influências que andou esparramando pelo caminho e que foram tão mal recolhidas… até pela própria filha. Todas, inclusive a M. Rita, tem seu valor irrefutável. Mas aquela única… é única! A gente pode dizer, porque conviveu, viu… Somos privilegiados, tanto no caso dela, como no de Vinícius, Tom, Gonzaga, Nelson, Renato, Roberto, Jamelão, Tim Maia, Toquinho, João, Caca, Darcy, nós, e tanta gente mais… Isso suaviza a inveja que tenho de meu pai que, nos seus tempos de Rio, conviveu e viu Noel, Lamartine, Mário Reis…

    • Antonio Carlos
      29/07/11 at 19:59

      Brenno, também acho que Elis é única, mas não concordo com quem, como você (o Caio baixinho também), implica com a Maria Rita. Ela também é ótima e não tem culpa de ter um timbre que lembra o da mãe. Já achou o próprio caminho, e ainda vai render muito.
      De todos os citados, só nós mesmos tivemos o privilégio de desfrutar do canto mavioso do Caca e Darcy (que cantava até no escuro e debaixo da mesa…).

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