Um velho companheiro costumava dizer que o psicanalista é um amigo de aluguel, e ele preferia gastar seu dinheirinho com os amigos do bar e da vida.
Faz algum tempo que não conversamos a esse respeito, embora continuemos a nos encontrar nos bares da vida.
Vou perguntar a ele o que pensa sobre ter um milhão de amigos, ou muito mais, seguindo e curtindo tudo o que ele disser e fizer.
E pagará por isso bem menos do que ao analista, ainda que a maioria desses milhares de amigos e seguidores possam ser fantasmas cibernéticos.
Serviços como Popular Fans, Social Jump, Big Follow, Twitter King oferecem esquemas e preços dos mais variados para você se tornar um fenômeno de popularidade no Facebook, You Tube ou Twitter.
Essa celebridade instantânea, com a compra de amigos, fãs e seguidores atrai muita gente, tanto simples mortais como agências de publicidade e políticos. Um empresário, presidente de ONG e postulante ao cargo de vereador em São Paulo pelo PSDB admite que comprou seguidores no Twitter para “se aproximar do eleitor”(?). Contratou um serviço VIP e sua conta saltou de 500 para mais de 44 mil seguidores em menos de seis meses! Um outro, comediante, pagou R$ 750,00 parcelados em 12 vezes e sua conta de 900 seguidores foi para quase 70 mil! Uma graça!!!
Há ainda a possibilidade de uma espécie de escambo ou troca-troca em que os usuários aceitam ou combinam seguir-se e curtir-se mutuamente, bem no espírito do que é dando que se recebe da oração franciscana.
Nada tenho contra a internet e as redes sociais. Muito pelo contrário. Difícil imaginar a vida hoje em dia sem elas. Graças à internet conheci nos últimos anos pessoas de grande afinidade comigo e que passaram a fazer parte do rol dos meus amigos mais queridos — poucos, mas verdadeiros — com os quais compartilho momentos muito especiais.
Tenho também alguns amigos que se foram, mas continuam a me presentear com sua presença permanente.
No passado, os reis costumavam manter por perto o bobo da corte, não apenas para diverti-los, mas também para que, com seus chistes, não os deixassem perder o senso da realidade.
Agora, o fenômeno dos falsos amigos virtuais vai no sentido inverso: ter uma multidão, ainda que irreal, para ser aplaudido, seguido e curtido o tempo todo.
Quem quer ser um milionário?
(Fonte: Folha de S. Paulo, caderno tec, f1 e f3, 26/6/2012, matéria de Fernanda Ezabella)