No dia 2 de agosto de 1962, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e João Gilberto, com a participação especial dos fenomenais Os Cariocas, e sob a direção musical de Aloysio de Oliveira, fizeram um show denominado O Encontro, no célebre Au Bon Gourmet, no Rio de Janeiro.
O então diplomata Marcus Vinitius da Cruz e Mello Moraes (a grafia “Vinitius” é a original, exigida pelo pai Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, um amante do latim) precisou de uma autorização especial do Itamaraty — conseguida a muito custo — para se apresentar numa boate, cantando e bebendo. Exigiram-lhe, porém, que fosse de terno e gravata!
O show, que ainda contou com a presença de Milton Banana na bateria e Otávio Bailly no contrabaixo, foi uma espécie de batismo, a primeira apresentação em público de canções que em pouco tempo se tornariam clássicos, como Garota de Ipanema, Samba do avião, Samba da benção e Só danço samba.
Embora obviamente tenha sido composta antes, pode-se dizer que Garota de Ipanema completa 50 anos (pelo menos do seu debut), mas continua com um corpinho de 15. Ela e Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, são as duas canções mais representativas do Brasil no exterior.
Naquela apresentação inicial, Tom, Vinicius e João fizeram uma introdução para a música. Vale a pena conferir esta versão histórica e inédita no vídeo abaixo. Na sequência, Os Cariocas emendam Devagar com a Louça, numa espécie de resposta à recém apresentada Garota de Ipanema.
Eis o repertório (ou set list, como se diz hoje) do show:
1. Os Cariocas
Só Danço Samba (Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes)
2. Tom Jobim e Os Cariocas
Samba de uma Nota Só (Antonio Carlos Jobim/Newton Mendonça)
3. Joao Gilberto e Os Cariocas
Corcovado (Antonio Carlos Jobim)
4. Vinicius de Moraes
Samba da Bênção (Baden Powell/Vinicius de Moraes)
5. Joao Gilberto e Os Cariocas
Amor em Paz (Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes)
6. Os Cariocas
Bossa Nova e Bossa Velha (Miguel Gustavo)
7. Tom Jobim e Os Cariocas
Samba do Avião (Antonio Carlos Jobim)
8. Vinicius de Moraes e Os Cariocas
O Astronauta (Baden Powell/Vinicius de Moraes)
9. Joao Gilberto
Samba da Minha Terra (Dorival Caymmi)
10. Joao Gilberto
Insensatez (Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes)
11. Joao Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes
Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes)
Os Cariocas
Devagar com a Louça (Haroldo Barbosa/Luiz Reis)
12. Joao Gilberto e Os Cariocas
Só Danço Samba (Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes)
13. Todos
Garota de Ipanema; Só Danço Samba; Se Todos Fossem Iguais a Você (Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes)
P.S. Minha intenção era e é a de publicar apenas uma vez por semana um post da série A arte do encontro. E de evitar repetir as personagens, pelo menos imediatamente. Mas com Vinicius e Tom isso não foi e não será possível. Eles voltarão a aparecer em muitos outros encontros, entre os dois e com outros parceiros.
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Tom Gama, no livro “Chega de Saudade”, do Ruy Castro, há minúcias sobre aquele antológico 2 de agosto (por mim seria feriado), estreia mundial de “Garota de Ipanema”. Previsto para durar um mês, o show foi além, e só parou por “estafa terminal de todos os participantes.” Nunca começava à meia-noite, hora marcada. Oi zunzunzum, zunzunzum… estava sempre faltando um. Pensou em Joãozinho? Acertou.
Conta o Ruy que nas primeiras noites Vinicius se apresentou de terno, gravata, e bebendo pouco, a pedido do Itamaraty. Depois entregou a Deus. E vieram suas melhores performances, dispensável dizer.
Longa vida à nossa Garota!
Beijocas!
Selma, você já tinha postado o vídeo no seu bloghetto.
Desculpe-me o furto famélico.
Beijocas!
O seu vídeo tem duas diferenças: está com melhor tratamento de áudio e com o acréscimo de “Devagar com a louça”.
“Furto famélico” é ótimo!
Beijocas!
Gama, realmente essa música é imortal… foi composta por Tom e Vinícius em homenagem a Helô Pinheiro que passava sempre em frente ao antigo Bar Veloso (atual Garota de Ipanema) – inclusive, quando Helô se casou, convidou Tom e sua esposa pra serem padrinhos.
Outra belíssima música muito conhecida no exterior é a clássica Manhã de Carnaval, de Luís Bonfá e Antônio Maria.
Abraços,
André
Putz… preciosíssimo! E nem parece que alguns já se foram. Parece que esse encontro de arte acontece agora, em tempo real. Porque o real não se dissolve nas ranhuras do tempo. O real, mesmo o imaginário, é eterno quando a arte encontra o inolvidável.
Parabéns, sr. diretor! A platéia encantada se mantém sequiosa por novos velhos encontros.
O bom deste blog, é que as pessoas que comentam, postam novas poesias, nas suas explicações….Queria muito que meus netos, tivessem oportunidades de viverem , epocas como estas ….e longe destes tere tere …tcham tchu tchá…..PARABÉNS!!!!!!!