“Oração ao Tempo” (Caetano Veloso), com Maria Gadú
“Oração ao Tempo” (Caetano Veloso), com Maria Gadú
PASSANDO O TEMPO
Amanhece,
gritos ao longe,
meras farras
costumeiras,
brigas,
intrigas?
Intrigante
começa o dia
costumeiro
e tudo parece
mais perto.
Exasperamos.
Consequentemente,
mais tarde
vai caindo a noite,
algumas coisas
se repetem,
ainda assim.
Suspeito, no entanto,
de uma novidade.
Adalberto de Oliveira Souza
“Mil perdões” (Chico Buarque), com Gal Costa
Viver é para dentro ou para fora?
A vida é maneio useiro e vezeiro
ao anseio do tempo, à baila das sensações.
Viver é de dentro para fora
como o pássaro do relógio se recolhe
enquanto não é dada a hora.
Obstinada lapidaria do nada
para alguma coisa se tornar algures
no adentro que aflora.
“Janelas abertas” (Tom Jobim / Vinicius de Moraes), com Gal Costa
Selma Barcellos
“Cada um de nós morre um pouco quando alguém, na distância e no tempo, rasga alguma carta nossa, e não tem esse gesto de deixá-la em algum canto, essa carta que perdeu todo o sentido, mas que foi um instante de ternura, de tristeza, de desejo, de amizade, de vida – essa carta que não diz mais nada e apenas tem força ainda para dar uma pequena e absurda pena de rasgá-la.”
(Rubem Braga)
Certas cartas, não adianta rasgar. Permanecem inteiras em nós. Aliás, não rasgo nem as que não recebi ou escrevi…
Nas fotos, Jane Renouardt, Valentino, Gene Tierney e Camus. Em suas expressões, vida.
“Mensagem” ( Aldo Cabral / Cícero Nunes), com Maria Bethânia (e os poemas de Pessoa)
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Não a carta de amor
ridícula
nem a carta de adeus
suicida.
Não a carta paterna
saudosa
nem a carta de pêsames
dolorosa.
Não a carta comercial
publicitária
nem a carta panfleto
revolucionária.
Não a carta charada
enigmática
nem a carta contrato
sinalagmática.
Não a carta de ocasião
sociável
nem a carta padrão
descartável.
Mas a carta nunca escrita
e jamais recebida
insubstancial e expectante
num escaninho da posta-restante.
“Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade”
“Wave” (Tom Jobim), com Daniel Jobim e Luiza Jobim
Sem essa, Aranha!
Como bem disse pai Felipão ─ o mago da estratégia chutão pro mato que o jogo é de campeonato ─ você fez a torcida do Grêmio perder a cabeça.
Você queria fazer cera, também bem disseram os advogados e diretores do Grêmio.
Já o árbitro disse que não viu nem ouviu nada!
Até o Rei Pelé disse que você exagerou. Ela aguentava tudo quietinho, como um bom neguinho, que sabia o seu lugar. Quanto mais se fala em racismo, pior é! Nós não somos um povo racista! Tadinha da moça que foi flagrada te xingando! Ela mesma disse que não é racista e te pediu desculpas!
Já melhorou muito. Antes os negros tinham de passar pó de arroz pra jogar nos times dos brancos…
Você ficou indignado só porque te chamaram de “macaco” e “preto fedido”? Doeu? Parou o jogo para reclamar?
Então ontem a valorosa torcida do imortal Grêmio passou a te chamar de “Branca de Neve” e de “viado”. E a te vaiar desde o aquecimento até o final do jogo. Isso é do jogo! Tá reclamando de quê?
O solerte repórter do SporTV, que te viu e perseguiu o tempo todo, quis saber o que havia de diferente na vaia, quando você disse que estava triste com ela.
Esse papo já tá qualquer coisa…
LUGAR-COMUM
Dizem-me para fugir do lugar-comum,
mas nada tenho de original
e vivo só, se vivo estou,
daquele mesmo amor
lugar-comum que você deixou.
Lugares-comuns que foram nossos,
a mesma praça, a mesma rua,
a mesma chuva, a mesma lua,
a mesma canção dos bares de então,
aquele da fotografia onde você
bem que me disse que amar é tolice,
que sou desafinado e saio do tom.
Lugar-comum é o meu dom,
o barquinho vai, a saudade vem,
e eu aqui neste mesmo lugar
a me perguntar onde anda você
por toda a minha vida.
“Neste mesmo lugar” (Armando Cavalcanti / Klecius Caldas), com Elis Regina
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=TQ0COetZLkg[/youtube]