Já me referi anteriormente ao célebre enunciado do matreiro Sinhô de que “samba é como passarinho, está no ar, é de quem pegar”, justificando-se das frequentes apropriações que praticava.
Todavia, não é apenas no samba que as ideias volitam soltas à espera de quem as apanhe primeiro. Quantas vezes já me ocorreu uma história, um esboço de poema ou de letra de música, que por incapacidade ou falta de tempo não consegui desenvolver e de repente apareceu a gorjear na gaiola de outro, bem mais cuidado do que eu seria capaz.
Há cerca de um mês postei aqui um chiste sobre a crise da Grécia, em que criticava a falta de envergadura de tipos como Sarkozi, Angela Merkel, Berlusconi, tecnocratas do FMI ou do Banco Central Europeu, e em especial especuladores das Bolsas para se arvorarem de tutores da Grécia. Defendia ainda que por tudo aquilo que legou à civilização ocidental, constitui um dever de gratidão, uma imposição da consciência que a Grécia seja salva.
Pois não é que entrevista reproduzida na edição da última sexta-feira, 22 de julho, da Folha de S. Paulo (Ilustrada, E12), o grande Godard me arrebatou o passarinho?
Jean-Luc Godar tem uma solução para a crise financeira da Europa.
Ela é simples e criativa, como se poderia esperar de um homem que, nos anos 1960, juntamente com os jovens cineastas da nouvelle vague, libertou o cinema da camisa de força dos estúdios.
“Os gregos nos deram a lógica. Temos uma dívida com eles por isso. Foi Aristóteles quem propôs o grande ‘logo’: ‘Você não me ama mais, logo…’. Usamos essa palavra milhões de vezes para tomar nossas decisões mais importantes. É hora de começarmos a pagar por ela.”
“Se formos obrigados a pagar à Grécia cada vez que usamos a palavra ‘logo’, a crise acabará em um dia. A cada vez que Angela Merkel disser aos gregos ‘Nós emprestamos todo esse dinheiro a vocês, logo vocês precisam nos pagar de volta com juros’, ela será obrigada, logo, a pagar primeiro aos gregos pelos royalties.”
Ele ri, eu rio, alguém que está ouvindo na sala ao lado ri. É claro que Godard é contra todo o conceito capitalista burguês do copyright.
Também fico eu a rir ao ler isso e verificar que o título da matéria é “O autor morreu”.
Também me chamou a atenção esse artigo da Folha (chegou a hora de pagar o “logo” que nos foi legado pelo grande Aristóteles).
A impressão que tenho é que não haverá mudança no eixo da terra (como alguns acreditavam). O caos financeiro, sozinho, vai deixar tudo de cabeça pra baixo…
Meu caro Antonio Carlos Augusto, às vezes ficamos “mordidos” quando tal coisa acontece, fui roubado! realmente só nos resta rir . Espero que com essa confusão econômica toda, os nossos “líderes tupiniquins” não criem um novo imposto para nós pagarmos.
forte abraço do leitor amigo,
c@urosa