“Body and Soul” (Edward Heyman , Robert Sour , Frank Eyton , John W. Green), com Tony Bennett e Amy Winehouse
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=_OFMkCeP6ok[/youtube]
“Body and Soul” (Edward Heyman , Robert Sour , Frank Eyton , John W. Green), com Tony Bennett e Amy Winehouse
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“Bom Conselho” (Chico Buarque), com Chico e Eugénia Melo e Castro
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=fBeOEZITiOE[/youtube]
Eugénia Melo e Castro, uma das cantoras portuguesas mais amadas pelos músicos e pelo público brasileiro acaba de ganhar mais um grande reconhecimento da crítica brasileira.
Quando comemora os seus trinta anos de carreira artística, recebe a menção honrosa da principal revista cultural do Brasil, a «Bravo», que em edição especial publica as 100 melhores canções brasileiras de todos os tempos e seus melhores intérpretes.
Geninha, como é carinhosamente chamada pelos amigos, foi considerada a segunda melhor intérprete da famosa canção de Vinicius de Morais «Eu sei que vou te amar», perdendo o primeiro lugar para o não menos famoso João Gilberto e ficando a frente de uma das musas da bossa nova, Maysa.Para Eugénia este é um dos maiores reconhecimentos que recebeu, justamente no ano das comemorações do centenário de Vinícius. A sua leitura concorreu com a versão dos principais nomes da musica popular brasileira como Elis Regina, Roberto Carlos, Gal Costa, Caetano Veloso, Adriana Calcanhoto, Ivete Sangalo e outros.
A cantora portuguesa agora está a preparar um novo CD com músicas para crianças, «Conversas com versos», musicando os poemas da sua mãe, a escritora e poetisa Maria Alberta Menéres. Para já a cantora adianta que conta com a participação de Ney Matogrosso no tema «Meu Chapéu». O lançamento está previsto para Outubro.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=p1itszpEX60#at=55[/youtube]
DIFÍCIL SER FUNCIONÁRIO
João Cabral de Melo Neto
(Para Drummond)
Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.
Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.
É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.
Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.
Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.
E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.
Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança
Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar…
Fazer seu nojo meu…
Carlos, dessa náusea
Como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
Pedindo conselho.
João Cabral e Drummond foram funcionários públicos exemplares ao longo de toda a vida, para que pudessem exercer “esse ofício do verso”, na expressão de Jorge Luis Borges.
Este poema é da primeira fase de João Cabral, em que confessadamente estava muito influenciado pela leitura da poesia de Drummond.
“Serenata do Adeus” (Vinicius de Moraes), com Paula Morelenbaum
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=Zf2IPH2UwYk[/youtube]
POEMA DE DESPEDIDA
Mia Couto
Não saberei nunca
dizer adeus.
Afinal,
só os mortos sabem morrer.
Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser.
Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo.
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos.
Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca.
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei.
Ainda assim,
escrevo.
Áudio da antológica apresentação de Adoniran no programa “O Fino da Bossa”, que foi um marco na história da MPB, apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues na antiga TV Record.
Atentem para a interpretação de “Bom Dia, Tristeza”, por Elis.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=PMiZL1UC38k[/youtube]
Se estivesse vivo, João Rubinato teria completado ontem, dia 6, 103 anos.
Morto, é a prova viva de que a profecia de Vinicius de Moraes — que perdia o amigo, mas não perdia a piada — era mesmo só um chiste: São Paulo não é, nem jamais foi o túmulo do samba.
João Rubinato não é nome de sambista. Então ele pegou o nome de um amigo e o sobrenome de outro e criou o personagem Adoniran Barbosa (em que de fato acabou se transformando), cujo tipo físico, de chapéu, paletó, gravatinha borboleta e a voz roufenha foi inspirado em outro personagem cômico que ele encarnava com muito sucesso, o Charutinho.
Como todo gênio, criou uma língua própria para expressar o sentimento da sua gente e o seu universo, um misto de italianês com paulistanês, com uma sintaxe peculiar e adorável, e expressões inefáveis, como “tiro ao álvaro”, “a situação aqui tá muito cínica”, “nóis viemo aqui pra beber ou pra conversar?”, e até uma iguaria, “torresmo à milanesa”, entre tantas outras. Com relação a esta última, da canção do mesmo nome em parceria com Carlinhos Vergueiro, este lhe indagou se existia aquele tipo de torresmo, ao que lhe respondeu que nunca tinha visto nem comido, mas que devia ser muito gostoso, além do que rimava com Tereza…
O enxadão da obra bateu onze hora
Vam s’embora, João!
