Não a carta de amor,
ridícula,
nem a carta de adeus,
suicida.
Não a carta paterna,
saudosa,
nem a carta de pêsames,
dolorosa.
Não a carta comercial,
publicitária,
nem a carta panfleto,
revolucionária.
Não a carta-charada,
enigmática,
nem a carta-contrato,
sinalagmática.
Não a carta de ocasião,
sociável,
nem a carta padrão,
descartável.
Mas a carta nunca escrita
e jamais recebida,
insubstancial e expectante
num escaninho da posta-restante.
.
Que poderia eu dizer sobre algo tão lindo?
Adorei!
Muito lindo!
Cartas sempre achei bom demais escrevê-las e recebê-las.
Até hoje, embora o e-mail acabe substituindo as cartas, ainda escrevo longamente para pessoas queridas e fico feliz quando o carteiro chega com respostas. Por exemplo, ainda troco cartas com tia Decyl (nem sei se v. se lembra ou conheceu), esposa de tio Ibrahim, hoje com 80 e poucos anos, morando com sua irmã mais velha (!?); com minha prima Neide, filha de tio Rachid, hoje com 70 anos morando em Santos.
E escrevo cartas para minhas filhas e netos, deixando impressos sentimentos e colocações nem sempre conversados.
Nunca serão ridículas as cartas de amor, de pêsames, de troca de informações, de temas os mais diversos.
Tenho até um álbum dentre escritos outros, cujo título é Cartas à Minha Mãe, que vou escrevendo ao longo do tempo, após ela falecida.
É uma forma de contato que até ajuda a matar a saudade.
Assim, cartas tanto enviadas como recebidas, são marcas que ficam para sempre ou até que nos separemos delas por motivos quaisquer.
Tenho guardadas cartas ainda de minha avó, de freiras do colégio onde estudei na infância, de namorados, de amigos e, entre outras, cartas que escrevi e nunca enviei. Todas, quando de vez em quando as releio, são recordações de épocas vividas e por isto mesmo marcantes.
Sonia,
Também gosto muito de cartas, tanto de recebê-las, quanto de enviá-las. Mas nestes tempos de tanta pressa, o telefone e principalmente o e-mail parece que vão acabando com elas. Se bem que, para mim, telefone e e-mail são para memsagens breves e instantâneas, ao passo que a carta se presta para reflexões e conversas mais profundas e íntimas. As cartas, amarelecidas, permanecem, guardadas numa caixa ou gaveta, envoltas num elástico, às vezes com uma pétala seca entre suas folhas. Já as ondas sonoras ou eletrônicas dos telefonemas ou e-mails tendem a se desmanchar no ar.
Embora estejamos próximos, na mesma cidade e em contato diário, meu pai e eu costumamos em algumas ocasiões trocar cartas, que preservo com todo o carinho.
Um beijo.