Os feriadões são uma institucional nacional, como a jabuticaba. Esperados com avidez, como a temporada dos frutos da jabuticabeira, quando despontam são saboreados gostosamente, e no final sempre deixam um gostinho de quero mais.
Menino, adorava subir nos pés de jabuticaba cultivados nos quintais das casas de meus avós, paternos e maternos, e chupar a fruta ali mesmo, com o doce sabor da aventura. Quando não era época de jabuticaba, os galhos das árvores forneciam excelentes forquilhas para a confecção de estilingue.
Na juventude, invariavelmente os feriadões eram fruídos em viagens com a turma de amigos, perto ou longe, para a praia ou a montanha, cidade ou campo. Inadmissível ficar em casa.
Agora, pelo contrário, o que me apraz é justamente ficar em casa e fazer o que mais gosto, ler, ouvir música, assistir a filmes, conversar calmamente tomando uma bebida, sem os compromissos e as obrigações do dia a dia. Fujo do rebuliço, dos congestionamentos, dos lugares lotados, da barulheira. Passeio-me pela cidade vazia, que me revela os seus encantos ocultados, como a mulher que se despe para o amante.
Será esse mais um sinal de que a juventude já não passa de uma doce recordação, como as jabuticabas que há tanto tempo não saboreio?
Nesse último feriadão, sem a angústia da segunda-feira que sempre me assoma nas noites de domingo, assisti placidamente a um filme de Domingos de Oliveira, exibido pelo Canal Brasil.
Ainda não havia visto Juventude (nem mesmo sei se chegou a entrar no circuito regular), lançado em 2008 e ganhador de quatro Kikitos da mostra competitiva de longas metragens do 36º Festival de Cinema de Gramado: melhor diretor e melhor roteiro (Domingos Oliveira), melhor montagem (Natara Ney) e ainda o Prêmio de Qualidade Artística (para os três atores, o próprio Domingos Oliveira, Paulo José e Aderbal Freire Filho). Quando da exibição em Gramado, emocionou de tal forma a plateia que foi aplaudido de pé, entre choros e risos, por longos minutos.
A força do roteiro é exatamente a sua singeleza cativante que nos envolve a ponto de nos tornar partícipes (como um quarto mosqueteiro) do reencontro e das reminiscências de três velhos amigos, David (Paulo José), Antonio (Domingos de Oliveira) e Ulisses (Aderbal Freire Filho), que se juntaram pela primeira vez, ainda adolescentes, para uma representação colegial da peça A Ceia dos Cardeais, de Julio Dantas, um clássico português. Passados 50 anos, voltam a se reunir uma noite na casa maravilhosa de David para confraternizar e efetuar um balanço das suas vidas, dos seus amores e dissabores.
Já maduros, na faixa dos 70 anos, não perderam a fome de viver e o bom humor. Não se trata, pois, de um encontro de três velhos amargurados, mas de três homens vividos e vívidos, que carregam ilusões, perplexidades, temores, anseios como os jovens de todas as idades. O filme é uma celebração da vida, da amizade e do espírito de juventude.
Domingos, Paulo José e Aderbal são de fato amigos de velha data e dessa amizade surgiu a ideia do filme. Segundo Domingos de Oliveira, “Juventude é a nossa própria vida, misturada com certa ficção daquilo que secretamente imaginávamos viver em nossas conversas doidas”.
Contemporâneo do boom do Cinema Novo, Domingos de Oliveira sempre se manteve à parte, fazendo filmes do seu jeito, com um toque muito pessoal, mais interessado no texto do que nos artifícios tecnológicos.
Com um orçamento modesto, de apenas R$ 800 mil, filmou Juventude em digital e tendo como cenário único a mansão em que os amigos se reúnem. Isso não impede tomadas belíssimas, nos diversos ambientes da casa, internos e externos. O filme flui com tamanha naturalidade que nos dá a impressão de ter sido feito numa única tomada. Há quem faça crítica à luz, mas Domingos explica que foi de propósito: “Queria uma luz mais estourada, mais aberta”.
