Ótima entrevista feita por Paulo Werneck com Caetano Veloso, publicada na edição deste domingo da Folha de S. Paulo (Caetano Veloso e os elegantes uspianos, Ilustríssima, 4/5).
Caetano sempre rende boas entrevistas, mas a maturidade (completa 70 anos em agosto deste ano) lhe fez muito bem: “Gosto do atrito. É a base do sexo. Mas não rejeito o antagonismo. Sou nitidamente contra o Brasil ter devolvido os atletas cubanos. Sou nitidamente contra o manifesto dos militares reformados. Sou nitidamente contra Luta ter apoiado a eleição de Ahmadinejad antes de o próprio Irá decidir se as eleições tinham sido fraudadas ou não”, diz ele no final da matéria.
Noutra resposta, anota: “Toda cartilha ideológica, pode ser — e frequentemente é — obstáculo à inteligência” (essa vírgula depois de “ideológica”, que me parece equivocada, é da edição).
Identifico-me muito com esse pensamento. Não abro mão de pensar livremente (ou tão livremente quanto consiga), e hoje sou radical apenas no repúdio a todo e qualquer tipo de tirania e ditadura, seja de direita, de esquerda, de centro, cristã, islâmica, das elites ou do proletariado.
Grande parte da entrevista, e o seu próprio móvel, é o recente ensaio de Roberto Schwarz (Verdade Tropical: Um percurso do Nosso Tempo) sobre o livro de Caetano (Verdade Tropical), quinze anos depois da publicação deste.
Schwarz, com sua assumida condição de crítico marxista, é exemplo típico do engessamento ideológico a contaminar tudo o que escreve e pensa, como é o caso dos seus ensaios e artigos sobre Machado de Assis, em especial do incensado Um Mestre na Periferia do Capitalismo (que não deixa de ser um bom livro).
Eis um trecho significativo da entrevista de Caetano:
“Schwarz critica o “amor aos homens da ditadura” expresso por Gil ao tomar ayahuasca e comenta os seus elogios à letra de “Aquele Abraço”: “A lição aplicada pelos militares havia surtido efeito”. Como vê essa avaliação severa?”
“Esse parágrafo de Schwarz é cruel e tolo. A prisão me pôs mais profundamente em inimizade com o projeto dos militares de direita que tomaram o Brasil. A descrição dos solavancos por que passamos não poderia ser desinfetada para agradar aos revolucionários de gabinete. Sou muito franco e apaixonado pela clareza e pela luz.
Gosto mais do esclarecimento do que da Dialética do Esclarecimento, que tanto obscurece. (Aliás, desconfio dessa escolha da palavra “esclarecimento” em lugar de “Iluminismo”.)
A lição aplicada pelos militares surtiu efeito em mim: me fez mais realista, mais conhecedor dos pesos concretos da vida. Foi sob a ditadura, sobretudo na prisão, que aprendi a odiar o odiável em nossa sociedade.”
Odiar o odiável, e também amar o amável, pois afinal, como dizem os versos de Chico Buarque na maravilhosa Futuros Amantes, “amores serão sempre amáveis”.
Gama, o Caetano Veloso é um dos maiores compositores vivos do país, na minha opinião… Tem várias músicas dele que eu gosto, como Sampa e Terra.
Sei que ele publicou o livro Verdade Tropical, mas infelizmente ainda não tive a oportunidade de lê-lo, onde eu o encontro pra comprar, e se vc já leu, o livro é bom?
Um abraço
André
Caro André,
“Verdade Tropical”, como o próprio título indica, tem como tema central o tropicalismo, mas não se resume nisso.
Ao longo de mais de 500 páginas Caetano tece uma fina teia de suas lembranças e de sua trajetória desde a infância, das suas leituras, dos familiares e de vários outros, como João Gilberto, Gil, Gal, Chico Buarque, Glauber Rocha.
Gosto muito do livro.
É fácil de encontrar, havendo edições de bolso, que são mais baratas.
Um abraço.
Caetano me encanta sempre seja falando, seja compondo, seja cantando ou escrevendo. Também não tenho o livro citado, mas vou ver se encontro por aqui. Deve ser bem interessante. E eu nem sabia que ele já vai completar 70 anos?!
Achava que era mais moço. Que pena que nós, os jovens, já estejamos na década de 60!
Antonio, pelo excerto da entrevista, também você é um “apaixonado pela clareza e pela luz”. Schwarz é um schwato de galoschwa.
Nonnabuka, Caetano é ageless. Você precisava vê-lo dançando como um menino, ao dividir o palco com o rapper Criolo, neste sábado.
Beijocas!
Até imaginei a cena… Eu ia amar ver isto. Sabe que quando ele estava bem no início de carreira eu trabalhava no Grupo Rhodia que patrocinava os Festivais de Música e vendo ou ouvindo a figurinha (assim como outros da época) nos bastidores, não dava pra imaginar o futuro. Depois foi muita Alegria Alegria. Bjs