Posts from junho, 2014

Sortilégio

 

universo paralelo-infinito

 

                                                  SORTILÉGIO

 

 

                                                  Como as estrelas,

                                                  que ao vê-las

                                                  já não são,

                                                  a semente e o fruto

 

                                                  a paixão e o luto

                                                  o dito e o desdito

                                                  a prisão e a janela

                                                  a nascente e a foz

 

                                                  os outros e nós

                                                  a calma e a procela

                                                  a praga e a prece

 

                                                  o quanto acontece

                                                  já se findou

                                                  e sequer começou.

 

 

 

 

 

Bewitched

 

 

 

“Bewitched, Bothered and Bewildered” (Lorenz Hart / Richard Rodgers), com Laura Fygi

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=6ZBg-WXtvDE[/youtube]

 

 

 

 

As bruxas

 

                Annibal Augusto Gama

Annibal

 

 

 

 

 

 

 

O filme em que Kim Novak está mais bela, belíssima, é “Sortilégio do Amor”. Nele, há bruxas, bruxedos e bruxarias. E ela é uma bruxa muito poderosa, que faz os seus bruxedos com um gato. E ficamos sabendo que as bruxas não coram, nem choram. Quando amam, perdem as suas bruxarias. Porque o amor é a maior bruxaria, e a definitiva.

Nos meus anos de adolescente, conheci uma mocinha, que era uma bruxa, e ligeiramente estrábica, o que a tornava mais encantadora e perigosa. Uns dez ou doze anos depois, ela apaixonou-se, casou, engordou e virou uma matrona. Então, quando entrava numa casa, as tábuas do soalho rangiam. Ela que havia sido alípede e não andava, mas esvoaçava.

A vida desfaz as bruxarias. Ou por outra, faz bruxarias desastradas.

Aqui, na minha casa, costumam entrar aquelas borboletas noturnas, chamadas bruxas. Diferentemente das borboletas diurnas, as noturnas pousam de asas abertas. Pego-as delicadamente e vou colocá-las em lugares altos, para que alguém não pise nelas.

Machado de Assis tem aquelas páginas extraordinárias da borboleta preta, em Brás Cubas. Este, para espantá-la, com uma toalha, acaba matando-a, e depois pergunta, com remorso: “Mas também, por que não era azul?”

Geralmente, os homens são tolos. As bruxas têm as cores que quiserem, nós é que não as vemos.

Só quando realmente amamos é que vemos todas as cores. E tudo pode ser azul.

Há aquela estória do tintureiro japonês, para quem um freguês foi levar um terno branco, para lavar. Naquele tempo, a expressão “tudo azul”, significava “tudo bem”. O sujeito deixou o terno com o japonês e perguntou-lhe: “Tudo azul?” E o tintureiro japonês respondeu-lhe: “Tudo azul”. No dia seguinte, foi ele buscar o terno, e o japonês havia-o tingido de azul.

Tinja também a sua vida de azul, leitor.

 

Kim Novak