“Pois os deuses percebem as coisas futuras; os homens aquelas que ocorrem; e os sábios, as que se aproximam.”
(Filóstrato, “Vida de Apolônio de Tiana”, VIII, 7)
(Com perdão de Kaváfis e seu magnífico À Espera dos Bárbaros)
Aonde vai o velho boticário
com seu precário passo?
Por que não fica a aviar as receitas
que os médicos lhe passam?
É que ele está jubilado
e já não havia receita para viver.
Por que ele se dirige ao Parlamento?
Os senadores já não legislaram
o que lhes mandaram legislar?
Que outras leis haverão de fazer?
Os banqueiros que chegam as farão.
Os nossos governantes contam saldar
os banqueiros. Têm pronto para lhes dar
as nossas riquezas do passado,
filosofia, teatro, poesia, desporto,
todos os barcos fundeados no porto.
É que tais coisas deslumbram
os banqueiros, mas não os satisfazem.
Por que o velho boticário alvejou
a branca fronte, defronte daquela árvore?
É que ele não quer deixar dívidas
para que os filhos paguem aos banqueiros.
Prefere ter um digno fim antes
de ir procurar comida no lixo.
Por que a ágora agora
encheu-se de flores, velas e bilhetes?
Por que tão rápido são todos reprimidos
e obrigados a voltar para a casa?
(aqueles que ainda têm casa).
É que os banqueiros chegaram
e lhes aborrecem arengas, pendências.
Sem os banqueiros o que seria de nós?
Ah! eles sempre têm uma solução
(que lhes cai do céu)
e vão nos deixar o Cavalo de Troia.
como laurel da nossa infinda glória.
Leia aqui sobre o suicídio do velho farmacêutico grego