Parceria em foco

 

 

 

 

 

 

 

Ele é bem mais velho do que eu.

Nasceu no mês de agosto de um longínquo ano…

Eu, no mês de novembro!

Natural, pois, que a catarata o pegasse primeiro (se bem que a dele foi causada por uma pancada que sofreu).

Mas isso pouco importa. 

O que importa (com ou sem catarata) é que desde os verdes anos observamos as mesmas estrelas, ainda que de navios diferentes (com sua licença, Aldir).

 

 

 

Em homenagem aos seus novos focos,

permita-me que lhe dedique novamente

esses flocos

de poesia:

 

 

                                      DEJÀ-VU

 

 

                                    De olho no olho que não vê

                                    já vejo tudo.

                                   Como um dejà-vu constante,

                                   tenho registrado cada instante

                                   de um tempo antecedente,

                                   quase oculto,

                                   por detrás das cataratas

                                   e das corredeiras.

                                   Onde ordeiras baratas

                                    e satânicos colibris

                                    faziam seu festim macabro…

                                    acabo já-já com esse passado!

                                    levado embora

                                   pela impávida aspiração

                                   que seca a neblina,

                                   que embaça a nitidez

                                   da paisagem cristalina.

 

                                    Mas as cortinas já se abrem

                                   para o segundo ato

                                   e o fato se submete

                                   ao enredo teatral.

 

                                   E a verdade aparece na revista

                                   mesmo vista

                                   com olho artificial.

 

 

(mas um pouco de miopia é bom, porque permite não se ver as coisas como de fato são…

 e deixa ver outras como gostaríamos que fossem. Lembra?)

 

                                                                                                                                                                                       Brenno Augusto Spinelli Martins

 

 

 

 

 

 

 

14 comentários

  1. 19/10/12 at 14:47

    Retinas desfatigadas e enxergando a vida au grand complet, o que ainda não virá por aí em prosa e verso, meninos…
    Adorei a foto. Brenno é daqueles amigos para se ver raiar a madrugada, cair o sereno…
    Parabéns pela estreia em dia tão nobre, companheiro de órbita.  Hoje nascia Vinicius, parceiro do outro Tom.
    Belíssimo poema.
    Beijocas!

     

  2. Brenno
    19/10/12 at 15:48

    Pô, agora fiquei sem graça…
    Queria responder, discutir a questão da idade, falar do “retrato” (bela “chapa”, não lembrava, camisa do Santos… de Neymar ou de Pelé?), mas…
    fiquei assim… sem palavras.
    Mesmo assim, devo dizer alguma coisa, nem que seja uma só

    PALAVRA
      
    A palavra do lavrador
    caiu na terra arada
    e ele, distraído,
    passou de novo o arado
    e a palavra ficou enterrada…
    ou semeada
    ou incrustada
    ou adormecida.
      
    Se um dia ela germinar
    pode crescer,
    virar discurso,
    pode virar oração
    ou ladainha
    ou até reclamação.
      
    Pode ramificar galhos de protesto
    ou soltar raízes
    de meditação
    ou mortificação.
      
    A palavra pode crescer,
    pode morrer,
    apodrecer
    ou ficar p’ra semente…
    se ela não for
    imediatamente
      
    dita.
            
                                                   (Obrigado aos orbitantes!)

    • Antonio Carlos A. Gama
      19/10/12 at 15:57

      Brenno, sem prévio aviso, aviso agora que você se tornou o mais novo “colaborador voluntário” deste blog.

      Olhe lá, do lado direito, em “Categorias”.

      Como faço com a Selma, me encarrego de mergulhar nas suas caudalosas águas e pescar algumas das tantas pérolas (“Marinheiro, vem, vem ver quanto água, se você quiser pode afogar suas mágoas…”). Mas se você quiser me enviar por e-mail alguma coisa, será ótimo também.

      Abração.

