Posts from agosto, 2012

O homem que conquistou a lua

 

 

 

 

 

 

Outrora eu era daqui, e hoje regresso estrangeiro. Forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim. Já vi tudo, ainda o que nunca vi, nem o que nunca verei. Eu reinei no que nunca fui.

Bernardo Soares (Fernando Pessoa), “Livro do Desassossego”

  

 

 

               “Amor de praia não sobe a serra”, diziam, e eu me revoltava com tamanha insensibilidade e o mau agouro.

               “Dessa vez vai ser diferente”, pensava, tentando apaziguar meu coração descompassado de amor.

               Por duas vezes, quase foi diferente.

               Voltei a me encontrar com dois desses amores longe da praia, e chegamos a manter um breve relacionamento. Ambas moravam em São Paulo.

               Uma delas, alta, linda, loura e de família muito rica (que olhava atravessado para aquele caipira pobretão), era de outro mundo, outra estratosfera, tão distante quanto a lua. Muito difícil que desse certo. Pouco durou.

               A outra, o oposto, morena, mignon, faceira, com uma graça e um sorriso que ofuscavam a lua, era do meu mundo. Nem sei bem porque tudo acabou.

               Por uma dessas trapaças do destino, o apartamento em que morei em São Paulo por quase oito anos antes de me aposentar do Ministério Público ficava na mesma rua e muito próximo do prédio em que ela vivia com a família na época. Passava em frente todos os dias, na ida e volta do trabalho. Às vezes, de noite, olhava para o céu e via a lua.

               Naqueles tempos, São Paulo ficava muito distante, tão longe quanto a lua. A Anhanguera era quase toda de pista simples até lá. Avião, nem pensar! Internet, nem em sonho! Telefone, difícil e muito caro.

               Nunca mais vi nenhuma das duas, e provavelmente não tenha deixado marca alguma na vida delas. Continuo, porém, a ver a lua daqui de tão longe, mas com outros verdes olhos que me acompanham e aquecem há mais de trinta anos.

               Como terá sido com Neil Armstrong?

               Ele a tocou. Foi o primeiro. Nela deixou suas marcas para sempre.

               Foi um breve encontro. Logo ele voltou a pisar o chão da Terra.

               Discreto, recolheu-se e pouco falava a respeito. Achava que não tinha feito nada de mais.

               Até que o seu velho coração, que aqui pulsava, parou.

               Terá ido pulsar com ela, no infinito do universo?

               A mim me resta continuar provisoriamente por aqui, a pisar meu chão de estrelas.

 

 

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