Annibal Augusto Gama
Que diabo de língua é esta, em que “retreta” significa “formatura de soldados ao fim do dia para se verificar se todos estão presentes”, “criada de serviço particular da rainha”, “concerto popular de uma banda de música em praça pública” e “latrina”?
Dirão que em todos os idiomas é a mesma coisa, que um vocábulo pode significar muitas coisas, diversas umas das outras, e até contraditórias. E é verdade.
No entanto, os dicionários têm duzentas, trezentas mil palavras. Certo é, porém, que não usamos senão umas seiscentas palavras para nossa comunicação cotidiana, e olhe lá. Há variações, como quando dizemos para uma mulher: “Eu te amo”, “eu te adoro”, “eu te quero”, “sou capaz da matar por você”, conforme o grau da paixão ou da mentira. À minha amada eu vou buscar a Lua, e ponho as estrelas no seu colo.
E ainda há aqueles que inventam palavras, os neologismos, e outros que vão buscar as mais arcaicas palavras, ou usam da gíria, como se usava “o tufo do mufurufo”.
Não bastasse isso, enxertamos palavras e expressões francesas, inglesas, italianas, espanholas, em nossos textos e em nossos diálogos. E nem me refiro ao latim, com os seus conceitos lapidares.
No entanto, no entanto, estamos, de uns setenta anos para cá, diante das gerações sem palavras, em que um cara diz para outro: “Ô bicho, me dá essa coisa aí para fazer uma coisa”.
A perversão da língua e da linguagem, nos canais de televisão, no comércio, na publicidade, é também uma realidade. Ou o estropiamento da pronúncia das palavras e os pontapés na gramática.
Vai ainda que, cada profissão tem o seu vocabulário próprio. Escutem uma conversa entre dois médicos, ou entre dois advogados.
O idioma universal, artificialmente criado, como o esperanto, ou o volapute, foi um ideal que malogrou.
Achamo-nos no pleno reinado da Torre de Babel.
Não é difícil, com isto tudo, verificar que estamos constantemente enganados, fraudados, furtados, principalmente pelos políticos e pelos economistas.
Há ainda uma linguagem supostamente técnica, para nos confundir
O meio não é a mensagem, é a massagem e o ruído.
E que se falar da linguagem dos gestos, da chamada linguagem corporal, dos sinais, dos símbolos?
Que é que eu hei de te dizer, minha amada? Deito a cabeça no teu colo e te contemplo em silêncio.