“Tiro ao álvaro” (Adoniran Barbosa), com ele e Elis Regina
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=lpEAQg6LEtg[/youtube]
“Saudosa maloca” (Adoniran Barbosa), com ele
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=801MQjNJvrg[/youtube]
“Tiro ao álvaro” (Adoniran Barbosa), com ele e Elis Regina
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=lpEAQg6LEtg[/youtube]
“Saudosa maloca” (Adoniran Barbosa), com ele
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=801MQjNJvrg[/youtube]
“Fascinação” (Marchetti / Feraudy, versão Armando Louzada), com Elis Regina
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=zmP_9UoqTMI[/youtube]
Áudio da antológica apresentação de Adoniran no programa “O Fino da Bossa”, que foi um marco na história da MPB, apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues na antiga TV Record.
Atentem para a interpretação de “Bom Dia, Tristeza”, por Elis.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=PMiZL1UC38k[/youtube]
Se estivesse vivo, João Rubinato teria completado ontem, dia 6, 103 anos.
Morto, é a prova viva de que a profecia de Vinicius de Moraes — que perdia o amigo, mas não perdia a piada — era mesmo só um chiste: São Paulo não é, nem jamais foi o túmulo do samba.
João Rubinato não é nome de sambista. Então ele pegou o nome de um amigo e o sobrenome de outro e criou o personagem Adoniran Barbosa (em que de fato acabou se transformando), cujo tipo físico, de chapéu, paletó, gravatinha borboleta e a voz roufenha foi inspirado em outro personagem cômico que ele encarnava com muito sucesso, o Charutinho.
Como todo gênio, criou uma língua própria para expressar o sentimento da sua gente e o seu universo, um misto de italianês com paulistanês, com uma sintaxe peculiar e adorável, e expressões inefáveis, como “tiro ao álvaro”, “a situação aqui tá muito cínica”, “nóis viemo aqui pra beber ou pra conversar?”, e até uma iguaria, “torresmo à milanesa”, entre tantas outras. Com relação a esta última, da canção do mesmo nome em parceria com Carlinhos Vergueiro, este lhe indagou se existia aquele tipo de torresmo, ao que lhe respondeu que nunca tinha visto nem comido, mas que devia ser muito gostoso, além do que rimava com Tereza…
O enxadão da obra bateu onze hora
Vam s’embora, João!
Vam s’embora, João!
O enxadão da obra bateu onze hora
Vam s’embora, João!
Vam s’embora, João!
Que é que você troxe na marmita, Dito?
Troxe ovo frito, troxe ovo frito
E você beleza, o que é que você troxe?
Arroz com feijão e um torresmo à milanesa,
Da minha Tereza!
Vamos armoçar
Sentados na calçada
Conversar sobre isso e aquilo
Coisas que nóis não entende nada
Depois, puxá uma páia
Andar um pouco
Pra fazer o quilo
É dureza João!
É dureza João!
É dureza João!
É dureza João!
O mestre falou
Que hoje não tem vale não
Ele se esqueceu
Que lá em casa não sou só eu
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=RF480dVk_Qw[/youtube]
Como dizia Manuel Bandeira, na sua antológica Evocação ao Recife:
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada.
Adoniran não teve educação formal, mas sabia o que fazia, tinha cultura e conhecia a chamada norma culta, que utilizava quando entendia necessário. Uma prova disso é a sua parceria inusitada com Vinicius de Moraes, que antes o havia criticado por estropiar a língua portuguesa em “Samba do Arnesto”.
Até que um dia, de repente, não mais do que de repente, Aracy de Almeida, então morando e trabalhando em São Paulo na TV Record, passou ao colega Adoniran um papel que recebera de Vinicius com um poema e atribuições plenipotenciárias: “faça o que quiser com ele”.
O poema — na esteira da onda existencialista e do livro de Françoise Sagan — se tornou a letra do antológico samba-canção “Bom dia, tristeza”, composto por Adoniran inteiramente fora do padrão melódico dos seus sambas paulistanos, como a dar a resposta do seu imenso talento.
O diplomata Vinicius estava em Paris, integrando a delegação brasileira na Unesco, e de lá acompanhou o repentino e estrondoso sucesso da canção, gravada inicialmente por Aracy Cardoso e em seguida por outras cantoras consagradas, como Elizeth Cardoso e Maysa (esta encarnava como ninguém a personagem do poema). Adoniran achava que a melhor gravação e interpretação de todas era a de Mauricy Moura, ele próprio gravou “Bom dia, tristeza” mais de uma vez e chegou a incluir uma introdução falada bem ao seu estilo (seria uma réplica bem-humorada a Vinicius?): “A tristeza é um bichinho que para roer está sozinho. E como rói, a bandida. Parece rato em queijo parmesão”.
Além dos vários clássicos, “Trem das Onze”, “Saudosa Maloca”, “Samba do Arnesto”, quem mais teria a ousadia de fazer um impagável “Samba Italiano”?
