Para José Saramago
“Deixa-te levar pela criança que foste” (O Livro dos Conselhos)
(Epígrafe de As Pequenas Memórias, de José Saramago)
Uma tarde, parece
de um dia qualquer, algum dia,
estavas e de repente já não mais estavas.
Somente o tempo movia dentro de ti
em uma direção que não definia,
e por alguma razão, qualquer razão,
se perdia naquilo que talvez fosse tua velhice,
mas percebias então que se retirava para tua meninice,
em algum sopro perdido daquela dia.
“Uma tarde, uma prece…”
“… estavas, e de repente já não mais estavas.” – Traduz bem o que é a nossa vida. Lindo e assustador! Devemos ser grandes aventureiros, porque para estarmos aqui, assim, só com muita ousadia. Se é mesmo verdade que somos perguntados sobre o que desejamos para esta (e outras) vidas, e com todas as dificuldades e incertezas, topamos, é porque a audácia mora em nossos corações. Somos valentes, no mínimo. E aventureiros, com certeza.
Lindo poema; uma tarde, uma prece (e um brinde, por que não, a quem nos proporcionou tantos momentos de enlevo, de mentes ocupadas com um mundo que não nos pertencia, mas mesmo assim gostoso de visitar).
Acho que o senhor deveria fazer comentários sobre os livros de Saramago, breves resenhas, principalmente de “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, que reúne duas das maiores penas portuguesas dos últimos 100 anos.
Estou pensando nisso. Especialmente sobre os livros até “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, que mais me agradam. “O ano da morte de Ricardo Reis” é excepcional, e muito pouco se fala sobre “A Jangada de Pedra”, um livro admirável e perturbador. Preciso, porém, relê-los ainda que brevemente para recompor minhas impressões.
Depois do “Evangelho”, o único livro que realmente me agradou foi “As pequenas memórias”, sobre a infância do menino Zézinho, apartado tão cedo da sua aldeia de Azinhaga, mas que carregou consigo aonde foi, e para onde voltam agora as cinzas do consagrado escritor José Saramago.
Vem coisa boa por aí, hem?