http://www.youtube.com/watch?v=wjsr271XDT0
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Foto de Bell Gama
Ontem, por mera coincidência, toca-me pegar Manuela na escola, sem atinar que era “Dia do Idoso”, mesmo porque isso nada tem a ver comigo.
Quando me aproximo da sala do “Grupo 3”, ela vem ao meu encontro, saltitante e festiva, proclamando aos quatro ventos:
— Babu é idoso, Babu é idoso, Babu é idoso…
E assim continua, saracoteando à minha frente, pelos corredores e pelo pátio até o portão de saída, ao embalo dos risos das professoras, da diretora, dos funcionários da escola, de mães e pais de outros alunos, do porteiro, do pipoqueiro, do sorveteiro e de quem mais por lá estava.
Já na rua, enquanto caminhamos até meu carro, depois de alguns protestos débeis e infrutíferos (“Não sou idoso, sou um menino antigo”; “Idoso é a vó!”), endureço o jogo:
— Se eu sou idoso então vou morrer logo.
— Não Babu, você vai viver mil anos! Vai buscar minha filha na escola, comprar pipoca e sorvete para ela.
— Vou sim.
— E sabe o que minha filha vai dizer pra você?
— O quê?
— Babu é idoso, Babu é idoso, Babu é idoso…
Mais tarde, a mãe passa em casa para pegá-la e, como de hábito, levo-a no colo para o carro, trocando abraços e beijinhos.
Ao descermos as escadas da varanda, ela vê a lua crescente que desponta entrecoberta pelas nuvens:
— Olha, Babu, a lua está acendendo!
Mas é nos meus braços que a lua loura cresce e acende a vida.