Semana passada recebi do meu velho amigo e parceiro Brenno três preciosidades. O livro “Noel Rosa, Poeta da Vila, Cronista do Brasil”, de Luiz Ricardo Leitão (Editora Expressão Popular), que era dele e me repassou, aproveitando o seu nome que já havia escrito na folha de rosto para fazer a seguinte dedicatória: “Esse livro era do Brenno, agora é do Gama, com muito amor e amizade.” (garantiu-me que vai encomendar outro exemplar em substituição, caso contrário não aceitaria). Brindou-me, ainda, com dois CDs que ele mesmo confeccionou, um com canções de Adoniran, e outro com canções de Chico Buarque.
Desde os tempos imemoriais das fitas cassete, Brenno demonstra um talento incomum para produzir ou reproduzir essas gravações compondo uma miscelânea adorável, com surpresas e delícias a cada faixa, que garimpa laboriosamente.
Algumas canções são como certas mulheres de plácida beleza, que sabem disso e por isso não têm pressa.
Guardam sua beleza serena e aguardam, até que um dia, ao dobrar uma esquina, entrar num salão, caminhando pela praia, nos iluminam o dia e nos descortinam a vida contida.
Ao ouvir o CD do Chico, deparo-me quase ao final com uma dessas canções, de um “tempo da delicadeza”, que “pode esperar em silêncio / num fundo de armário / na posta-restante / milênios, milênios / no ar” (Todo o sentimento e Futuros amantes também estão no CD) até nos tocar e encantar com sua indelével ternura.
Foi o que fez comigo “Cadê você? (Leila XIV)”, de Chico e do extraordinário João Donato (aliás, a sutileza da melodia é típica de Donato), que há muito não ouvia nem lembrava e, ao escutar o CD no automóvel, “de repente, não mais que de repente”, atravessa-me com seu singelo encanto.
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Pô, cara! Não precisava um “obrigado” tão “muito”. Foi maior o “obrigado” do que o “de nada”. Porque é do nada ou do quase nada que são feitos os muitos e os tudos. E você fez uma coisinha de nada se transformar em obra. Eu é que agradeço esse enfático e exagerado agradecimento. E a música é, mesmo, como uma mulher de beleza plácida que passa sem pressa… ou como uma menina descalça com ar displicente que passa sorrindo e nem liga pra gente.
Uma bela homenagem, uma grande amizade!
Um feliz natal com muita paz e harmonia.
“Num meio dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia
Vi Jesus Cristo descer à terra,
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.”
fernando pessoa
forte abraço do leitor amigo,
C@urosa