As quatro estações

 

 

                    Eis que afinal, mansamente,

                    o outono se entranha com seus tons

                    de marrons, beges, vermelhos breves,

                    que não são do outono em Paris,

                     mas daquele em que me fiz.

 

                     A primavera longeva da infância,

                      com sua ânsia de florescer,

                      sua volúpia multicor e inebriante, estiolou,

                      e se acomodou no pequeno jardim

                      num canto esconso de mim.

 

                     O verão suarento da juventude,

                     com seus rompantes sóis,

                     seus ardores, falsas dores, ruídos rudes,

                     parecia que nunca se acabava

                     e a agitação ofegante do dia invadia a noite e a madrugada.

 

                     Os dias são tépidos agora

                     e se encurtam na longa noite

                     que esfria e prenuncia

                     o inverno álgido que virá

                     com sua verdade de pedra:

                     a primavera que houvera outrora,

                     outra nunca mais haverá.

Outono 3

10 comentários

  1. Lilian
    22/05/09 at 19:40

    Como “comentar” algo tão maravilhoso?
    Alguém me ajuda???
    Agradeço por compartilhar seu lindo poema com a gente, mas falando em “estações” não posso deixar de me lembrar de algo muito lindo, que transcrevo a seguir:

    “Quero apenas cinco coisas..
    Primeiro é o amor sem fim
    A segunda é ver o outono
    A terceira é o grave inverno
    Em quarto lugar o verão
    A quinta coisa são teus olhos
    Não quero dormir sem teus olhos.
    Não quero ser… sem que me olhes.
    Abro mão da primavera para que continues me olhando.”

    (Pablo Neruda)

    Não é demais?
    Abrir mão da primavera…
    Tem idéia do que é isto??????????

  2. Sonia Kahawach
    22/05/09 at 20:42

    Muitas foram as primaveras,
    de flores e ilusões vividas.
    Lindos os verões,
    muito sol e brilho
    num tempo que não se apaga.
    Esperanças ainda no outono,
    quando a vida já se escorria lenta.
    Não lamento agora nenhuma estação,
    não sou nostálgica nesse momento,
    não falo em saudade de um tempo que se foi.
    O que não me permito é abrir mão da
    ainda enorme vibração da vida
    nesse inverno que se prenuncia.

    Perdoe o brilhante poeta pela pretensão de colocar um pensamento dentro de seu tema. Beijos a todos.

    • Antonio Carlos
      22/05/09 at 23:25

      Querida Sonia,

      Como já disse aqui diversas vezes, a participação dos que acessam o blog é a própria razão de ser deste. O sua reflexão sobre o poema é outro poema dentro do poema.
      Essa é a magia da poesia.
      Um beijo.

    • Lilian
      23/05/09 at 17:56

      Lindo, Sonia! Considero inerente ao ser humano essa paixão pela vida em qualquer das suas fases…

      • Sonia Kahawach
        25/05/09 at 12:35

        Lilian, obrigada pelo comentário.
        Quem é Lilian?
        Gostaria de saber mais dela que até já chamei de jovenzinha num comentário por aí afora. Abraço

      • Antonio Carlos
        25/05/09 at 17:04

        Lilian,

        Por favor, responda à Sonia, apresentando-se e falando sobre quem é e como nos conhecemos. Adoro saber que meu blog serve de ponte para novas amizades e admirações recíprocas.

        Um abraço para as duas.

