A galharda “galhada” não era mera coincidência…
Chifre é vida ou Carta aberta ao rapaz do “Crepúsculo”
Xico Sá (escritor e jornalista, colunista da Folha de S. Paulo, é autor de “Chabadabadá – As Aventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha” e mais 10 livros. Na TV, participa do programa “Saia Justa”, no GNT)
Caro amigo Robert Pattinson, o motivo desta é tão-somente levar algum afago, um conforto de um especialista, um cara do ramo.
O chifre é como a morte. É para todos, indiscriminadamente.
Confesso. Deu dó desse moço, pobre moço, exposto ao sol — nada crepuscular — do noticiário com a sua inquestionável dor amorosa.
O menino Robert Pattinson, 26, que se diz traído pela Kristen Stewart, 22. Um até então exemplar e romântico casal de Los Angeles.
O casal da saga “Crepúsculo”. Sim, o amor sempre acaba em um final de tarde, como senteciava Paulo Mendes Campos.
Por isso prefiro ver o mundo daqui da janela do oitavo andar do edifício Alfredo Bandeira, na rua da Aurora, a rua da luz mais bonita do mundo, segundo Gilberto Freyre. Crepúsculo, estou fora.
Deu dó, mas também temperou minha ciência antiga: o chifre nasceu para todos. É o castigo mais democrático depois da morte. Só há isonomia por parte da velha da foice e da maldição do corno.
Para todos e todas.
Muita calma, caro Robert. Não será o último objeto pontiagudo que será parafusado na fronte do artista. Viver é levar essa bola nas costas.
Como diz a plaquinha do boteco: “Chifre é coisa para homem, boi usa de enxerido”.
Até os 30 anos dói mais mesmo, caro Robert. Depois, dói de novo, mas com o tempo vai perdendo o sentido.
Não sei para ti, que é um galã, um cara orgulhoso e bonito. Taí mais uma vantagem de ser feio, digo, mal-diagramado pela mãe natureza. O corno feio sofre menos. O corno feio é um agradecido de nascença.
Se for o chifre de uma mulher bonita, minha nossa, temos sempre uma filosofia de consolação: já estávamos no lucro. Nem a merecíamos. Portanto nada aconteceu de tão grave.
Repito outra vantagem, mantra desse cronista discípulo de Serge Gainsbourg: a beleza é passageira, a feiura, graças a Deus, é para sempre.
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