Posts from abril, 2013

Teodureto

 

        Annibal Augusto Gama

ANNBAL~1 

 

 

 

 

 

Teodureto quebrou um dedo, quando lhe desabou sobre a mão a janela de guilhotina. Saiu urrando de dor, e dançando pela casa. Foi ao médico, que lhe engessou o dedo e ficou dedo duro. Mas não era.

Quando conheceu Sofia, ela lhe perguntou, rindo:

— Teodureto não é nome de remédio?

Os remédios curam ou não curam. Alopatia, homeopatia, benzeções e garrafadas. Tosse? Tome Bromil.

O que não tem remédio, remediado está.

O remédio é amar, mas amar também dói.

Teodureto amou Sofia, mas fie-se em quem só fia.

Droga para perda de memória é fosfato. 

Vestido de fraque, Teodureto foi falar com o pai de Sofia 

— Peço-lhe autorização para namorar Sofia, noivar e casar.

O homem tinha muitos cuidados com a filha e lhe perguntou severamente:

— O senhor o que faz?

— Por enquanto, nada.

— Pois nade em mar crespo, e volte salgado.

Vendo o triste pastor que assim lhe era negada a sua pastora, começou de servir outros sete anos, dizendo, “mais servira se não fora para tão longo o amor tão curta a vida” 

Com o dinheiro que possuía, abriu uma farmácia, botando espetado na porta o marinheiro carregando um grande peixe, da Emulsão de Scott.

Remédio vai, remédio vem, ia fazer injeções nas bundas fofas das madamas, espetando-lhes a agulha e depois soprando.

Enquanto isso, Sofia ria.

Quinze anos depois, Teodureto estava gordo e calvo e, ao luar da noite, roía o queijo da Lua.

Não casou, e envelheceu.

E, ao invés de descobrir um remédio para lembrar, inventou outro, para esquecer.

No esquecimento, todas as Sofias andam de braços dados com as Briolanjas.

As mulheres são como maçãs nas gavetas: secam e murcham.

Lembrai-vos disso, meninas: o amor é para dar-se.

 

Emulsão de Scott