Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Nua hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar ua hora.
Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.
Luís de Camões
Na madrugada insone, ao folhear a lírica de Camões, esse soneto ― já conhecido e que em voz alta releio ― me invade e entra pelos tímpanos como o repique toante dos sinos de uma aldeia.
Essa a magia do poema excelso: ressoa na lembrança e de novo soa, límpido e fresco como um primeiro alvorecer.
Amanheço.
E que madrugada sublime e bem acompanhado, meu bom amigo poeta Antonio Carlos Augusto!
forte abraço do leitor,
c@urosa
Não importa quantas vezes lemos o mesmo poema. Se o amamos, a sensação será sempre a de lavar o rosto pela manhã…
Sua escrita é outro poema, Antonio.
Beijocas!
“O mundo abarco e nada aperto” – quantas vezes essa sensação nos assola!
“Estando em terra chego ao céu voando” – inúmeros vôos demos dentro do infinito dos sentimentos.
“….em mil anos não posso achar ua hora” – e quantas horas buscamos dentro de nossas almas sedentas de uma presença que não se faz.
Acordar e ficar assim lendo, querido, é uma bênção. Jamais uma noite insone.
E sonhando, que pena que amanhece.
Eu quero falar na línguagem de Camões…
Aquela inculta e bela, arrastando milhões consigo,
derramando sentimento por onde passa.
Camões não é para os fracos,
para os submissos ou tímidos.
Há que ser forte para compor o elo entre as palavras!
Eu quero falar na linguagem de Camões.
Pois é meu bom Antonio Carlos Augusto, para muitos um pouco não e nada… e para poucos um pouco é muito…coisas de Deus, e , nós vamos vivendo como ele querer! Muito bom!
forte abraço
c@urosa
Retificando:
vivendo como ele quer!