Amigo é pra essas coisas- MPB 4
“Amigo é pra essas coisas” (Aldir Blanc / Sílvio Silva Jr.), com MPB 4
Amigo é pra essas coisas- MPB 4
“Amigo é pra essas coisas” (Aldir Blanc / Sílvio Silva Jr.), com MPB 4
Em 1890, Jósef Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski, polonês naturalizado britânico, subiu o Rio Congo e durante essa jornada presenciou um dos períodos mais sangrentos da triste história africana, cuja população à época, escravizada na extração de marfim, estima-se que tenha sido reduzida à metade.
Anos mais tarde, já convertido no escritor Joseph Conrad, publicou a obra-prima Coração das Trevas, com claras reminiscências daquela aventura assombrosa. O protagonista do romance, Marlow, é encarregado de subir um rio até o posto comandado por Kurtz, um europeu que enlouquecera entre os selvagens. Kurtz só aparece nas últimas dez páginas, mas sua presença pesa sobre o livro todo. Esse personagem, louco ou lúcido demais (o que talvez seja a pior forma de loucura), equilibra-se na tênue linha entre civilização e selvageria. Suas palavras finais resumem não apenas a história colonial da África, mas de toda a humanidade: “O horror, o horror.”
Francis Ford Coppola, a partir do livro de Conrad, e deslocando a ação para o Vietnã, realizou em 1979 outra obra-prima, o filme Apocalypse Now, com Marlon Brando no papel de um Kurtz coronel desertor do exército norte-americano.
Ontem, mais de 120 anos depois da experiência sinistra de Joseph Conrad no Rio Congo, nesta aprazível São Sebastião do Ribeirão Preto, que acabara de completar 157 anos no dia anterior, outrora denominada “Capital da Cultura” e “Califórnia Brasileira”, um energúmeno endinheirado, subindo com sua possante Range Rover por uma das principais avenidas da cidade, pela qual caminhavam milhares de pessoas, de forma absolutamente pacífica e ordeira, manifestando o descontentamento cívico e ao mesmo tempo a esperança do povo brasileiro em transformar o Brasil num país melhor e mais igualitário, sentindo-se contrariado pelo bloqueio de sua augusta passagem, atirou o transatlântico terrestre sobre a multidão, matando um jovem de 18 anos e ferindo várias outras pessoas.
Não, não adianta buscar explicações.
A única explicação é aquela mesma constatada por Conrad: o horror, o horror!
Apenas o horror!
E não me venham com politicamente correto
O amor não é político, nem correto…
“Minha namorada” (Vinicius de Moraes / Carlos Lyra)
Tom, Vinicius, Toquinho & Miucha
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=OJY7mEVsAik[/youtube]
Ainda não havia assistido ao show em que Vanessa da Mata interpreta canções de Tom Jobim, o que fiz ontem por um canal de TV que transmitiu ao vivo a apresentação em Ipanema.
O projeto “Viva Tom Jobim”, patrocinada pela “Nívea” é uma homenagem aos 50 anos do lançamento do primeiro disco solo do Maestro Soberano, “The Composer of Desafinado Plays”, gravado pela “Verve”, em Nova York, no ano de 1963.
Pois apesar da denominação do projeto, de bons músicos acompanhando-a, do belo cenário, o que vi e ouvi foi Vanessa, fazendo jus ao nome dela e ao do disco quinquagenário, tentando matar Tom Jobim, desafinando, semitonando, e outras coisas mais. Ficou evidente não estar à altura das nuances melódicas e do refinamento das músicas de Tom.
Não gosto dela como cantora, admito.
Quando surgiu, o timbre algo parecido com o de Gal Gosta me despertou a atenção, mas logo percebi que se tratava de uma cantora muito limitada, a despeito do grande sucesso de público e de crítica, o que, aliás, não significa absolutamente nada. Sou desafinado, mas meus ouvidos não são moucos.
Apesar disso, cheguei a me indagar se não seria mera implicância ou intolerância minha. Mas eis que, sem nada haver comentando antes com ela, recebo um e-mail de uma querida amiga e colaboradora deste blog (e que encanta quando canta) dizendo-me que sentia exatamente o mesmo.
Até Caetano Veloso, que participou brevemente do show, parecia sem graça, pouco à vontade, cantando num tom (ou Tom), que não era o dele.
Vanessa só não mata de vez Tom Jobim porque ele é mesmo imortal.
(A cara do Tom na foto acima não parece preocupada?)
EROS
Que bicho entranho é esse
que hora a hora me devora
dia e noite noite e dia
me consome e me sacia
me encanta e me apavora?
Que caminho estranho é esse
em que me quedo e enveredo
dia e noite noite e dia
e de mim mesmo me afasto
seguindo meu próprio rasto?
Que deus antanho é esse
que me prega em sua cruz
dia e noite noite e dia
me condena e me seduz
e sua graça sempre adia?
“Tiro ao Álvaro” (Adoniran Barbosa), com ele e Elis Regina
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=lpEAQg6LEtg[/youtube]
“Core ‘Ngrato” (Salvatore Cardillo)
com Luciano Pavarotti, José Carreras e Plácido Domingo
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=OogmLUJZVqI[/youtube]
(Ilustração de Annibal Augusto Gama)
CAMALEÃO
(ou fim de tarde no Pinguim)
Às vezes
quero ser gordo e barrigudo,
sossegado,
mas de humor agudo,
amigo de todos
e de tudo.
Outras vezes
penso em ser franzino,
frágil,
pequenino,
mas sem temor algum
como Gandhi
saído de um jejum.
Noutra hora
já muda minha meta,
sonho ser robusto,
decatleta,
que em ação pelas pistas
até prega susto
com proezas nunca vistas.
A cada instante
sou um outro
astronauta, cantor de bolero,
poliglota, rei,
somente não quero
o que fui, o que sou
e o que serei.