“Alfama” (Ary dos Santos / Alain Oulman), com Pedro Moutinho e Mayra Andrade
[youtube]https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=S1c6nmRUdNI[/youtube]
“Alfama” (Ary dos Santos / Alain Oulman), com Pedro Moutinho e Mayra Andrade
[youtube]https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=S1c6nmRUdNI[/youtube]
Nuno Júdice
SONETO
Nuno Júdice
Lábios que encontram outros lábios
num meio de caminho, como peregrinos
interrompendo a devoção, nem pobres
nem sábios numa embriaguez sem vinho:
que silêncio os entontece quando
de súbito se tocam e, cegos ainda,
procuram a saída que o olhar esquece
num murmúrio de vagos segredos?
É de tarde, na melancolia turva
dos poentes, ouvindo um tocar de sinos
escorrer sob o azul dos céus quentes,
que essa imagem desce de agosto, ou
setembro, e se enrola sem desgosto
no chão obscuro desse amor que lembro.
“The best is yet to come” (Cy Coleman / Carolyn Leigh), com Laura Fygi
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=DiIGl-Yuw5A]
“Que maravilha!” (Toquinho / Jorge Ben Jor), com Vinicius, Toquinho e Maria Creusa
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=FiP6vv8_I00[/youtube]
“São demais os perigos desta vida” (Soneto do Corifeu), Vinicius de Moraes e Toquinho
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=6DPl-hh1GzI[/youtube]
O POETA E A LUA
Vinicius de Moraes
Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua.
Entre as esferas nitentes
Tremeluzem pêlos fulvos
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua
O poeta todo se lava
De palidez e doçura.
Ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua.
O poeta afaga-lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num delírio de volúpia.
O gozo aumenta de súbito
Em frêmitos que perduram
A lua vira o outro quarto
E fica de frente, nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perspassa
Um salso cheiro de lua
E a lua, no êxtase, cresce
Se dilata e alteia e estua
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Depois a lua adormece
E míngua e se apazigua…
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciúmes.
“Pecado Capital” (Paulinho da Viola), com ele
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=C32E7kIcFWM[/youtube]
Som de batimentos cardíacos, que pouco a pouco começam a falhar.
Um homem grisalho caminha trôpego por uma planície enregelada e plúmbea, no limite da exaustão (participa de uma maratona ou outra prova de resistência?).
Ajoelha-se arfante, refletindo gravemente: “Ah… Eu devia ter ido mais ao shopping!”
Outro homem, ainda jovem, prostrado ao chão sob a chuva, enquanto se aproximam a maca e os paramédicos, lastima: “Bem agora que eu ganhei um aumento…”
Na sala ampla e vazia, a senhora presa às recordações e à cadeira de rodas contempla uma sapatilha de balé que tem nas mãos e medita: “Podia ter feito um closet maior!”
A mulher de trinta e poucos, no elevador, deixa cair a bolsa e desfalece lentamente, recriminando-se: “Por que não eu comprei mais sapatos?”
No leito de morte, velado por familiares e pelo cachorro, o velho faz a contrição: “Eu devia ter passado mais tempo no escritório!”
É o sublime comercial de um banco, que em seguida nos adverte e cobra (os bancos são bons disso): “Em que momento vamos parar de pensar tanto em dinheiro?”
E, finalmente, nos conforta: “O importante não é ter mais dinheiro, é saber o que ele pode fazer por você”.
Deixemos, pois, nosso suado dinheirinho com eles que, muito melhor do que nós, saberão o que fazer.
Ao assistir a um comercial como esse e lembrar daqueles ferrabrases quebrando vidraças de agências bancárias, Brecht ressoa mais atual do que nunca: “O que é roubar um banco comparado a fundar um?”
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=y0pnSuF-SlY[/youtube]
“Fascinação” (Marchetti / Feraudy, versão Armando Louzada), com Elis Regina
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=zmP_9UoqTMI[/youtube]
Adalberto de Oliveira Souza
LOISIR
Si par hasard tu entends
un bruit dans le grenier
pour de bon
ne bouge pas.
Peut-être,
c’est un peu de toi
qui se plaint d’un rejet.
Peut-être,
c’est un rat, un larron,
un crapaud.
Si ce n’est rien,
dors traquillement,
rêve des anges.
ÓCIO
Se você ouvir
um ruído no sótão,
de forma alguma se mova.
Talvez seja
um pouco de você
reclamando da rejeição.
Talvez rato larápio
sapo.
Se não for nada disso,
durma em paz.
Se não conseguir
imagine bons sonhos.