“Las Saison des Pluies” (Serge Gainsbourg), com Stacey Kent
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=iTkLvAuFZQ4[/youtube]
“Las Saison des Pluies” (Serge Gainsbourg), com Stacey Kent
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=iTkLvAuFZQ4[/youtube]
“Sonho Impossível” (J. Darion / M. Leigh — Versão Chico Buarque / Ruy Guerra),
com Paulo Autran, Maria Bethânia e Elvis Presley
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=hAsI4lhrlm4[/youtube]
Este fidalgo engenhoso
(e cavaleiro manhoso)
ostenta ultimamente
uma barbicha que mente
a sua vera idade
(que é a mesma deste confrade):
se a barba parece branca
a vida lhe segue franca.
SONETO ÉPICO
Brenno Augusto Spinelli Martins
Sexagenária sombra que me assombra,
embranquecendo a têmpora e o bigode,
fraquejando a têmpera do cipó de
uma árvore que, frágil, quase tomba.
Mas o sonho evanescente me acorda
e o céu me mostra uma estrela brilhante
chamando para a vida e, nesse instante,
meu coração do grande amor recorda.
Na fantasia de um engodo pélvico
ressurge o falso herói de glória pouca.
Como convém a um poema épico,
desembainho a espada e num só golpe
rompo os grilhões dessa masmorra louca
e fujo para o último galope.
SONETO SOLIDÁRIO DE ANIVERSÁRIO
Para o jovem ancião Brenno Augusto,
companheiro de jornada.
Passem os dias, que é só o que eles fazem,
findem utopias noutras que virão,
prossiga a vida assim sua viagem
que nenhum dia terá sido em vão.
Que as esperanças não se esmoreçam
e nem percam a ternura jamais,
que todas as noites nos amanheçam
com desejo de ser um pouco mais.
À medida que o cabelo embranquece
os fios de alegrias e desenganos
dessa aventura que a ventura tece,
somemos aquilo que foi perdido
para o balanço de ganhos e danos
multiplicar o que foi dividido.
“Alfama” (Ary dos Santos / Alain Oulman), com Pedro Moutinho e Mayra Andrade
[youtube]https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=S1c6nmRUdNI[/youtube]
Nuno Júdice
SONETO
Nuno Júdice
Lábios que encontram outros lábios
num meio de caminho, como peregrinos
interrompendo a devoção, nem pobres
nem sábios numa embriaguez sem vinho:
que silêncio os entontece quando
de súbito se tocam e, cegos ainda,
procuram a saída que o olhar esquece
num murmúrio de vagos segredos?
É de tarde, na melancolia turva
dos poentes, ouvindo um tocar de sinos
escorrer sob o azul dos céus quentes,
que essa imagem desce de agosto, ou
setembro, e se enrola sem desgosto
no chão obscuro desse amor que lembro.
“The best is yet to come” (Cy Coleman / Carolyn Leigh), com Laura Fygi
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=DiIGl-Yuw5A]
Adalberto de Oliveira Souza
ESCONDIDO
Se prestássemos realmente atenção,
se percebêssemos com atenção e certeza,
poderíamos nos despertar.
Seria um tremor de terra!
Seria um maremoto!
Tudo treme!
Tudo desmorona!
E cai.
E recai
sobre nós-mesmos.
Ninguém sabe
se é possível
escapar
dessa catástrofe.
Mas aparentemente
tudo está calmo,
mesmo se contudo
pode-se sentir
sutilmente
um odor ácido e
destrutivo.
Alguma coisa está podre.
CACHETTE
Si l`on faisait vraiment attention,
si l`on se rendait assurément compte,
on pourrait se secouer.
Ce serait un tremblement de terre!
Ce serait un raz-de-marée!
Tout bouge!
Tout s` écroule!
Et tombe!
Et ça tombe
sur nous- mêmes.
Personne ne sait
s`il est possible
d`échapper
à cette catastrophe.
Apparemment
tout est calme,
même si cependant,
on peut sentir
subtilement
une odeur acide et
destructive.
Quelque chose est pourrie.
