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“su cuerpo dejará no su cuidado;
serán ceniza, mas tendrá sentido;
polvo serán, mas polvo enamorado.”
(Francisco de Quevedo, Amor constante más allá de la muerte)
“seu corpo deixará, mas não seu cuidado;
será tudo cinza, mas terá sentido;
será pó, mas pó apaixonado.”
(versão pessoal)
Permanece, todavia, o fato de que, precedidos ou sucedidos, esquecidos ou lembrados, morremos sós e, radicalmente, morremos para nós sozinhos. Talvez não morramos de todo para o passado, mas certamente morremos para o futuro. Talvez sejamos lembrados, mas nós mesmos já não lembraremos. Talvez morramos sabendo todas as coisas do mundo, mas, de agora em diante, nós mesmos seremos uma coisa. Vimos e fomos vistos pelo mundo. Agora o mundo continuará sendo visto, mas nós nos teremos tornado invisíveis. Pontuais ou impontuais, vivemos de acordo com os horários da vida. Mas a morte é o tempo sem horas. Terei mais glória do que a de imaginar que minha morte é única, só para mim, poltrona preferencial no grande teatro da eternidade?
Com o seu livro de ensaios, Este é meu credo, pequeno dicionário da vida, no qual ele discorre em verbetes do A ao Z sobre temas que lhe são caros, lembro-me de Carlos Fuentes, que se foi sentar na poltrona preferencial no grande teatro da eternidade.
Desse mesmo livro, e do mesmo verbete sobre a morte, extraio a sua ressurreição pela palavra:
Na verdade, o espírito está se anunciando em cada palavra que pronunciamos. Não há palavra que não esteja carregada de esquecimentos e lembranças, tingida de ilusões e fracassos. Entretanto, não há palavra que não vença a morte porque não há palavra que não seja portadora de uma renovação iminente. A palavra luta contra a morte porque é inseparável da morte, ela a furta, ela a anuncia, ela a herda… Não há palavra que não seja portadora de uma ressurreição iminente. Cada palavra que dizemos anuncia, simultaneamente, outra palavra que desconhecemos porque a esquecemos e uma palavra que desconhecemos porque a desejamos. O mesmo acontece com os corpos, que são matéria. Toda matéria contém a aura do que antes foi e a aura do que será quando desaparecer. Vivemos, por isso, uma época que é a nossa, mas somos o espectro de outra época passada e o anúncio de uma época futura. Não nos desprendamos dessas promessas da morte.
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Preciosos excertos de uma obra profícua. Bela homenagem, Antonio.
Gosto igualmente do verbete AMISTAD:
“Lo que no tenemos lo encontramos en un amigo.” Como Fuentes, “creo en este obsequio y lo cultivo desde la infancia.”
Beijocas!
A morte é um assunto que me perturba bastante. Pior sabendo que ela tem ótima memória e nunca se esquece de ninguém. Bjs
A morte de Fuente e de outros me remete à uma coisa que me deixa reflexivo. Por que o ideário dos vivos não são cultuados como são após sua morte?. Fuentes apesar de ser um dos maiores da literatura mundial vivia esquecido nas estantes das livrarias. Agora, alguns curiosos correm a procurá-lo.. que fenômeno estranho.!!!
Fuentes um revolucionário, esquerdista, dono um saber invejável. Fuentes não morreu ainda está se reencarnando…Que pena que sua biogafia sobreo herói zapata não tenha se concretizado.
gama esse seu blog é um barato!!!!!!!!!!!!!