Posts from março, 2014

Como eram belas as canções…

 

 

 

“Viola enlurada” (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle), com Marcos Valle e Milton Nascimento

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=FdaZHAXJFkQ[/youtube]

 

 

 

Golpe e Ditadura

 

             Euclides Rossignoli

euclides rossignoli

 

 

 

 

 

 

 

No próximo dia 31 de março estaremos meio século distantes do golpe que derrubou o governo do presidente João Goulart. Eu tinha 25 anos, morava em São Paulo e acabara de ingressar na universidade. Era membro do Partido Comunista Brasileiro, a mais importante organização de esquerda da época, que atuava na clandestinidade e era comandada pelo revolucionário histórico Luis Carlos Prestes.

O golpe inaugurou o período da ditadura militar, durante a qual as eleições foram abolidas e cinco generais se revezaram na presidência da República como ditadores. O agrupamento político de esquerda que hoje se encontra à frente dos destinos da Nação, liderado pelo PT, certamente produzirá um bom volume de atos e discursos para maldizer a data.

Será lembrado que o presidente João Goulart, eleito em eleição livre, foi deposto por um golpe de direita liderado pelos militares, porque pretendia fazer grandes reformas em benefício do povo e do País. Será dito que, uma vez expulso do governo o presidente legitimamente eleito, os militares instalaram uma ditadura que durou mais de 20 anos e que, entre outras coisas más, aprisionou lideranças populares, cassou mandatos de parlamentares e outros políticos, acabou com a eleição para a escolha do presidente da República e governadores de estados, interveio em sindicatos de trabalhadores, instituiu a censura à imprensa e às produções culturais, assim como perseguiu, torturou, matou e fez desaparecer pessoas que se dispuseram a lutar pela democracia.

Os mártires da ditadura serão lembrados e reverenciados. Os ditadores e seus seguidores serão amaldiçoados. A verdade histórica, porém, será relembrada e contada na porção e proporção dos interesses daqueles que hoje estão no poder. Isto significa que cederá generosos espaços ao engano e à propaganda. Por exemplo: todos os que sofreram e morreram por obra da ditadura terão sofrido e morrido em nome da sagrada causa da democracia, versão que não tem a evidência dos fatos.

Alguns pedaços dos acontecimentos serão naturalmente silenciados, quando não deturpados. Como governava o País o presidente João Goulart, especialmente no seu último ano de governo? Qual era o agrupamento político mais poderoso no âmbito das forças esquerdistas que apoiavam o presidente? Como se posicionavam as forças que apoiavam Goulart diante da divisão mundial entre o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco dos países ditos socialistas, governados pelos comunistas e liderados pela então União Soviética? Por que as forças de esquerda e o governo perderam apoio popular para a direita? Após o golpe militar, como se comportaram as forças mais radicais da esquerda? Na ditadura, as primeiras ações armadas contra os militares ocorreram antes ou depois do Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968? Qual era a ideologia dos grupos de esquerda que organizaram a luta armada contra a ditadura? Em que paises foram treinadas as lideranças das forças guerrilheiras que promoveram a luta armada?

As respostas da verdade histórica a essas perguntas não são cômodas para a esquerda bolivariana que hoje governa o País. Compreende-se que ela não se disponha a respondê-las. Ou pelo menos não se disponha a respondê-las com a sustentação dos fatos.

Em 1964, tanto as forças que apoiavam o governo como as forças que lhe faziam oposição não exibiam maior fervor pela democracia. Esquerda e direita travavam uma guerra de vida ou morte para ver quem eliminava o adversário, não para estabelecer um regime verdadeiramente democrático. Venceu a direita.

O partido em que eu militava, o PCB, o grande aliado de Goulart, tinha, como sempre teve, por objetivo chegar à ditadura do proletariado, não à democracia. A democracia era aceitável temporariamente, como meio, não como fim.

 

 

 

Deixa o sol entrar

 

 

 

“Noites com sol” (Flávio Venturini / Ronaldo Bastos), com Flávio

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=NXnRluVxLWQ[/youtube]

 

 

 

Eclesiastes

 

 

                                                         ECLESIASTES

 

 

                                        “Não há nada de novo sob o sol”

 

                                        mas tudo é de novo sob o sol

                                        e o sol mesmo que o traz o dia

                                        não é o mesmo sol que se pôs

                                        ao fim do dia que antecedia

 

                                        sob o sol a poesia se recria

                                        e o poema é novo a cada dia

                                        diverso daquele que se fazia

                                        (ou lia) sob a lua da noite que jazia

 

 

Eclesiastes

 

 

 

 

De ternuras

 

 

Selma no Jardim de Luxemburgo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para Sinatra, uma das mais ternas canções jamais escritas. ‘Não há na letra um “I love you” sequer, mas o amor está todo lá’, comentou certa vez.

Adoro “Little Green Apples”. Música de 1968. Com ela, as descobertas, os primeiros versos… Verdes como as maçãs.

