Depois de me perder pelo caminho (como costumo fazer sempre), cheguei ao sítio por volta de meio-dia e meia para o churrasquinho e o samba combinados.
Pensava que já encontraria por lá todos os convivas, mas não. Estavam apenas o Brenno e um senhor grisalho, barriguinha cervejeira, cara boa, às voltas com a churrasqueira.
― Gama, esse é o meu amigo Luís, que mora aqui perto e sempre vem dar uma mãozinha pra gente, apresentou-me Brenno, o anfitrião.
― Muito prazer… Muito prazer… nos dissemos, e ele, todo cordial:
― Quer um uisquinho para começar? Enquanto já ia preparando e me servindo a dose generosa.
Em seguida, voltou à crucial operação de acendimento da churrasqueira e últimos retoques nas carnes.
Brenno e eu ficamos ao redor, bebendo e pondo a conversa em dia.
― Ô Gama, pena você não ter vindo no dia em que o Virgínio estava por aqui. Cara, o Virgínio continua o mesmo, com aquela mania de discordar de tudo e ditar regras. Agora então que é dono de um bufê lá em Curitiba, ninguém aguenta. Foi muito bom.
― Pois é, estava em São Paulo e o meu voo de volta, pra variar, atrasou. Cheguei muito tarde e muito cansado. Não deu para vir.
― Você se lembra do Bianchini, Gama?
― Claro que lembro, trabalhava na Ducal com o Virgínio. Cara legal. Gostava dele. Chegou a fazer parte da nossa turma por uns tempos e a jogar futebol com gente…
― Isso! Ele apareceu por aqui com o Virgínio.
― É mesmo? Nossa, faz um tempão que não vejo. Como ele está?
― Tá bem, tá bem… Só tem uma coisa muito chata que aconteceu com ele…
― O quê? Indaguei, pensando em algum problema de saúde ou familiar.
― Chato, cara! Muito chato… O Bianchini, depois de velho, virou bicha. Bichona louca!
― Ah, não me diga isso… Não acredito! Você tá me gozando… Ele era boa pinta, pegador… Andou até desfilando e fazendo comercial para a Ducal, lembra?
― É mesmo! Vai ver então que desde aquele tempo ele jogava no outro time, sem que a gente soubesse…
A conversa se desvia, mas depois de alguns minutos Brenno volta ao assunto:
― E o Bianchini, hem? Bichona, quem diria! Mas você se lembra bem dele, Gama?
Pera aí, conheço esse jeito inzoneiro, esse olhar dissimulado do meu velho parceiro!
Olho com mais atenção para o tal amigo Luís, sempre de lado, ouvindo a conversa, mas se fazendo de interessado na churrasqueira e no preparo das carnes.
―Tanto me lembro que essa bicha aí, fingindo de churrasqueiro, é o Bianchini. (Imagine se eu não gostasse dele e me pusesse a desancá-lo…)
Gargalhadas, abraços, outra dose para comemorar.
E pelo resto do dia foi só recordar, com muitas outras doses e alguns sambas para acompanhar.
P.S. O Bianchini não virou bicha. Pelo menos foi o que ele me disse…
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PQP!!! Que coisa preciosa! do tempo em que se “inventou” saudade em forma de semente que ora germina viçosa e fértil! Esse tal de “Tom Gama” é foda! Coisa de rir, chorar e reviver repetidamente.
Brenno fez isso com você, Antonico? Que delíciaaaaa!!!
Amei a historinha toda, sua gozação no P.S…
E esse vídeo da “Lembrança Pictures Corporation”? Sensacional!
Brenno tem razão de estar tão empolgado.
Post anTOMlógico!
Beijocas!
Cacilda Manovéio!
Esta era prá ser minha e fazer parte do próximo livro.
Este é o Brenninho das candongas, e esse é o Gaminha Carioca. Muito bom kkkk!
V. está cada vez mais se superando!!!
Tom Gama Produções foi demais, menino!
E conseguiu imagens magníficas numa montagem muito boa.
Adorei. Como disse a Selma, anTOMlógico!
Parabéns sempre.
Gama, pra mim a melhor trilha de um samba é a da maior cantora de samba viva no país, na minha opinião: Beth Carvalho. Seu repertório é de uma qualidade altíssima, sua importância para a MPB é imensa (quem mais lançaria novos autores e gravaria os mestres mangueirenses Cartola e Nélson Cavaquinho tão bem quanto ela?), e pra mim ela é mil vezes melhor do que a Alcione.
Sem contar que Beth combina perfeitamente com um churrasco, uma feijoada e uma cerveja gelada.
Abraços,
André
Ah, e complementando o comentário anterior, esqueci de te falar uma coisa: da próxima vez, não esqueça de me convidar pra ir nesses churrascos hein! rsrs
Abraços.
Um dia me chamaram de paulófilo, um amante de São Paulo, não só assumi como cada vez gosto mais desse povo e que agora agrego a turma de Ribeirão. Beleza de texto e de lembranças. Só como curiosidade conheci, ou melhor fui apresentado ao Nei Lopes um monte de vezes e ele sempre fala: muito prazer. Nei é um dos melhores textos de nossa gramática, advogado, sambista e estudioso profundo da cultura afro. E vem o Gama e nos conta uma história linda e o final “produção lembranças” é demais. No tempo que dondon …é um dos hinos de um grupo que pertenço há 17 anos, sempre cantamos. Beleza Gama.
Gama você conhece um livro do Nei chamado: GUIMBAUSTRILHO E OUTROS MISTÉRIOS SUBURBANOS? Ele conta a história dos suburbios carioca é maravilhoso. Você consegue no sebo Estante Virtual, vale a pena. outro livro dele sensacional é “171 – Lapa-Irajá”. O conto ” Ê barca! me leva para Paquetá” é de tirar o chapéu…escrevi muito desculpas
Quero mais………..
Paulinho, você nunca é demais, nem o que escreve.
Depois de escrever esse textinho, achei que estava parecendo coisa sua, o que tomei como autoelogio.
Vou imediatamente garimpar na “Estante Virtual” os livros do Nei Lopes. Sabia que ele é um excelente cronista e escritor (seus sambas mostram isso), mas desconhecia esses livros indicados por você.
Obrigado e um abraço.