Vam s’embora, João!
O enxadão da obra bateu onze hora
Vam s’embora, João!
Vam s’embora, João!
Que é que você troxe na marmita, Dito?
Troxe ovo frito, troxe ovo frito
E você beleza, o que é que você troxe?
Arroz com feijão e um torresmo à milanesa,
Da minha Tereza!
Vamos armoçar
Sentados na calçada
Conversar sobre isso e aquilo
Coisas que nóis não entende nada
Depois, puxá uma páia
Andar um pouco
Pra fazer o quilo
É dureza João!
É dureza João!
É dureza João!
É dureza João!
O mestre falou
Que hoje não tem vale não
Ele se esqueceu
Que lá em casa não sou só eu
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=RF480dVk_Qw[/youtube]
Como dizia Manuel Bandeira, na sua antológica Evocação ao Recife:
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada.
Adoniran não teve educação formal, mas sabia o que fazia, tinha cultura e conhecia a chamada norma culta, que utilizava quando entendia necessário. Uma prova disso é a sua parceria inusitada com Vinicius de Moraes, que antes o havia criticado por estropiar a língua portuguesa em “Samba do Arnesto”.
Até que um dia, de repente, não mais do que de repente, Aracy de Almeida, então morando e trabalhando em São Paulo na TV Record, passou ao colega Adoniran um papel que recebera de Vinicius com um poema e atribuições plenipotenciárias: “faça o que quiser com ele”.
O poema — na esteira da onda existencialista e do livro de Françoise Sagan — se tornou a letra do antológico samba-canção “Bom dia, tristeza”, composto por Adoniran inteiramente fora do padrão melódico dos seus sambas paulistanos, como a dar a resposta do seu imenso talento.
O diplomata Vinicius estava em Paris, integrando a delegação brasileira na Unesco, e de lá acompanhou o repentino e estrondoso sucesso da canção, gravada inicialmente por Aracy Cardoso e em seguida por outras cantoras consagradas, como Elizeth Cardoso e Maysa (esta encarnava como ninguém a personagem do poema). Adoniran achava que a melhor gravação e interpretação de todas era a de Mauricy Moura, ele próprio gravou “Bom dia, tristeza” mais de uma vez e chegou a incluir uma introdução falada bem ao seu estilo (seria uma réplica bem-humorada a Vinicius?): “A tristeza é um bichinho que para roer está sozinho. E como rói, a bandida. Parece rato em queijo parmesão”.
Além dos vários clássicos, “Trem das Onze”, “Saudosa Maloca”, “Samba do Arnesto”, quem mais teria a ousadia de fazer um impagável “Samba Italiano”?
Falado:
“Gioconda, pitina mia,
Vai brincar alí no mareí no fundo,
Mas atencione co os tubarone, ouvisto?
Capito meu san benedito”.
Piove, piove,
Fa tempo que piove qua, Gigi,
E io, sempre io,
Sotto la tua finestra
E vuoi senza me sentire
Ridere, ridere, ridere
Di questo infelice qui
Ti ricordi, Gioconda,
Di quella sera in Guarujá
Quando il mare ti portava via
E me chiamaste
Aiuto, Marcello!
La tua gioconda ha paura di quest’onda
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=tF4aRh5Ie4s[/youtube]
Juntamente com Paulo Vanzolini ─ que em maio deste ano foi se encontrar com Adoniran (AQUI) ─ e Germano Mathias ─ outro sambista excepcional, quase esquecido (AQUI) ─ retratam o universo da verdadeira boemia paulistana, com seus malandros e mulheres, desvalidos e trabalhadores, sonhadores e desesperançados.
“Folhas Secas” (Nelson do Cavaquinho / Guilherme de Brito), com Beth Carvalho
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=kV8SyD2QF9w[/youtube]
“Meu vício é você” (Adelino Moreira), com Nelson Gonçalves
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=q4LJtrolW60[/youtube]