O último porto

 

“Toda a infelicidade do homem decorre de uma só coisa: ser incapaz de ficar sossegado no seu quarto.”

(Pascal, Pensées)

 

 

 

Andas por todas as ruas e cidades

veredas e estradas que levam a nada.

Pegas o bonde lotado sem saber o itinerário

nem onde e quando saltarás do estribo.

 

Corres pela plataforma vazia para não perder

o trem e seguir além da última estação.

Se a pressa é muita, tomas o avião, pagando em prestação.

 

Lança-te ao mar para alcançar o barco que vai ao largo,

subir clandestino à bordo, e depois de posto a ferros,

talvez te tornar grumete, marujo e imediato do capitão.

 

Ao fim e ao cabo, chegas morto e só ao último porto.

 

 

marinha

 

2 comentários

  1. bellgama
    27/04/09 at 18:03

    Lindo, lindo e lindo! Como sempre!

  2. Lilian
    27/04/09 at 20:37

    Pelo menos existe um “último porto”… rsrs
    Neste final de semana assisti àquele filme Crepúsculo (ruinzinho…) Para os vampiros (é uma estória de vampiros, para adolescentes) a “vida eterna”, se prolongando por séculos e séculos na mesma pessoa, é considerada uma “maldição”, um castigo e eles dizem isto abertamente às suas “vítimas”.
    Mas, é claro, a mocinha sempre quer ficar com o mocinho, embora vampiro… rsrs
    Então, talvez seja uma grande sorte nossa que esta jornada tenha fim, porque, senão, poderia ser um tédio infindável. Sabendo que haverá um fim, a gente suporta melhor (ou não???) Tudo isto deve tornar o caminho mais atrativo, e talvez por isto gostemos tanto da vida. Porque dela não temos controle, não sabendo quando começa e nem quando termina. Há que se viver, inclusive, e principalmente, além do quarto de Pascal.
    Lindo poema!

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