Crocs, Crocs…

 

 

 

            — Babu, Babu, presente!!!

            Acordo com os gritos de Manuela — como trinados de um bando de passarinhos ao alvorecer — enchendo meu quarto da sua alegria.

            Não que seja tão cedo assim. Depois de vinte anos saltando da cama às seis horas da matina para as aulas na faculdade de Direito, tenho me dado o direito de dormir até mais tarde, agora que me tornei um professor em recesso (creio que permanente). Ainda porque, com ou sem aulas, jamais consigo me deitar antes da meia-noite, e muita vez mais tarde ainda.

            Ela nem espera que eu me levante, sobe com esforço na cama, atrapalhada com uma sacola quase do tamanho dela, a repetir excitada:

            — Presente, Babu, presente!!!

            O aniversário de dois anos dela, dia 4 de março, está próximo e sou eu quem ganha o presente, não bastasse o presente maior da presença dela.

            Acesa a luz e com ela saltitante ao meu redor, abro a sacola, desfaço o embrulho e… Crocs, Crocs

            — Igual Manuela, me diz orgulhosa, exibindo-me o pezinho. Põe, põe!

            Claro que calço, e vejo que os tais de Crocs são mesmo deliciosamente confortáveis.

            Sequer sabia que adultos também usavam, até que no carnaval vi o jovem pai de um amiguinho da Manuela com um, e comentei com minha filha Carolina que deveriam ser ótimos.

            Agora que calcei, ela me diz para tirar, descalça os dela e quer que troquemos. Enfia os meus e sai arrastando os pés pelo corredor:

            — Vem, Babu…

            Ela me trata como se tivéssemos a mesma idade e o mesmo tamanho.

            Talvez tenha razão.

 

 

 

 

 

 

5 comentários

  1. bell
    28/02/12 at 14:05

    Meus dois amores com pé de pato agora! rs! Amo vocês!

  2. Priscila
    28/02/12 at 16:08

    Lindo…lindo…lindo.Os seus registros sobre os acontecimentos aparentemente singelos, mas que somente com a sabedoria, paciência e ternura acumulados na vida podemos valorar, arrebatam, emocionam e fazem-me muito feliz.Obrigada.Bjos a todos.

  3. 28/02/12 at 16:55

    A alegria que Manu traz ao vô salta aos olhos e ao coração dos leitores. Crônica linda!

    Beijocas!

  4. Rafael Castanho
    02/03/12 at 0:33

    Ahh, caro amigo e eterno professor! Como sua “queridinha” o faz feliz! Fico até estupefato com a essência que é passada pra mim com suas belas palavras, dizendo coisas que fazem com que quereríamos viver e viver mais… Até mesmo eu, que sou um pessimista de natureza, com seus dizeres, senti uma potestade inconcebível, que consegue deixar-me com um pensamento positivo, dando-me uma razão para viver neste mundo indiferente e corrompido! Obrigado por passar-me esta sensação… Estava precisando! Termino aqui dizendo que estou muito tolhido com a sua deixa do magistério, até porque não o verei mais…sinto muita saudade de conversar, discutir e principalmente ouvir (já que penso que estou na idade para apenas escutá-lo). Que a paz esteja contigo! Abraço e té mais.

  5. sonia k.
    03/03/12 at 8:23

    Não é inveja. Só queria uma Manu me acordando assim.
    Que gostoso!!!!
    Lembra o tempo que Bruno era pequenino e acordava direto indo pra minha cama sempre contando alguma coisa (que saudade! hoje ele tem 22 anos… que peninha…)
    Deu até vontade de ter também um croc que dizem ser super confortável.
    Vou experimentar um e mesmo que não tenha uma Manu tão lindinha pra me acordar, quem sabe passo a usar, né?

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