Alfredo Fressia
PLACE DES VOSGES
Alfredo Fressia
Futuro era el de antes, el del tiempo de mis quince años. Todas las noches me gasto las suelas de los zapatos caminando hasta la plaza Matriz, y me siento a esperar el futuro. Vení, comprá maníes con chocolate y sentate. Las mujeres que fuman ya me conocen. Yo no, todavía no me conozco. Y tampoco miro a nadie, ni a nada. Como maníes con chocolate. ¿Espera a alguien? Sí, al futuro. Respiro hondo, sentado del lado de la Catedral, de espaldas a la calle Sarandí. Todas las noches, soy asiduo y puntual. Sé que cuando el futuro aparezca, vendrá volando por atrás del Cabildo. Una ráfaga, y yo lo atraparé en mis pulmones y me llevará leve como en un globo, lejos de la p laza. La noche está fresca, llovió de tarde. ¿Y hoy, llegó? No, debe estar atrasado, viene de muy antes. Los maníes con chocolate me pesan como una piedra. Y me miro los zapatos, desamparados.
PLACE DES VOSGES
Tradução de Adalberto de Oliveira Souza
Futuro era o de antigamente, o do tempo de meus quinze anos. Todas as noites gasto as solas dos sapatos caminhando até a praça Matriz, e sento-me esperando o futuro. Vem, compra amendoins com chocolate, senta aqui. As mulheres que fumam já me conhecem. Eu não, não me conheço ainda. E tampouco olho para ninguém, nem para nada. Como amendoins com chocolate. Ele espera alguém? Sim, o futuro. Respiro fundo, sentado ao lado da Catedral, de costas para a rua Sarandi. Todas as noites, sou assíduo e pontual. Sei que quando o futuro aparecer, virá voando por trás do Cabildo. Uma lufada, e o pegarei nos meus pulmões e ele me levará tão leve como um balão, longe da praça. A noite está fresca, choveu à tarde. E hoje, ele chegou? Não, deve estar atrasado, ele vem de muito antes. Os amendoins com chocolate pesam-me como uma pedra. E olho meus sapatos, desamparados.
“Jardin d’hiver” (Benjamin Biolay / Keren Ann), com Stacey Kent
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Gama e Adalberto, tanto a imagem quanto o texto são belíssimos. Eu viajei sem sair do lugar, ou seja, na imaginação.
Abraçaço em ambos.
Não bastasse a Place des Vosges, meu cantinho predileto em Paris, à espera do entardecer lilás, não desde os 15, mas desde os 18, o texto de Alfredo é de uma beleza absurda e me emociona…
Já me fez ouvir ‘Que reste-t-il de nos amours’ , Aznavour em ‘La Bohème’ , em ‘Hier encore’…
Parabéns ao autor e à tradução sempre primorosa do poeta Adalberto.
“Hier encore
J’avais vingt ans
Je caressais le temps
Et jouais de la vie…”
Amigo,
amei revisitar Vosges. Que saudades de meus tempos em Paris.
O brilho de Alfredo Fressia resplandece nossa Estrela Binária.
Sim, “ele vem de muito antes….”
A ternura do texto é comovente.