Acabo de saber da morte de J. D. Salinger, aos 91 anos de idade, de causas naturais, segundo o comunicado oficial divulgado pelo seu filho.
Estou de luto. Acho que minhas filhas e o Rockmann também.
Li O Apanhador no Campo de Centeio (The Catcher in the Rye), seu livro mais famoso (sua obra é pequena), lançado em 1951 e que se tornou um clássico cult, quando tinha 16 ou 17 anos e fiquei absolutamente em êxtase ao me sentir retratado pelo personagem Holden Caulfield em muitas das angústias, incompreensões e revoltas de adolescente.
Mais tarde, prometi a mim mesmo que proporcionaria a meus filhos ou minhas filhas a leitura do livro no momento certo. Quando Carolina completou 16 anos, dei-lhe um exemplar e lhe contei a minha promessa. Ela adorou o livro e chamou a si a responsabilidade de presenteá-lo na mesma idade à Isabella, que fez o mesmo com a Júlia. A próxima será a Manuela.
Embora a tradução conjunta de Jório Dauster, Álvaro Alencar e Antonio Rocha para o português, na edição brasileira, seja muito boa, é claro que é quase impossível captar e reproduzir as elipses, expressões idiomáticas e gírias de Salinger. Carolina, que domina perfeitamente o inglês, leu depois no original e me disse que é realmente extraordinário.
Ainda conservo o meu exemplar, um tanto maltratado, da Editora do Autor (ao que me consta fundada por nada menos do que Rubem Braga e Fernando Sabino), 5ª edição, de 1965, que releio com frequência, pelo menos alguns trechos. A capa das edições mais recentes já é outra.
Depois de O Apanhador no Campo de Centeio (que, curiosamente, em Portugal vi numa livraria com o título de A Agulha no Palheiro), o livro mais conhecido de Salinger é Nove Estórias (Nine Stories), conjunto de contos ou short stories que muitos acham superior ao Apanhador, e cuja tradução da edição brasileira também foi feita por Jório Dauster e Álvaro Alencar.
Conquanto tenha vivido as últimas décadas em absoluto isolamento, Salinger afirmou numa raríssima entrevista que continuava a escrever regularmente, por puro prazer e que para isso queria ficar sozinho. Quem sabe venha a ser publicado agora, post mortem, o que escreveu nesse período, o que seria maravilhoso. Mas tenho dúvidas, pois que talvez ele possa haver deixado recomendações proibindo a publicação, ou seja mais interessante para os editores manter o mito.
Como diz Holden no final de O Apanhador, “Isso é tudo que eu vou contar. (…) A gente nunca devia contar nada a ninguém. Mal acaba de contar, a gente começa a sentir saudade de todo mundo”.
A morte de Salinger é comparável à de um Pablo Picasso, de um Chagal. Quem escreveu Apanhador e um Dia perfeito para o peixe banana só podia ser grande, muito grande.
Pai estou sim de luto, como se um grande amigo tivesse partido…não sei se reeleio ou se isso será difícil agora. Beijo Carol
Xiii, confesso a minha ignorância… Não li “O Apanhador…” Mas com tantas recomendações não posso deixar passar. Quero, preciso, conferir o motivo de tanto encantamento. O “problema” é que, talvez inspirada pelo tempo chuvoso, comprei “trocentos” livros esses dias, na maior animação. Lá vou eu, atrás de mais um…