Annibal Augusto Gama
Achei muito interessantes e úteis as “instruções para ler o livro”, que estavam nas primeiras páginas de uma obra do renomado Rolando Barates, e lembrei-me de que elas, mutatis mutandis (1), talvez pudessem ser aproveitadas por você, que há anos vem tentando ler o livro que está em sua mão esquerda (2). Vou, portanto, transcrever algumas das instruções:
Em primeiro lugar, abra o livro da direita para a esquerda, na folha de rosto (3). Este livro foi escrito em português e, portanto, deve ser lido da esquerda para a direita, o que não acontece com os livros escritos em árabe, ou em japonês. Vá lendo a primeira linha e, quando ela acabar, salte para a segunda, e assim sucessivamente.
Em segundo lugar, o que foi indicado (“salte para a segunda linha”), não impede que você salte da primeira para décima oitava linha, ou vire logo a página para outra, se você estiver com pressa, ou não lhe interessar a segunda linha nem as demais. Só faço uma observação: Como é que você vai saber que não lhe interessa a segunda linha ou as demais, se não as leu? Não interessa, pronto, e você está com pressa.
Em terceiro lugar, não engula muitas vírgulas. As vírgulas têm a tendência de ser enjoativas e, se você engolir todas, é certo que o seu estômago se embrulhará, e você terá de ir até a pia mais próxima, para as vomitar. Dispense também os pontos de exclamação e os de interrogação, pois alguns autores são muito admirativos e interrogativos, e você não é. As reticências, ou três pontos seguidos, são também dispensáveis, para quê esta mania de esbanjar pontos?
Em quarto lugar, se você encontrar parentes, ou parênteses, bote-os logo para fora, porque parente só os dentes, ou parente é serpente, como alerta aquele filme italiano.
Prossigo:
Se encontrar adjetivos, você que é jurista e sabe o que é “pacto adjeto”, e não ignora que o objeto é que leva a carga, dejete-os.
“Asteriscos” são sinais em forma de estrelas que remetem para baixo, para o rodapé, a explicação que o autor já devia ter dado antes e não deu. Se não deu antes, por que dar depois? Além disso, você não é barata para estar se enfiando nas frestas dos rodapés, nem astrônomo, para estar olhando o céu.
Todo livro traz, em cima de cada página par, o nome do autor e, em cima das páginas ímpares, o seu título. Ora, se o nome do autor já está na capa e no frontispício, por que o repetir centenas de vezes? Só se o autor for sujeito muito vaidoso, e está sempre com o próprio nome da boca. Se assim é, não merece a leitura do livro que escreveu (4).
No princípio do livro, você encontrará um índice, ou um sumário. O índice é aquele ovo que sempre se deixa no ninho da galinha, para que ela volte ali a botar outro ovo. Mas você, leitor, não é galinha nem bota ovo. Ou é, e bota? Aconselho-o a dispensar sumariamente o índice e o sumário.
Alguns livros trazem, ao fim, outro índice, denominado “índice onomástico”. Este sim, é útil, se você estiver à procura de um nome para dar ao seu filho recentemente nascido. Embora os nomes do tal índice onomástico sejam quase sempre estrangeiros, e não sirvam para você, que é brasileiro.
As páginas de iconografia ou de ilustrações (principalmente de mulheres peladas) são as melhores do livro. Detenha-se nelas atentamente.
No fim do livro você pode encontrar a palavra FIM. Arre! Você chegou até o fim, ainda que tenha saltado muitas páginas.
(1) “Mutatis mutandis” é latim, e significa “montado no mutango. – (2) Talvez você seja canhoto. Se não for, não importa, segure o livro com qualquer uma das mãos, a menos que você seja maneta. – (3) “Folha de rosto” é aquela folha que você encosta no rosto. – (4) “Que escreveu”, em termos. Há autores que são analfabetos, e alguém escreve por eles.
“Que maravilha!” (Toquinho / Jorge Ben Jor), com Vinicius, Toquinho e Maria Creusa
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=FiP6vv8_I00[/youtube]