Falado:
“Gioconda, pitina mia,
Vai brincar alí no mareí no fundo,
Mas atencione co os tubarone, ouvisto?
Capito meu san benedito”.
Piove, piove,
Fa tempo que piove qua, Gigi,
E io, sempre io,
Sotto la tua finestra
E vuoi senza me sentire
Ridere, ridere, ridere
Di questo infelice qui
Ti ricordi, Gioconda,
Di quella sera in Guarujá
Quando il mare ti portava via
E me chiamaste
Aiuto, Marcello!
La tua gioconda ha paura di quest’onda
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=tF4aRh5Ie4s[/youtube]
Juntamente com Paulo Vanzolini ─ que em maio deste ano foi se encontrar com Adoniran (AQUI) ─ e Germano Mathias ─ outro sambista excepcional, quase esquecido (AQUI) ─ retratam o universo da verdadeira boemia paulistana, com seus malandros e mulheres, desvalidos e trabalhadores, sonhadores e desesperançados.
“Meninas da Cidade” (Fátima Guedes), com ela e Elis Regina
[youtube]http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=jZSydd5o7iQ[/youtube]
MENINAS DA CIDADE
São doze pancadas (doze badaladas),
sol a pino, a telha vã
esquenta o pó da minha casa,
esquenta a bilha d´água,
de tanto que ferve na minha mão
agulha e pano, armas de todo dia.
Na minha mão tesoura e fé,
e pé na mesma tábua em falso
(destino e pé descalço).
Desde manhã sentada e presa aqui
rasgando as sedas das rainhas,
os brancos das donzelas,
que no escuro da cidade alguém
há de despir.
Ninguém verá tão belas,
filhas da falsidade.
A vila é tão pequena e infeliz sem elas que…
Que são doze pancadas, são doze ruelas,
que desgraçadamente sempre vão dar
numa mesma praça seca,
de noite suspirada.
De noite, tão imensamente farta
das paixões do dia.
De noite, suficientemente larga
pras bandalharias.
Meninas que se vem chegando aqui
cinturas ainda finas, medir felicidade.
No rosto a marca dos batons
das senhoras de bem,
as damas da cidade.
No peito arfante o roxo das mordidas
mais ferozes,
filhos da mesma terra, andantes e viajores,
rapazes e senhores de mais realidade.
São doze pancadas (já são doze dadas),
A lua a pino e eu já sei
que vou entrar na madrugada
rematando bainhas,
pregando rendas que amanhã vai ser
o baile das rainhas.
Amanhã, já se sabe que elas vão fazer
a história da cidade,
são muito cinderelas.
(letra extraída do site oficial de Fátima Guedes)
“Querelas do Brasil” (Maurício Tapajós / Aldir Blanc), com Elis Regina
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=PEAADKhkMww[/youtube]
O Brazil não conhece o Brasil
O Brazil nunca foi ao Brazil
Tapir, jabuti, liana, alamandra, alialaúde
Piau, ururau, aqui, ataúde
Piá, carioca, porecramecrã
Jobim akarore Jobim-açu
(Oh, oh, oh)
Pererê, camará, tororó, olererê
Piriri, ratatá, karatê, olará
O Brazil não merece o Brasil
O Brazil ta matando o Brasil
Jereba, saci, caandrades
Cunhãs, ariranha, aranha
Sertões, Guimarães, bachianas, águas
E Marionaíma, ariraribóia,
Na aura das mãos do Jobim-açu
(Oh, oh, oh)
Jererê, sarará, cururu, olerê
Blablablá, bafafá, sururu, olará
Do Brasil, S.O.S. ao Brasil
Do Brasil, S.O.S. ao Brasil
Do Brasil, S.O.S. ao Brasil
Tinhorão, urutu, sucuri
O Jobim, sabiá, bem-te-vi
Cabuçu, Cordovil, Caxambi,
Madureira, Olaria e Bangu,
Cascadura, Água Santa, Acari, Olerê
Ipanema e Nova Iguaçu, Olará
Do Brasil, S.O.S. ao Brasil
Do Brasil, S.O.S. ao Brasil
“Como nossos pais” (Belchior), com Elis Regina
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=EL7yNU1S9xo[/youtube]
“Tiro ao Álvaro” (Adoniran Barbosa), com ele e Elis Regina
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=lpEAQg6LEtg[/youtube]
“Essa menina, essa mulher, essa senhora
em quem esbarro a toda hora
no espelho casual
é feita de sombra e tanta luz
de tanta lama e tanta cruz
que acha tudo natural.”
“Essa mulher” (Joyce / Ana Terra), com Elis Regina
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=KvB7vyBrfdE[/youtube]
“Mas embora agora eu te tenha perto
Eu acho graça do meu pensamento
A conduzir o nosso amor discreto
Sim, amor discreto pra uma só pessoa
Pois nem de leve sabes que eu te quero
E me apraz essa ilusão à toa”
“Ilusão à toa” (Johnny Alf), Elis Regina
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=MvBrXgNUvCY[/youtube]