 

 

                                                 POEMILHA

 

                                                 Garrafas ao mar

                                                 Bilhetes em quilhas

                                                 e árvores, a estilete

 

                                                 Mapas, luas, estrelas

                                                 signos, mitos, sons

                                                 ideogramas, ritos

 

                                                 Em vão.

 

                                                 Apenas o eco e seus iguais

                                                 respondem ao meu coração.

 

                                                 Decifra-o se és capaz.

 

 

Do bauzinho da garota… Ousada, não? Drummond tremeu.

 

Uma das versões de “Little…” , na voz personalíssima de B.J. Thomas.

 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=avXntFPN0vc[/youtube]

 

 

 

Eu prefiro ser…

 

 

 

“Metamorfose Ambulante” (Raul Seixas), com ele

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=9j5Jhpd1H98&hd=1[/youtube]

 

 

 

Metamorfoses

 

      Adalberto de Oliveira Souza

Adalberto 2 (2)

 

 

 

 

 

 

 

                                               METAMORFORSES

 

 

                                               Muito escapa.

                                               Muito é retido.

 

                                               Pouco se livra.

                                               Muito é restrito.

 

                                               Muito subtrai-se.

                                               Pouco é contido.

 

                                               Pouco é detido.

                                               Nada é refreado.

 

                                               Tudo se esvai,

                                               transformado

 

                                               em novas formas

                                               informes.

 

O impossível (Maria Martins)

“O impossível” (Maria Martins)

 

 

LEMBRETE

Hoje, no Centro Cultural São Paulo

Rua Vergueiro, 1000, Sala Adoniran Barbosa, 19h30

Lançamento do livro de poemas “Corrosão”

 

 

 

Pesadelo

 

 

Quando alguns começam a sentir nostalgia da ditadura militar e a organizar marchas a ré…

 

“Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
De repente olha eu de novo
Perturbando a paz, exigindo troco
Vamos por aí eu e meu cachorro
Olha um verso, olha o outro
Olha o velho, olha o moço chegando
Que medo você tem de nós, olha aí”

 

“Pesadelo” (Mauricío Tapajós / Paulo César Pinheiro), com MPB4

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=LePlhJolWas&hd=1[/youtube]

 

 

 

 

O vira-lata

 

           Annibal Augusto Gama

Annibal

 

 

 

 

 

 

Havia cometido muitas tolices e acertado em algumas coisas, e posto lado a lado tudo o que fizera, estava empatado. Os dois pratos da balança equilibravam-se. Não fedia, nem cheirava. 

Supunha que, nos anos que lhe restavam, devia fazer um grande gesto, uma façanha que melhorasse a vida de todos, que causasse admiração, para lhe dizerem: “Você é dos bons”.

Imaginava uma coisa ou outra, um empreendimento glorioso, uma obra magnífica, mas, mal começava a mexer-se, dava em nada. “Você está maluco”, opinavam, “deixe disso, se não quiser entrar numa enrascada e dar com os burros n´água”.

Ele não iria mudar o mundo, o mundo seria sempre como é, um desastre. Ninguém mais fazia milagres, nem mesmo os santos. Nem ele mesmo podia mudar-se, ser outro. O ramerrão dos dias, um depois do outro. Já não estava na idade das grandes paixões, de um amor violento. Todos estavam acomodados, e resignavam-se. Se ao menos inventasse um remédio contra a melancolia, contra a tristeza… Uma poção. O sujeito beberia umas colheradas dela e era um deslumbramento. Mas até nas farmácias muitas drogas ou remédios haviam sido recolhidos, não se podia comprar muitos deles sem receita médica. Se lia as bulas, os efeitos colaterais deles eram assustadores. “Consulte sempre um advogado”, recomendava a mensagem, no vidro traseiro dos carros. Os advogados, os juizes, os oficiais de gabinete, os prefeitos, os governadores, todos estavam perplexos. Já não falava dos deputados, dos senadores, uma corja.

Uma tarde, um cachorro vira-lata, numa esquina, veio cheirar-lhe a barra das calças, e acompanhou-o até a sua casa. Abriu o portão, e o cachorro, humilde, ficou olhando para ele, os olhos súplices, e abanando o rabo. Manteve o portão aberto e disse para o cachorro: “Entre”. Ele entrou. Foi botar-lhe um pouco de água fresca, numa vasilha e, noutra, trouxe-lhe um pouco de comida. O cachorro comeu e bebeu.

O vira-lata não mais o deixou, e este foi o gesto que o redimiu.

 

vira-lata 

 

 

 

Convite do Poeta

 

      Adalberto de Oliveira Souza

Adalberto 2 (2)

 

 

 

 

 

 

 

Para você e todos de Estrela Binária: Brenno, Selma, Lúcia Dibo, André.
O lançamento será no Centro Cultural São Paulo, Rua Vergueiro, 1000
Sala Adoniran Barbosa, dia 25 de março, às 19:30h
O nome do livro é “Corrosão”, Editora Lumme.
Estendo o convite a todos os amigos de Estrela Binária.
Até mais.
 
 
 
 
 
corrosão