Como é característico das obras de Domingos, os diálogos, entremeados de alguns monólogos, são primorosos, sustentados pela atuação deslumbrante dos três protagonistas. Impossível e injusto destacar um deles, mas comovem o esforço e o talento de Paulo José lutando há muitos anos com os efeitos do Mal de Parkinson, que usa magistralmente na composição do personagem que encarna.
A mim, por razões pessoais que contarei num outro post, emocionou-me especialmente a cena em que os três amigos, que se acham na idade dos velhos cardeais que interpretaram na juventude, vestem-se com trajes cardinalícios comprados por David (Paulo José) para surpreendê-los, e enquanto ceiam repetem parte de suas falas da peça, com suas imagens e vozes fundindo-se com as dos rapazinhos que foram.
Ao término do filme, me senti com a alma e os olhos lavados, estes pelas lágrimas que não pude conter. Não sei se isso é sinal de juventude ou senectude.
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Eu também! Fazia tempo que não dormia tão contente, tão leve, numa noite de domingo. O canal 43 me deu um presentão: 3 episódios inéditos (pra mim) do Law & Order SVU. Foi uma sensação comparável com a doçura da jabuticaba, que agora está caríssima. Mas o importante é que ela continue sendo jabuticaba, com seu sabor característico, nos levando imediatamente aos tempos da infância.
É, porque, agora, não é difícil encontrar legumes e frutas com um gosto diferente daquele “original”. Nesses momentos, sinto uma grande apreensão pelo futuro, porque não sabemos se o sabor dos alimentos permanecerá o mesmo, diante de tantas inovações que aumentem o lucro dos produtores.
V.sabe que não sou muito ligada a cinema, mas pelo que contou e pelo texto que ouvi no que colocou acima, deve ser realmente um belo filme.
A força do Paulo José me faz sempre ver a vida por um outro prisma. A luta desse homem há anos é de verdade um exemplo de coragem e isto eu admiro e respeito profundamente.
As jabuticabeiras no quintal de seus avós, meus tios, levam a lembranças muito gostosas de nossa infância. Hoje em dia, nem explico, mas não compro nem chupo jabuticabas. Acho que meus netos pequenos nem sabem o que é, pois a gente transfere para os descendentes – até sem querer – os gostos e desgostos da gente.Feriados, hoje em dia, são só dias a mais que acabam interferindo em meu trabalho atual.
E lágrimas não considere nunca sinal de senectude. São a prova concreta de sensibilidade e sentimentos que conseguimos manter na alma.
Nossa, que mico! Falei tanto sobre a jabuticaba que deixei de lado o assunto principal: o filme. O enredo fez-me lembrar o livro “Encontro Marcado”, de Fernando Sabino, que li há uns “200” anos atrás…
Quanto à sua emoção, Dr.Gama, diante do lindo filme, se for sinal de senectude estamos todos muito senis, e desde criança. Emocionar-se é sinal de que estamos muito vivos, mantendo a juventude em nossos corações.
Também gosto muito das séries Law & Order. Os episódios são muito bem feitos, apresentam com fidelidades as características do sistema judicial norte-americano e as histórias são ótimas, sem maniqueísmos, com dramas reais e pertubadores.
Queridos, pensei que só eu gostava de Law&Order, mas também não perco. Além do House que me diverte muito e do Monk com todas suas fobias e TOCs. Aliás, o canal 43 Universal é uma boa opção para o horário político inclusive, não acham?
Perfeito, Sonia!
Se você também gosta, talvez não saiba que todo sábado, às 16 horas, está passando alguns episódios (do Law & Order, só).
No domingo à noite, a partir das 22 h, está passando três!!!! episódios do SVU! Pena que no dia seguinte é segunda-feira…