        Antonio Carlos

  3. Lilian
    25/05/09 at 18:38

    Lilian sou eu, Sonia!!! rsrs
    Fui aluna do Dr.Gama no ano de 1998 (ou 1999), na Unip de Ribeirão. Um ano após, ele (Dr.Gama) se tornou funcionário da Câmara de Ribeirão, como eu. Imagina a sorte de ter como colega um Professor que você admirou muito! Convidei-o para ser meu examinador no trabalho de conclusão do curso (de Direito). Sou hiper tímida e precisava, além da minha família quase toda, de um colega (ele!) pra me apoiar naquele momento terrível (imagina uma tímida expondo para uma banca examinadora…) Correu tudo bem, sobrevivi. Naquele dia (da banca examinadora) estava presente a minha sobrinha Alexandra (outra tímida). Quando ela (Alexandra) passou no concurso da Câmara, teve a felicidade de vir trabalhar com o Dr.Gama! Desde então, sou uma tia mais feliz, a Alexandra adora o Dr.Gama e ele gosta muito do trabalho dela, tratando-a como filha! Enfim, o Dr.Gama faz parte das nossas vidas, merecendo todo o nosso respeito, consideração e afeto!
    Tem coisas que dão certo na vida… ter o privilégio de conhecer, de trabalhar com o Dr.Gama é uma delas!
    E você, como amiga dele, não fica de fora e é muito querida também!

    • Sonia Kahawach
      25/05/09 at 19:08

      Muito prazer em conhecê-la, Lilian.
      Sou não só amiga do Dr. Gama (como vocês o chamam), mas tenho também o privilégio de ser sua prima que, como ele disse em posts anteriores, por ser mais velha que ele, me tinha num conceito de distante quando éramos todos muito jovens.

      Chamei-a de jovenzinha em um comentário anterior, pois as vezes lendo seus comentários vejo-a uma garota nas colocações.
      Que bom, não? Permanecer jovem e sonhadora mesmo que o tempo passe.

      Mas é mania de idosos (????) acharem todos MUITO jovens…
      As ??? são por conta de que não me considero tão idosa assim e porque ainda sonho de olhos bem abertos. Pode?

      Acho linda sua admiração pelo Antonio Carlos e noto que realmente é fã de carteirinha, da turma do gargarejo (perdoe a brincadeira). Também acho que ele merece pela pessoa que é, pela família que tem e pela forma linda de escrever que é, quem sabe, genético (pelo pai e avô que tem e teve).

      Estarei sempre lendo seus comentários e com certeza nos falaremos mais vezes. Grande abraço da Sonia

  4. sonia kahawach
    02/06/09 at 14:48

    Antonio Carlos, já que v. tem me permitido, vou abusar, mas hoje escrevi algo que condiz tanto com o inverno a que v. se reporta, que gostaria de lhe passar. Perdoe encher o espaço outra vez, tá?

    A VALSA DA VIDA

    Sentindo-me linda,
    Gostosa, leve, livre e solta,
    Bailando uma valsa
    No espaço da vida,
    propus até me repaginar.
    Comprei novas maquiagens,
    Ansiei pela chegada das embalagens
    E chegando corri pra usar.
    Tudo o que tinha direito
    Após tanto tempo sem me olhar.
    Base clara na pele do rosto,
    Lápis preto em torno dos olhos,
    Batom clarinho nos lábios,
    Sobrancelhas escurecidas.
    Belo trabalho na tela da vida.
    E então me achego mais próxima ao espelho
    E venho me olhar mais de perto.
    Que triste semblante…
    Que rugas se instalaram…
    Uma década sem maquiagens,
    Quase uma sem vaidades.
    E o pior, que deve ter marcado tanto,
    Muitas dores… muitos desencantos…
    Enormes perdas.
    Agora é valsar o que me resta,
    No grande salão da vida.
    Sem lágrimas,
    Sem dores, com amores, gostosa,
    Leve, livre e solta.

    • Antonio Carlos
      02/06/09 at 17:03

      Sonia,

      Use e abuse, especialmente para nos brindar com coisas tão lindas. Você sempre escreveu muito bem, tire as coisas da gaveta e continue a escrever coisas novas. Leve, livre e solta.

      Além das minhas quatro estações, o seu poema realmente tem o mesmo “clima” do último post da Bell, “A bela e o Narciso”. Li o comentário que você deixou lá. É muito estranho como as idéias, os sentimentos, as emoções transcendem como o perfume de uma flor que, repentinamente, muitos aspiram e se inspiram.

      Um beijão

Deixe um comentário para Lilian

Yay! You have decided to leave a comment. That is fantastic! Please keep in mind that comments are moderated. Thanks for dropping by!