Estou abandonando aos poucos a minha velha conta de e-mail (acgama@netsite.com.br) por outra, mais moderna e eficiente (antonicogama@gmail.com). Valho-me do ensejo para pedir aos distintos amigos e leitores que passem a usar esta última para se comunicar comigo.
Sou apegado às minhas coisas, não por avareza, mas por razões outras, sentimentais. Avareza sentimental, talvez.
Aquela velha conta foi a minha primeira, e a gente nunca se esquece da primeira, seja lá o que for. Para o bem e para o mal.
Como as mensagens que recebo estão sendo encaminhadas automaticamente para a nova conta, esqueço-me com frequência de acessar a velha (sem malícia, por favor) e limpá-la do que já não interessa, ou nunca interessou.
É um martírio. Outro dia havia mais de duas mil mensagens esquecidas, a grande maioria propagandas de toda espécie, pps edificantes ou metidos a engraçados, correntes ameaçadoras caso sejam quebradas e outras chateações do gênero.
Passei um tempo enorme deletando tudo.
Enquanto me dedicava a essa operação de extermínio, com a frieza pragmática de um Capitão Nascimento, súbito o coração sentimentaloide me falou mais alto: “Para aonde vão essas pobres palavrinhas e imagens desprezadas?”
O universo cibernético continua para mim um mistério tão insondável e profundo quanto o universo propriamente dito. Quem sabe mais intrincado ainda.
Os dois, por exemplo, têm “nuvens”, mas as do universo celeste eu posso ver, quase tocá-las quando viajo de avião (outro absurdo de lata que avoa que nem passarinho), e de vez em quando até me despejam água na cabeça para me despertar das minhas tontices. Já as nuvens do ciberespaço não tenho a mínima ideia de como são, onde ficam e o que fazem.
Quando os seres físicos morremos, nossas almas vão para o céu, inferno, purgatório ― se cremos ― ou simplesmente nos decompomos, somos consumidos por outros seres e viramos pó ― se cremos apenas naquela outra entidade mítica, a Ciência.
E no mundo cibernético?
O que acontece com as palavras e imagens desterradas?
Haverá um cemitério para elas, ou uma espécie de máquina fragmentadora virtual para torná-las pedacinhos coloridos de saudade?
Ou elas pairam eternamente por aí como almas penadas, até que um cracker as incorpore tal um pai de santo num terreiro de umbanda?
Saravá!
Quando decidir vir sozinha para Londres, Edimburgo e Dublin um dos meus objetivos era conhecer novas pessoas. Escolhi o roteiro por não conhecer nenhum desses lugares. Em Londres eu acabei contando com a ajuda da minha querida amiga Londoneer Cris Degani ( escrevi aqui que nos reencontramos depois de mais de 15 anos), e em Edimburgo contei com a força do meu adorado primo Felipe (foi nossa segunda viagem ao exterior juntos, mas a primeira sozinhos).
Ficar com alguém que você gosta em uma viagem é como um escudo para conhecer gente nova. Eu amei estar com os dois e além de redescobri-los, tive que descobrir toda Londres e Edimburgo e por isso não me restou muito tempo novas amizades.
Já em Dublin eu fiz reserva em um hostel (quarto individual, obviamente) porque queria conviver com pessoas de outras partes do mundo. No final, está sendo fundamental estar aqui. Sem eles, o draaaama da mala seria ainda maior.
Mas não vou falar de amizade neste post. Vou falar de uma coisa que vem antes dela: a educação. O que mais me chamou a atenção em Edimburgo e Dublin é o cavalherismo dos homens. Diferente do Brasil, aqui abrir a porta é o mínimo. Hoje passei por uma situação que só me reforçou a certeza de que eu deveria escrever esse texto.
Tirando a Aer Lingus (companhia aérea em que jamais viajarei outra vez) todas as pessoas são excepcionalmente educadas. Mas os homens são um capítulo a parte! Desculpem-me os rapazes brasileiros mas vou enumerar motivos pelos quais as garotas têm que vir para cá (quem sabe vocês não reaprendem?).
1 – Em Edimburgo eu coloquei o pé para fora do Pub e puxei um cigarro do maço e já havia um cara lá com isqueiro e um sorriso a postos.
2 – Eu dei um sorriso na beira do balcão do Pub e o bartender imediatamente veio solícito me atender. (sim, porque no Brasil muitos fingem que você não está ali).
