Sexta-feira, os jornais de fim de noite na televisão deram a notícia que me estragou o dia e o final de semana: Zé Rodrix morreu.
Ainda há pouco, no post A casa doente, fiz referência e reverência à sua canção mais conhecida e imorredoura, eternizada pela voz de Elis Regina, Casa no Campo, que ouço agora, cantada por ele, enquanto escrevo, quase sem conseguir conter a emoção.
Pensava que ele fosse mais velho e me surpreendi ao saber de sua idade nos necrológicos: apenas 61 anos! Fez tantas coisas, produziu tanto, que parecia já ter vivido muito mais tempo, o que me traz à lembrança os versos de Pessoa:
“Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Há cerca de dois ou três anos ele veio a Ribeirão Preto, acompanhando o poeta Mário Chamie, para participarem da Feira do Livro. Como meu pai e eu já há algum tempo nos tornamos bons amigos do mestre Chamie, fui por este apresentado a Zé Rodrix.
Passamos uma boa parte daquela noite saboreando a conversa de Mário Chamie e Zé Rodrix, ambos absolutamente encantadores e extrovertidos, capazes de prender a atenção de qualquer ouvinte ou platéia por horas a fio, emendando um assunto com outro e pontuando com grandes tiradas.
Até então conhecia e admirava o talento do artista e publicitário Zé Rodrix, mas ao longo do papo descontraído me vi diante de um homem de vasta cultura, não apenas musical, de inteligência e sensibilidade extraordinárias.
Contou-me que havia sido obrigado a alugar um apartamento apenas para acomodar seus livros, que já passavam de trinta mil. Como não parava de comprá-los e também de recebê-los dos autores e das editoras, o apartamento-biblioteca começava a ficar saturado, levando-o a tomar a decisão de doar os exemplares repetidos e aqueles que não mais lhe interessavam, mantendo apenas os livros essenciais, que ainda pretendia reler ou ao menos consultar.
Perguntei-lhe com quantos livros pensava ficar, e ele me respondeu com a maior simplicidade:
― Ah, pouca coisa! Dez ou doze mil…
Cheguei a brincar, dizendo-lhe que esses poucos livros e ainda os seus discos não caberiam na sua casa no campo, pau a pique e sapê, o que lhe arrancou gostosas gargalhadas.
Não mais o reencontrei, mas de longe acompanhei a retomada de sua carreira musical, que ele me disse naquela noite haver feito porque sentia muita falta de pôr o pé na estrada.
De novo reunido com os velhos companheiros, lançou um DVD com os maiores sucessos do trio, Sá, Rodrix & Guarabyra: Outra Vez Na Estrada – Ao Vivo. No começo deste ano, foi lançado o CD Amanhã, resultado do reencontro dos três.
Amanhã já não há para ele. Haverá para nós?
Também me surpreendeu bastante a notícia, ainda mais por causa da idade. No estágio em que estou, considero alguém de 61 anos um jovenzinho! E mais ainda no caso dele, porque a arte eterniza e os anos de vida deixam de ser tão importantes. Temos apenas o passado e o presente, Professor. Alguns diriam que temos apenas o presente. Mas o que importa “se houver amanhã”, se nos entristecemos hoje? É como ele mesmo disse, “pé na estrada”, ao vivo, enquanto pudermos.
A tristeza da morte é sempre presente nessa vida que vamos rodando.
Lamentável a ida também do Zé Rodrix.
E ante o triste fato, leio seu post acima e rí do que comentou sobre um amigo, que, por muita coincidência (se é que existem) conheci há muito e muitos anos atrás: Mario Chamie.
Ele foi contato publicitário de empresa que agora não consigo me lembrar, antes de ser Secretário de Cultura de SP, quando eu também trabalhava na Agência DPZ (áureos e saudosos tempos!…).
E ele dizia que só entraria pra sala de reuniões se eu ficasse também lá postada pra ele ver meus olhos (rsrsrs) e até tenho uma poesia dele, de próprio punho, exaltando esses olhos que ele admirava (deve estar em meus guardados).
Como faz muito tempo (eu devia ter uns 23 anos), tento enquadrar a imagem dele, mas creio que ele é bem mais velho do que eu.
Veja, querido, a vida rola e enrola e acabamos sempre tropeçando em alguma pedra do caminho (com as pedras também erigimos nossos castelos). Foi gostoso relembrar um passado do qual já nem me ligava mais. Beijos
Sonia,
O Mário Chamie já é um setentão, mas como bom árabe, é ainda um homem vigoroso, atraente e encantador, com um respeitável bigodão.
Ficou viúvo há algum tempo e desde então vive só, apesar de suas inúmeras atividades como professor e escritor. É, sem dúvida, um dos nossos maiores poetas vivos. Trata-se, pois, de um ótimo partido para você, já que sei que seus olhos continuam tão lindos como dantes…
Que tal?
Do seu primo alcoviteiro
Antonio Carlos
O bigodão é marca registrada desde os áureos tempos.
E você está me saindo realmente alcoviteiro!
Casar-me novamente?
Não, querido. Já descobri que a vida pra mim é maravilhosa desde que eu possa ser livre, leve e solta.
E já cumpri minha missão nesta passagem cuidando de crianças, idosos e outros congêneres. Com tudo o que já fiz, estou satisfeita e nada afeita a outras obras. Agradeço sua intenção que sei é das melhores, viu?
E que bom que ele está bem e ainda poetando.
Beijos
Gente do céu… virou o namoro na internet! Dos intelectuais! A-do-rei!
Voltando ao post, eu tive a sorte de ouvir meu pai, o Forest Gump, contar essa história pessoalmente neste fim de semana. Que bom que compartilhou com todos aqui! beijos!
Nem chegou a ser um romance e já virou história?
Vocês me matam de vergonha! rsrsrs
Mas um dia desses, quem sabe, conseguimos sentar todos pra
contar um pouco de cada um, né?
Realmente tenho histórias hilárias nessa minha vidinha andada
e agora, aos quase 63 anos, já posso contar o que antes guardava com mais discrição (além de idosa safada, não?).
Beijos mil a todos.