Os cabelos eram muito pretos e lisos, quase sempre presos com uma trança ou um rabo de cavalo.
As pernas, muito compridas e torneadas, como de moça feita, mas disso ele só veio saber muito tempo depois, quando ela já devia ser moça.
O que o empolgava naqueles tempos era como as pernas corriam velozes (até mais do que as dele), subiam nas árvores, plantavam bananeira, rodavam estrelas, pulavam corda, pedalavam a bicicleta.
Os olhos, o nariz e a boca eram muito grandes, engraçados, mas só muito tempo depois ele veio saber que essa era a graça.
Ela era ótima no pega-pega, além de correr muito, dava uns dribles de entortar, mas no esconde-esconde se escondia sempre nos mesmos lugares, que ele fingia não achar, só para que a brincadeira continuasse.
“Pe-vo-pe-cê-pe-quer-pe-ser-pe-mi-pe-nha-pe-na-pe-mo-pe-ra-pe-da?”
Perguntou-lhe um dia, na língua secreta.
“Pe-só-pe-se-pe-vo-pe-cê-pe-me-pe-al-pe-can-pe-çar.”
Ela deu uma risada, saiu correndo e antes que ele a pegasse entrou em casa gritando: “Pique!”
Então ela se mudou daquela casa, e se escondeu tão bem que ele nunca mais a encontrou.