“Viola enlurada” (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle), com Marcos Valle e Milton Nascimento
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“Viola enlurada” (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle), com Marcos Valle e Milton Nascimento
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Euclides Rossignoli
No próximo dia 31 de março estaremos meio século distantes do golpe que derrubou o governo do presidente João Goulart. Eu tinha 25 anos, morava em São Paulo e acabara de ingressar na universidade. Era membro do Partido Comunista Brasileiro, a mais importante organização de esquerda da época, que atuava na clandestinidade e era comandada pelo revolucionário histórico Luis Carlos Prestes.
O golpe inaugurou o período da ditadura militar, durante a qual as eleições foram abolidas e cinco generais se revezaram na presidência da República como ditadores. O agrupamento político de esquerda que hoje se encontra à frente dos destinos da Nação, liderado pelo PT, certamente produzirá um bom volume de atos e discursos para maldizer a data.
Será lembrado que o presidente João Goulart, eleito em eleição livre, foi deposto por um golpe de direita liderado pelos militares, porque pretendia fazer grandes reformas em benefício do povo e do País. Será dito que, uma vez expulso do governo o presidente legitimamente eleito, os militares instalaram uma ditadura que durou mais de 20 anos e que, entre outras coisas más, aprisionou lideranças populares, cassou mandatos de parlamentares e outros políticos, acabou com a eleição para a escolha do presidente da República e governadores de estados, interveio em sindicatos de trabalhadores, instituiu a censura à imprensa e às produções culturais, assim como perseguiu, torturou, matou e fez desaparecer pessoas que se dispuseram a lutar pela democracia.
Os mártires da ditadura serão lembrados e reverenciados. Os ditadores e seus seguidores serão amaldiçoados. A verdade histórica, porém, será relembrada e contada na porção e proporção dos interesses daqueles que hoje estão no poder. Isto significa que cederá generosos espaços ao engano e à propaganda. Por exemplo: todos os que sofreram e morreram por obra da ditadura terão sofrido e morrido em nome da sagrada causa da democracia, versão que não tem a evidência dos fatos.
Alguns pedaços dos acontecimentos serão naturalmente silenciados, quando não deturpados. Como governava o País o presidente João Goulart, especialmente no seu último ano de governo? Qual era o agrupamento político mais poderoso no âmbito das forças esquerdistas que apoiavam o presidente? Como se posicionavam as forças que apoiavam Goulart diante da divisão mundial entre o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco dos países ditos socialistas, governados pelos comunistas e liderados pela então União Soviética? Por que as forças de esquerda e o governo perderam apoio popular para a direita? Após o golpe militar, como se comportaram as forças mais radicais da esquerda? Na ditadura, as primeiras ações armadas contra os militares ocorreram antes ou depois do Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968? Qual era a ideologia dos grupos de esquerda que organizaram a luta armada contra a ditadura? Em que paises foram treinadas as lideranças das forças guerrilheiras que promoveram a luta armada?
As respostas da verdade histórica a essas perguntas não são cômodas para a esquerda bolivariana que hoje governa o País. Compreende-se que ela não se disponha a respondê-las. Ou pelo menos não se disponha a respondê-las com a sustentação dos fatos.
Em 1964, tanto as forças que apoiavam o governo como as forças que lhe faziam oposição não exibiam maior fervor pela democracia. Esquerda e direita travavam uma guerra de vida ou morte para ver quem eliminava o adversário, não para estabelecer um regime verdadeiramente democrático. Venceu a direita.
O partido em que eu militava, o PCB, o grande aliado de Goulart, tinha, como sempre teve, por objetivo chegar à ditadura do proletariado, não à democracia. A democracia era aceitável temporariamente, como meio, não como fim.
“Noites com sol” (Flávio Venturini / Ronaldo Bastos), com Flávio
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=NXnRluVxLWQ[/youtube]
Para Sinatra, uma das mais ternas canções jamais escritas. ‘Não há na letra um “I love you” sequer, mas o amor está todo lá’, comentou certa vez.
Adoro “Little Green Apples”. Música de 1968. Com ela, as descobertas, os primeiros versos… Verdes como as maçãs.
