São Marcos

 

 

                        Consta que João Saldanha, chamado de João Sem Medo pelo destemor e por não ter papas da língua, perdeu o cargo de técnico da seleção brasileira, pouco antes do início da Copa do Mundo de 1970 (ou ao menos teria sido a gota d’água disso), depois de responder a um repórter que o entrevistava e lhe perguntou se não iria convocar o centroavante Dario, o Dadá Maravilha, que era o queridinho do tenebroso ditador de então (até no nome), Garrastazu Médici:

                        — O general escala o seu ministério e eu escalo a seleção.

                        O mesmo João Saldanha costumava dizer sobre os jogadores tidos por problemáticos ou indisciplinados, mas que são craques incontestáveis e decidem, como Romário:

                        — Não quero ele para casar com a minha filha. Quero para jogar no meu time.

                        Pois duvido que algum torcedor, se conseguir deixar de lado as paixões e rivalidades cegas, não quisesse ter o Marcão do Palmeiras como goleiro do seu time.

                        De minha parte, embora nem me passe pela cabeça escolher marido para minhas filhas, que são perfeitamente capazes de acertar ou errar sozinhas, vou além, pois que gostaria não apenas de ver Marcos como goleiro do meu time, mas de tê-lo como amigo, pelo grande tipo humano que é, pelo seu jeitão simples e despachado, pela franqueza com que crítica as próprias atuações e do resto do time quando jogam mal, pelo caráter reto, pelo desapego ao dinheiro e à fama, nestes tempos de mercantilismo futebolístico e jogadores mercenários. Recusou propostas milionárias, até do exterior,  para não deixar o seu clube de coração, especialmente quando o Palmeiras estava na pior, rebaixado para a segunda divisão.

                        Mesmo depois de contusões gravíssimas e repetidas, aos 34 anos de idade, encontrou forças para recuperar a velha forma e voltar a ser o extraordinário goleiro de antes (disse ele em entrevista recente que joga sentindo muita dor no punho várias vezes lesionado).

                        Graças à sua atuação portentosa durante o jogo, e depois na decisiva cobrança de pênaltis, em que defendeu de forma espetacular três dos quatro batidos pelos jogadores do Sport Recife, o Palmeiras continua vivo na Taça Libertadores da América (salvando o pescoço do convencido e intolerável Vanderlei Luxemburgo).

                        Ave, São Marcos, morituri te salutant.

 

 

3 comentários

  1. Lilian
    13/05/09 at 19:19

    Embora adorando os jogadores do meu time, um cara como o Marcos realmente faz diferença. Não apenas pelas grandes defesas e amor ao clube, mas principalmente pelo grande homem que é.
    Ficaria perfeito no São Paulo!!!! Nós temos o grande Rogério Ceni, mas nunca vi auréola nele, como hoje era possível ver nas fotos do Marcos… rsrs
    Só posso imaginar a emoção daqueles momentos, porque não assisti. Mas as fotos estavam lindas!

  2. 14/05/09 at 8:52

    Dos personagens que passaram pela história do futebol brasileiro, poucos têm as “histórias” de vida que Saldanha teve. O gaúcho carioca adorava dizer que aos seis anos foi contrabandista de armas, tornou-se líder estudantil aos 20, foi técnico de futebol, ator de cinema, analista de escola de samba, dono de cartório, estivera lado a lado com Mao Tse Tung na grande marcha e vira o desembarque das tropas aliadas na Normandia…
    João Saldanha tem duas biografias que merecem ser lidas. Uma foi escrita por João Maximo, um relato de 130 páginas, muito bem escrito. Outro foi lançado ano passado – “João Saldanha, uma vida em jogo”, do André Siqueira.

  3. bellgama
    14/05/09 at 16:20

    Embora eu seja curintiana (assim mesmo) roxa e ache que o Felipe é o melhor goleiro da atualidade, sem dúvida, o Marcos é uma grande pessoa. Como filha, confesso que não o queria como marido. Se for escolher alguém, pai, que seja o Cristiano Ronaldo, por favor. Se bem que a maioria (99%) das vezes em que escolhi sozinha, errei. Fora as brincadeiras, devo dizer que o Marcos é um ser humano fantástico, único entre todos os jogadores a dar uma entrevista para o meu jornal, rapidamente. Virou capa. Ti doro, saudade!

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