3 – Quando fui ao aeroporto resgatar minha mala e a minha amiga australiana conseguiu recuperar a dela, pegamos um ônibus. A mala dela estava super pesada e antes que cogitássemos a hipótese de erguê-la para colocar no local destinado já surgiu um irlandês (lindo de morrer) e se antecipou. Pegou a mala, pôs no lugar e sorriu (simples assim). Antes de descer do ônibus, ele perguntou se iríamos mais adiante. Confirmamos que sim. Ele novamente tirou a mala do lugar, colocou numa posição mais próxima de nós e se desculpou (SIM, SE DESCULPOU) dizendo que teria que descer. Achou pouco?
4 – Fiquei perdida. Fui pedir informação. O cara andou 50 metros (sim, 50 metros!) para me levar até a esquina para que pudesse me explicar melhor como eu deveria chegar no lugar.
5 – Estava de bicicleta e perguntei onde era o parque. O senhor de 87 anos fez questão de me contar a história do parque e os cuidados que eu deveria ter. Amarrou minha bolsa na cestinha da bike e me desejou bom dia.
6 – Eu e Michelle (a australiana) estávamos sozinhas no bar do hostel pra o nosso tradicional drink das 17h. Em menos de 1h já estávamos com 7 caras (um irlandês, um inglês, dois australianos e três austríacos) ao nosso lado querendo saber onde iríamos e participar do programa. E durante todo o pub crawl eles cuidaram da gente sem nenhuma segunda intenção. Foi casaco emprestado, cigarro aceso, porta se abrindo, tudo que a gente merece…
7 – Ao fim do pub crawl quis vir antes para casa. Óbvio que um deles saiu na chuva, me arrumou um táxi, me colocou dentro do carro e falou com o taxista onde ele deveria me deixar.
8 – Sabe há quanto um cara não paga um drink para mim no Brasil? (Claro, exceto os amigos…) Não sei! Aqui, todos os dias que saí fui surpreendida com drinks. Mas tudo de maneira muito gentil e delicada. Por exemplo, acabou meu drink e fui no banheiro. Quando volto, tem outro já pago. O Michael foi buscar um drink para ele e a fila era enorme. Não pedi nada. Quando ele volta, tem uma vodca na mão e me entrega com um sorriso. Eu sorri sem graça e fiquei pensando como iria beber aquilo puro. Quando menos espero, ele tira do bolso de trás da calça um red bull. Isso porque o meu drink (vodca + red bull) é o mais caro em todos os bares. E muito mais caro do que o que ele estava bebendo.
9 – Todos os homens que conheci elogiaram meu inglês e disseram que pareço ter 24 anos. Enfim, coisas que meus ouvidos não ouvem há tanto tempo que nem lembrava mais que existiam. Não, os homens daqui não querem te comer (pelo menos inicialmente) e isso foi o que me chamou atenção. Aqui você pode ser feia, bonita, gorda, magra, careca ou cabeluda. Os caras vão ser educados com você.
10 – Mas a décima e última situação de cavalheirismo que eu vivi foi além do imaginado. Precisava pegar o Luas (um tipo de bonde elétrico) e estava no guichê eletrônico para comprar o bilhete (aqui não tem catraca). Fui apertando os botões do meu destino e colocando as moedas. Atrás de mim, estava um homem (uns 40 anos do tipo George Clooney) pacientemente esperando a minha trapalhada. Desisti de tentar pois o Luas estava chegando e deixei o cara comprar o bilhete dele (não ía fazer ele perder a viagem porque eu não conseguia comprar o bilhete). Ele foi lá, apertou uns botões e comprou o dele. Ao final, disse: você não está conseguindo comprar pois está colocando moedas inferiores a um euro. Toma a minha! Sim, ele me deu DINHEIRO para a passagem.
Sem mais,
Bell Gama
setembro/2012
Manuela roqueira, na sua bateria verde, me enverdece os tantos anos maduros.
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A lua tua
Para a Manuela
Bailarina nua
flutua e ilumina
teu riso de menina
meu céu e meu chão
de estrelas.
Antonios e Marias
gregos e troianos
russos e americanos
Oropa França e Bahia
querem só pra si
a luz serena e fria.
Mas não é deles
nem de São Jorge
ou do dragão
da cidade
ou do sertão.
É tua
toda tua
apenas tua
que te dei a lua
e com ela
meu coração.