“Estrada Branca” é o exemplo acabado do encontro de dois talentos na sua plenitude e exata completude.
A fina melodia de Tom Jobim é uma ária à altura de qualquer um dos maiores compositores clássicos, e a letra de Vinicius de Moraes, na sua aparente simplicidade, é um poema de grande sofisticação e absoluto domínio técnico (rimas internas, aliterações, jogo de palavras), em perfeita harmonia com a melodia de Tom.
A interpretação de Chico Buarque (que muitos desconsideram como cantor) nada deve a de mestres como Frank Sinatra, Caetano Veloso, Gal Costa, e até mesmo a divina Elizeth Cardoso, entre outros, que gravaram a canção.
Estrada branca, lua branca, noite alta, tua falta,
caminhando, caminhando, caminhando, ao lado meu.
Uma saudade, uma vontade tão doída,
de uma vida, vida que morreu.
Estrada, passarada, noite clara,
meu caminho é tão sozinho, tão sozinho, a percorrer,
que mesmo andando para a frente,
olhando a lua tristemente
quanto mais ando, mais estou perto de você.
Se em vez de noite fosse dia,
e o sol brilhasse e a poesia
em vez de triste fosse alegre de partir.
Se em vez de eu ver só minha sombra nessa estrada
eu visse ao longo dessa estrada, uma outra sombra a me seguir.
Mas a verdade é que a cidade ficou longe, ficou longe
na cidade, se deixou meu bem-querer,
eu vou sozinho sem carinho,
vou caminhando meu caminho,
vou caminhando com vontade de morrer.
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Bela, bela…
A depurada e sofisticada linha melódica chega a ser difícil de se cantar, não?
Agora, dê uma olhadinha no que fizeram com a letra de Vinicius ao verterem para o idioma de Sinatra. “Estrada branca” virou “Happy madness”!!!
What should I call this happy madness that I feel inside of me
Sometime of wild October gladness that I never thought I’d see
What has become of all my sadness all my endless lonely sighs
Where are my sorrows now
What happened to the frown and is that self contented clown
Standing grinning in the mirror really me
I’d like to run through Central Park carve your initials in the bark
Of every tree I pass for every one to see
I feel that I’ve gone back to childhood and I’m skipping through the wildwood
So excited that I don’t know what to do
What do I care if I’m a juvenile I smile my secret little smile
Because I know the change in me is you
What should I call this happy madness all this unexpected joy
That turned the world into a baby’s bouncing toy
The god’s are laughing far above one of them gave a little shove
And I fell gaily gladly madly into love.
Ficou lindinha, mas não é o poema do nosso Vina…
Beijocas!
Selma, para ser sincero, não gosto nem mesmo da intepretação do Sinatra para esta canção.
A letra do Vinicius é uma preciosidade, e intraduzível pelo jogo de palavras magistral.
Beijocas saudosas.
União perfeita de duas vozes que não foram feitas para o canto. Só São Vinicius pra salvar esses dois, e ao mesmo tempo!
O que não me impede de gostar de ambos, juntos ou separados.
Só alguém com muito amor próprio, um ego muito bem posicionado para, com essa voz, se atrever a cantar. Tinha escolhido minha música preferida dele (Chico, As Vitrines), ao vivo, mas fiquei com pena.
Para não envergonhar o astro, vai essa de estúdio mesmo (só assim para aguentar…)
http://www.youtube.com/watch?v=6WOHBRnMBvY
Lilian, ao contrário de você, considero o Chico um excelente intérprete. Não é realmente um cantor na acepção tradicional, mas o seu jeito de cantar traduz com raro encanto o “clima” da canção.
Veja o exemplo de “Estrada Branca”, que é dificílima de cantar.
“Futuros Amantes” é outro exemplo. Gal canta divinamente, mas a interpretação do próprio Chico para mim é imbatível.
Embora discordando, falou meu rei!
Ai que saudade…
E essa Luíza que não volta do Canadá… rsrs