       

  3. Brenno
    19/10/12 at 17:32

    Tá… mas colaborador “donatário” (de Donato, João), tipo sem compromisso, relaxado, improvisado, irresponsável, esvoaçante, desregrado, eventual, passageiro, embriagado, volátil…
    Assim… pode.

    • Antonio Carlos A. Gama
      19/10/12 at 18:07

      Será assim mesmo, ou eu não conheço você?

  4. Claudia Pereira
    19/10/12 at 17:35

    Embora essa amizade contenha muitos motivos cristãos óbvios, está longe de ser um clichê. É para mim, uma miscelânia sincrética de histórias bem vividas, tiradas do budismo tibetano, gnosticismo, epistemologia ocidental clássica e contemporânea, mecânica quântica popular, psicologia de Jung, pós-modernismo, ficção científica, filmes de arte marcial de Hong Kong e outras fontes… Vocês são um arraso! E acabam em bossa nova, ou um sambinha bom!

  5. André
    19/10/12 at 17:39

    Gama, muito bonita essa homenagem que vc fez ao poeta Brenno.
    Sem dúvida que os poemas são importantes na formação da nossa sensibilidade.
    Os amigos são jóias raras que passam em nossas vidas e estão presentes tanto nos momentos fáceis quanto nos difíceis. Companheiros de conversa e cerveja.
    Abraço,
    André

  6. Brenno
    19/10/12 at 18:32

    Então… abençoado por Antonicos, Selmas, Claudias, Andrés… e diante do aniversário lembrado por Selma daquele que, como os deuses, devem ser tratados por “vós”… solto a voz:

          
    Estivestes comigo em todos os inícios
    mas me abandonastes nos finais.
    Repartistes comigo todos os vícios,
    mas me deixastes sozinho
    nas ressacas dos meus carnavais.
        
    Por que demorastes tanto, ó Poeta?
    por que ainda demorais
    pra me ensinar vosso canto,
    elegias,
    desencantos,
    poesias,
    acalantos
    e o tanto que sois capaz?
       
    Chegastes tarde, ó Poeta!
    agora é tarde demais:
    não tenho mais bala na agulha…
    Por que me influenciais?
    estando sempre presente
    na retina dos meus eyes…
    na rotina dos meus ais.

  7. 19/10/12 at 19:13

    Cessa tudooooooooo!!!  “Na retina dos meus eyes/na rotina dos meus ais”…  Leminski?
    Não, é o Brenno. Meus sais.

    Beijocas! 

  8. 19/10/12 at 22:46

    Assim não vale, Brenno, é demais!
    Essa merecia, e merece, um post a mais.
    Eu não sou “Jobim”, você não é “Moraes”,
    Mas ao fim e ao cabo, somos quase iguais…

  9. Lúcia Helena Vieira Dibo
    21/10/12 at 9:37

    O exercício da fala. Algumas dores necessárias.O sopro da alegria resvalada. Emoção. Assim é a palavra derramada que vem de vocês, que me abriga e aconchega. obrigada por existirem meus amigos líricos. beijos.

  10. Quisera eu ter a facilidade de retratar em palavras o que  o  meu coração sente ao ler, ver e imaginar toda esta amizade entre estes dois….È lindo D++. continuem nos brindando com estes posts..pois somos capazes de entender e acreditar que este nosso MUNDÃO ai é  BOM   D+++  !!!!!

  11. Sophie
    29/10/12 at 6:01

     
    Fiquei lendo e olhando a foto e pensando: essa foto poderia se chamar amizade. Mas, amizade é pouco. Poderia, então, se chamar felicidade. Mas, felicidade vem e vai e não fica. Decidi, então, chamá-la de abraço. Porque um abraço nunca vai, apenas fica.
    Amei esse post e amei essa foto. Uma bela foto.

  12. klaudio
    11/11/12 at 16:01

    Aliás, foi com eles que aprendi o valor das amizades. Salamaleques Manovéios.

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