[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=AkPozzLSrsM[/youtube]
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Selma Barcellos
Ao me deparar com a inusitada estante, brinquei de arrumá-la.
No topo, somente um livro. O que fez minha cabeça num daqueles clear days that you can see forever. O que me inquietou, sacudiu o ponteiro da bússola e do viver cartesiano. Sim, ele mesmo, o Quixote de jamais abrir mão do sonho e de enfrentar moinhos.
No lado esquerdo do peito, os que me viram crescer e de onde brotavam, nutridas por múltiplas nascentes, as melhores fontes de se beber ― a do sítio de Lobato, das veredas do Rosa, da Pasárgada de Bandeira, do rio de Pessoa…
Ali pela altura da fome, os que me saciaram e até mesmo os que desceram mal ― indigestos obrigatórios da escola, leites derramados, alquimias com pouca substância de chef mago e barrinhas de autoajuda que apenas enganaram o estômago. Banidos da dieta, valeu prová-los.
Nas pernas, os que foram pilares de minha formação cultural, ética e espiritual, os que me fizeram captar a vida em sua pluralidade e caminhar em frente. Aqueles que quase (senão perderia a graça) me deram a resposta para “viver, a que será que se destina?”.
Ah, nos pés cansados, edições “havaianas” ― leves, refrescantes, alívio imediato e nem cheiro deixaram…
Por fim, ao alcance de meus abraços, os que me perpetuaram em sua escrava e pelos quais tenho zelo, até ciúme, e me pego a relê-los sem mais nem porquê. Passagens secretas, só eu tenho a senha.
E os queridos do blog? Como arrumariam essa estante? Fico curiosa por saber ao menos de um livro que lhes fez (ou faz) as delícias…