Embora sempre tenha gostado muito de todos os esportes, comecei a me interessar pelo golfe já na idade madura, mais precisamente quando surgia o fenômeno Tiger Woods. Passei a acompanhar algumas transmissões da ESPN dos torneios mais importantes de que Tiger participava e aos poucos apreendi as regras básicas, o suficiente para me permitir saber o que estava acontecendo durante os jogos.
A Carol me gozava em razão disso, dizendo que passar a gostar de golfe, dispor-me a assisti-lo pela televisão e ainda achar que se tratava de esporte era um dos meus primeiros sinais de velhice.
Dizem que o golfe é um esporte elitista e chato. Não é verdade. Ou melhor, pode ser elitista no Brasil, onde não existem campos públicos em que todos possam praticar e ter aulas. Um conjunto básico de tacos para iniciante (que não precisa ser novo) ainda é caro para a realidade brasileira, mas não custa muito mais do que uma boa raquete de tênis.
Quanto à suposta chatice, dizem os que o jogam que as grandes dificuldades técnicas dos diversos golpes, a necessidade de praticar sempre para superar a si mesmo, a possibilidade de um jogador medíocre enfrentar um bem melhor em condições de relativa igualdade, graças ao sistema de handicap, tornam as partidas divertidíssimas, sem falar das maravilhas dos campos, da paisagem, das longas caminhadas que propiciam (e os mais idosos podem se locomover com os carrinhos elétricos).
Embora tenha pensado nisso várias vezes, ainda não me iniciei no aprendizado do golfe, e talvez jamais o faça, mas acompanhar um torneio em que os grandes nomes estão presentes, em especial o Tiger Woods, continua a me agradar muito. Ele tem uma técnica refinadíssima, joga com grande elegância, é capaz de tacadas inacreditáveis, de sair de grandes dificuldades e se recuperar de uma má jogada ou de um mau dia, de manter a frieza e o controle até o final do match, enfim tem todas as virtudes de um grande campeão. Bateu inúmeros recordes de um esporte obcecado pelas estatísticas.
Os valores estratosféricos dos prêmios e patrocínios que abiscoitou durante a carreira, a sua própria figura, misto de negro e asiático, guindaram-no à condição de grande atração e do esportista que mais faturou nos últimos anos.
Eis que o grande campeão, que se casou com uma sueca belíssima e com ela teve dois filhos, passando a imagem pública também de um chefe de família exemplar, numa tacada infeliz manda a sua bola para o banco de areia, e nele fica entalado.
A bem dizer, teriam sido várias tacadas, em que o golfista não se contentando com o hole in one de casa, foi embocar (ou putiar, como se diz no golfe) em outros.
A velha hipocrisia anglo-saxônica logo se manifestou e o transformou de herói em vilão. Perdeu patrocinadores e se viu obrigado a se afastar temporariamente do esporte, para se penitenciar dos seus erros e tentar salvar o casamento. Aliás, a loura sueca, que lhe enfiou um taco na testa, ganhará milhões e milhões de dólares quando mais permaneça casada com ele, segundo o acordo pré-nupcial.
O que sempre me incomoda em tais episódios é saber o que possa interessar a intimidade do grande campeão, e o que isso o desmereça como um dos maiores, se não o maior, jogador de todos os tempos. Essa curiosidade mórbida, a exploração pelos tablóides, pelas revistas de fofocas e até por outros veículos da mídia que se pretendem sérios é o que há de pior e de mais repugnante na nossa sociedade de massa.
Não me meto na vida de casal algum, nem nas aventuras extraconjugais de quem quer que seja. A mim me interessa a obra do escritor, do pintor, do compositor ou do esportista. Os incidentes e percalços da sua vida podem mais tarde servir para interpretar e compreender a sua obra, mas não para a julgar.
Sem pretender justificar a conduta de Tiger Woods ou de qualquer outro homem infiel — e assumindo o risco de ser incompreendido pelas feministas — constato apenas que nessas coisas os homens são mais irracionais do que as mulheres, e que são capazes de grandes estupidezas quando lhes abrasa o desejo entre as pernas. E nem sempre, como Ulisses e sua tripulação, conseguem tapar os ouvidos com cera e se amarrar ao mastro do navio, para não se entregarem ao canto das sereias.
Nas mulheres o desejo é mais refinado, mais inteligente, nasce da cabeça para baixo, — e não no sentido inverso, como aos homens — o que as fazem quase sempre capazes de medir as consequências e de não se esquecer do dia seguinte.
Espero apenas que Tiger Woods possa sair logo do banco de areia em que se meteu.
Depois do golfe, só restam a bocha e o criquete.
Estou pensando seriamente em ambos. E depois, será a vez dos jogos de salão: gamão (para honrar o nome de família), torrinha, dominó, palitinho…
Ainda tenho uma grande carreira pela frente!
Belo post. É exatamente o que penso.
Aproveito para desejar um Natal de harmonia e paz,
certa de que em 2010 você já ganhou o presente de
ser avô. Alegria e sorte, primo querido. Abração,
Rosângela
Possível explicação de Mr.Woods para o incidente: “Passo a vida mirando buracos, o que mais eu poderia fazer?” (rsrs – Pelo menos tentar mirar apenas os buracos certos, Sr.Woods!…)
Como adoro filmes de investigação policial, a única lembrança que me vem à mente em relação ao golfe são os muitos homicídios em que a “arma” é um taco de golfe. É morte na certa; nunca vi uma vítima escapar com vida de tão letal arma.
Sorte de Mr.Woods que a mulher ganha por tempo de convivência, senão… o grande mestre do golfe estaria sujeito a experimentar o quão certeira é a mira de sua esposa.