Adalberto de Oliveira Souza
EXISTÊNCIA
Um dia, quem sabe,
sentiremos a boca cheia de terra
e caminharemos
como anjos de procissão,
no encontro.
O dia tem 24 horas,
é o bastante
para passar o tempo,
para ser perseguido
pela fome.
De qualquer forma,
é urgente correr,
é urgente cantar,
alto foi a ordem dada,
entretanto.
Uma bomba silenciosa
eclodiu numa grande
interrogação.
O mundo naufragou-se,
busca-se um porto
e ele existe,
e além disso, existe
a faca
e corta.
EXISTENCE
Un jour,
qui peut le dire,
on se sent la bouche pleine de
terre
et on va défiler
comme des anges,
dans une procession,
à la rencontre.
Le jour a
24 heures
et ça suffit
pour avoir le temps
d’être persecuté
par la faim.
De toute façon,
il est urgent de courir,
il est urgent de chanter.
Halte! c’était l’ordre
cependant.
Une bombe silencieuse
a éclos dans une grande
intérrogation.
Le monde a fait naufrage,
on cherche un port,
une attache,
il existe vraiment
et au-delà,
il existe un couteau
et ce couteau coupe.
Perfeito!
Um dia quem sabe,…
tudo tão inconstante…
Abraço
Quem sabe um dia
isso possa acontecer
a inconstância das coisas,
mas saberei esperar pacientemente.
Arrebatador, poeta. E urgente.
P.S.: Antonio, ilustração devidamente ‘roubada’. Amei!
Selminha, você é de casa, pegue o que quiser e nem precisa pedir licença, como a Irene de Bandeira.
Beijocas.
Como bem disse Selminha em outro comentário, nunca se sai dos versos de Adalberto como entramos…
Esse poema corta fundo, “dói que nem punhal”, e da ferida aberta jorra a vida.