“Modinha” (Tom Jobim / Vinicius de Moraes), com Robertá Sá e Yamandu Costa
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=i0I2jN0pGRY[/youtube]
“Modinha” (Tom Jobim / Vinicius de Moraes), com Robertá Sá e Yamandu Costa
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Annibal Augusto Gama
Se Brás Cubas pretendeu inventar e fabricar um emplasto contra a hipocondria e a melancolia, creio que uma droga mais benfazeja, em pílulas, em xarope, ou em pó, deveria ser fabricada contra o tédio. Acho que esta flor amarela do tédio, com o seu odor putrecente, é que está definhando a humanidade e acabará por nos sepultar a todos.
Vamos para um lugar e para outro, e é sempre a mesma coisa, sempre o mesmo aborrecido contorno, que faz muitos de nós nos afogarmos no álcool, ou nos afogarmos propriamente dito. Vai ano, entra ano, são as mesmas comemorações de nada. Já não nos surpreendemos com as matanças, a ladroeira, a corrupção, a miséria, a fome, e as mesmas doenças.
Tão aborrecida se tornou a existência, que aquele Major inglês, referido por Monteiro Lobato, suicidou-se, cansado de desabotoar e abotoar a farda todos os dias.
Não há publicidade (e ela se produz às toneladas) que nos convença de que esta ou aquela cidade é a melhor que existe, e de que vivemos no melhor dos mundos. Você viaja para Londres, para Paris, para Viena, para Nova Iorque, para Amsterdã, ou para São Bento do Sapucaí, e tudo é a mesmíssima coisa.
Os jornais publicam semanalmente um suplemento de turismo, há uma agência de viagens em cada esquina, mas você vai ou fica, para continuar enfadado. Aqui, no Brasil, então, tudo é repetitivo: os mesmos canalhas, os mesmos bandidos repetem-se nas instituições, e suas caras estão nos canais de televisão e nas revistas, todas as horas. Já não há nem mesmo anedotas novas. Padronizou-se a burrice, nesta aldeia global, e não há como escapar. Homens e mulheres vestem a mesma roupa. Já não há nenhuma idéia nova.
“Sobre a minh´alma, como sobre um trono,
Senhor brutal, pesa o aborrecimento.
Como tardas em vir, último outono,
Lançar-me as folhas ao vento!”
É o que diz Olavo Bilac, no soneto “Tédio”. E é o mesmo “spleen” de Baudelaire, em quatro poemas:
“Quand le ciel bas et lourde pèse comme un couvercle
Sur l´esprit gémissant en proie aux longs ennuis,
Et que de l´horizon embrassant tout le cercle
Il nous verse un jour noir plus triste que les nuits.”
Urge um remédio contra o tédio. Será a obra de caridade maior que se pode fazer a todos nós.
Enquanto ele não aparece, vamos desvivendo.