“Estrela” (Gilberto Gil), com ele
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EXCESSO
Wisława Szymborska
Foi descoberta uma nova estrela
o que não significa que ficou mais claro
nem que chegou algo que faltava.
A estrela é grande e longínqua,
tão longínqua que é pequena,
menor até que outras
muito menores do que ela.
A estranheza não teria aqui nada de estranho
Se ao menos tivéssemos tempo para ela.
A idade da estrela, a massa da estrela, a posição da estrela,
tudo isso quiçá seja suficiente
para uma tese de doutorado
e uma modesta taça de vinho
nos círculos aproximados do céu:
o astrônomo, sua mulher, os parentes e os colegas,
ambiente informal, traje casual,
predominam na conversa os temas locais
e mastiga-se amendoim.
A estrela é extraordinária,
mas isso não é razão
para não beber à saúde das nossa senhoras
incomparavelmente mais próximas.
A estrela não tem consequência.
Não influi no clima, na moda, no resultado do jogo,
na mudança de governo, na renda e na crise de valores.
Não tem efeito na propaganda nem na indústria pesada.
Não tem reflexo no verniz da mesa de conferência.
Excedente em face dos dias contados da vida.
Pois o que há para perguntar,
sob quantas estrelas um homem nasce,
e sob quantas logo em seguida morre.
Nova.
— Ao menos me mostre onde ela está.
— Entre o contorno daquela nuvenzinha parda esgarçada
e aquele galhinho de acácia mais à esquerda.
— Ah — exclamo.
(tradução de Regina Przybycien)