Entre o feto e o defunto
a ávida amante
se intromete
a te exigir e subtrair
cada instante.
Por conta de tanta
graça
pede um diamante
sem jaça
a viagem mais distante
o verso perfeito
as benesses do prefeito
(e sempre reclama um defeito).
Arrasta-te pelo caminho
e nunca te deixa
sozinho
só para ver
o sol se pôr
ouvir estrelas
flertar com a lua
sentir o cheiro da chuva
conversar com teus botões.
Quando exausto adormeces
invade teu sonho
ou pesadelo
rola na cama contigo
e te sacode
aflita
mal a manhã se
agita.
Estes são teus pais
teus irmãos
teus filhos
teus amigos
inimigos
teu ofício
teu vício
resoluta te aponta
(e depois te traz a conta).
Na hora derradeira
da partida
vai te deixar
enfim
e seguirá faceira
esquecida do que havia
sem sequer se importar
se foi algum dia
querida.
Entre o começo e o fim… o tudo. A ávida amante, itinerante companheira da vida inteira. Mostra a água, mas não se molha. Mostra o fogo, mas não se queima. As consequências dos passos dados em seu nome alcançam tão somente seus carregadores. E ela passa… incólume. Fingindo que não sabe… que foi querida. Porque foi única.
Dificil confessar que não tenho palavras para me expressar a respeito de algo
Mas o senhor tem esse poder – o de me deixar sem palavras diante do que escreve…
Seus poemas são jóias raras. E agora ainda entra o Brenno complementando.
Tenho de ler, reler e guardar .
E a Lilian retorna após tanto tempo! Onde estava?
Por aqui mesmo, amiga; na mais completa confusão. Quem não para, não pensa; quem não pensa, acaba se perdendo. Uns dias no escuro, outros no vazio, e agora tentando acordar para a vida novamente. Vamos ver no que vai dar… Mas, pior do que esteve não pode ficar. A razão de tudo isso? – Perdas, muitas. Mas acontece com todo mundo, né? Dizem que a diferença está apenas no modo como as pessoas reagem. Espero não continuar fazendo tão feio… rsrs Mas de uma coisa já sei: tem que ser bonito pra mim. Beijos, querida!!!!!! E obrigadíssima pela atenção, pelo carinho!
Querida, perdas temos mesmo pelo caminho. E sei que doem demais. Mas são fatos que enquanto estivermos por aqui teremos de encarar. De vez em quando também penso e sinto como naquela música/poesia:”não, não posso parar, se paro eu penso, se penso eu choro”. Mas daí é sacudir a poeira e dar a volta por cima, né? E feio mesmo a gente só faz com a gente mesma. Quando puder ou tiver vontade, fale comigo pelo e-mail, tá? Beijão e bom retorno!
Poeta, se não “viajo”, a ávida amante é a vida amante… Fantástico poema “a double sens”.
Beijocas!
P.S.1: O comentário do Brenno, como observou Nonna, é brilho puro.
P.s.2: A Lilian é de uma doçura… Bom demais seu retorno!
Oi, Selma! Obrigadinha pela acolhida!
Beijos!
Brenno, Sonia, Lilian (você é sempre bem-vinda, viu como todos sentimos sua falta?), Selminha, vocês me leem (e comentam) muito melhor do que me escrevo.
Sinto-me bastante privilegiada pelo acesso aos seus escritos.
Muito obrigada,
Beijos!
Minha leitura coincide com a da Selma. “Fantástico poema a double sens”. A vida,
ávida amante. Mostra um poeta com domínio completo da sua linguagem, maduro,
coincidente consigo mesmo. O poeta dá o que “ela” pede: um diamante/sem jaça,
a viagem mais distante, o verso perfeito. Aquela pedra no meio do caminho?
“Arrasta-te pelo caminho/e nunca te deixa/sozinho.” A Selma tem razão. Você dá
um passo sobre o Drummond: não se detém pasmado ante a pedra em meio do caminho; deixa-se levar por ela. É a pedra-guia, em movimento. E em sua companhia você foi longe, longe demais, a perder de vista.
Caro Gilberto, o poema de Antonio já está em Mendoza, onde outro poeta, entre palavras e vinhas cultivadas, habita.
A vida, “por conta de tanta graça” (sim, ela é imensa graça), pede um diamante e Antonio lhe oferta. Não é assim?
Beijocas!