POEMILHA
Garrafas ao mar
Bilhetes em quilhas
e árvores, a estilete
Mapas, luas, estrelas
signos, mitos, sons
ideogramas, ritos
Em vão.
Apenas o eco e seus iguais
respondem ao meu coração.
Decifra-o se és capaz.
Do bauzinho da garota… Ousada, não? Drummond tremeu.
Uma das versões de “Little…” , na voz personalíssima de B.J. Thomas.
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“Metamorfose Ambulante” (Raul Seixas), com ele
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=9j5Jhpd1H98&hd=1[/youtube]
Adalberto de Oliveira Souza
METAMORFORSES
Muito escapa.
Muito é retido.
Pouco se livra.
Muito é restrito.
Muito subtrai-se.
Pouco é contido.
Pouco é detido.
Nada é refreado.
Tudo se esvai,
transformado
em novas formas
informes.
“O impossível” (Maria Martins)
LEMBRETE
Hoje, no Centro Cultural São Paulo
Rua Vergueiro, 1000, Sala Adoniran Barbosa, 19h30
Lançamento do livro de poemas “Corrosão”
Quando alguns começam a sentir nostalgia da ditadura militar e a organizar marchas a ré…
“Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
De repente olha eu de novo
Perturbando a paz, exigindo troco
Vamos por aí eu e meu cachorro
Olha um verso, olha o outro
Olha o velho, olha o moço chegando
Que medo você tem de nós, olha aí”
“Pesadelo” (Mauricío Tapajós / Paulo César Pinheiro), com MPB4
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=LePlhJolWas&hd=1[/youtube]
Annibal Augusto Gama
Havia cometido muitas tolices e acertado em algumas coisas, e posto lado a lado tudo o que fizera, estava empatado. Os dois pratos da balança equilibravam-se. Não fedia, nem cheirava.
Supunha que, nos anos que lhe restavam, devia fazer um grande gesto, uma façanha que melhorasse a vida de todos, que causasse admiração, para lhe dizerem: “Você é dos bons”.
Imaginava uma coisa ou outra, um empreendimento glorioso, uma obra magnífica, mas, mal começava a mexer-se, dava em nada. “Você está maluco”, opinavam, “deixe disso, se não quiser entrar numa enrascada e dar com os burros n´água”.
Ele não iria mudar o mundo, o mundo seria sempre como é, um desastre. Ninguém mais fazia milagres, nem mesmo os santos. Nem ele mesmo podia mudar-se, ser outro. O ramerrão dos dias, um depois do outro. Já não estava na idade das grandes paixões, de um amor violento. Todos estavam acomodados, e resignavam-se. Se ao menos inventasse um remédio contra a melancolia, contra a tristeza… Uma poção. O sujeito beberia umas colheradas dela e era um deslumbramento. Mas até nas farmácias muitas drogas ou remédios haviam sido recolhidos, não se podia comprar muitos deles sem receita médica. Se lia as bulas, os efeitos colaterais deles eram assustadores. “Consulte sempre um advogado”, recomendava a mensagem, no vidro traseiro dos carros. Os advogados, os juizes, os oficiais de gabinete, os prefeitos, os governadores, todos estavam perplexos. Já não falava dos deputados, dos senadores, uma corja.
Uma tarde, um cachorro vira-lata, numa esquina, veio cheirar-lhe a barra das calças, e acompanhou-o até a sua casa. Abriu o portão, e o cachorro, humilde, ficou olhando para ele, os olhos súplices, e abanando o rabo. Manteve o portão aberto e disse para o cachorro: “Entre”. Ele entrou. Foi botar-lhe um pouco de água fresca, numa vasilha e, noutra, trouxe-lhe um pouco de comida. O cachorro comeu e bebeu.
O vira-lata não mais o deixou, e este foi o gesto que o redimiu.
Adalberto de Oliveira Souza
Para você e todos de Estrela Binária: Brenno, Selma, Lúcia Dibo, André.O lançamento será no Centro Cultural São Paulo, Rua Vergueiro, 1000Sala Adoniran Barbosa, dia 25 de março, às 19:30hO nome do livro é “Corrosão”, Editora Lumme.Estendo o convite a todos os amigos de Estrela Binária.Até mais.