Com a palavra toda

 

     Selma Barcellos

Selma 2

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para quem, como a blogueira, conserva o prazer de escrever à mão, aliás, com o corpo todo, sem mediação, no terreno baldio da folha de papel, não encontro  ilustração mais perfeita para o nascimento de um texto, passados os pontapés iniciais do embate com a inspiração, os alarmes falsos… Em algum momento a palavra gestada nos chega. E nos alenta.

Sobre o ato hoje quase lúdico de manuscrever, o poeta Armando Freitas Filho se justifica dizendo que “a máquina de escrever, o computador estão sempre passando a limpo, estão ‘entre’ o que se escreve e a mão.” Indagado se o lápis e a caneta também não estariam, responde: “Mas quem diz que escrevo com lápis e caneta? Escrevo, isso sim, com o dedo em riste.” Ah, poeta… E completa:

 

                                               A letra tremida da infância

                                               ou da mão travada pela idade

                                               quando impressas, não passam

                                               a aceleração do sentimento

                                               nem o avanço da paralisia.

 

                                               Só o leitor pode recuperar

                                               o bastidor da sensação

                                               que se gastou num polo

                                               ou no outro, embalsamada

                                               na letra morta de imprensa.

 

Jamais supérfluos, não me faltem o bloquinho e a Bic de ponta fina aonde for. Mania doida de rascunhar, desenhar, esboçar, destacar vida que passa e que de algum lugar me acena. Ao alcance das mãos. Assim.

 

 

11 comentários

  1. André
    08/05/13 at 11:51

    Selma, eu adoro escrever a mão, técnica através da qual eu faço redações, trabalhos, textos, as poesias de minha autoria eu coloco no papel pra depois editar nos blogs. Ao alcance das mãos eu posso tudo, quem sabe um dia até acabe publicando um livro.
    Beijoca

    • 08/05/13 at 19:15

      André, vou acampar, de véspera, na fila. Fã é fã.
       
      Beijocas!
       

      • André
        08/05/13 at 19:40

        Selma, se eu publicar mesmo um livro (quem sabe, um dia? Tudo é possível…) vou doar de presente um exemplar autografado especialmente pra você e pro mestre Tom Gama.
        É claro que vou querer a presença de vocês na noite de autógrafos!
        Beijoca

  2. Brenno
    08/05/13 at 15:51

    A GESTAÇÃO DA POESIA
    A palavra futura,
    o verso não dito:
    voláteis paquidermes
    que esvoaçam
    na abóbada
    do útero da alma;
      
    pesadas borboletas
    que chafurdam
    na lama do sonho
    e do pensamento
    à espera ansiosa
    do grandioso momento:
      
    o estertor do parto !

  3. Emir Paulino
    08/05/13 at 17:45

     
     
    Confesso que meu texto flui melhor quando a caneta rabisca no papel… Há os que dizem: – Isto é arcaico! Será?
     

    • 08/05/13 at 19:21

      Da ponta da Bic, Emir. E quanto mais de camelô, melhor. Arcaico é não se entregar.

  4. Antonio Carlos A. Gama
    08/05/13 at 19:34

    Não consigo passar diante de uma boa papelaria sem entrar, e quase sempre comprar, papéis, cadernos, canetinhas várias. Tenho especial afeição pelos lápis, cada vez mais bonitos e interessantes, mas com o grafite de má qualidade, que quebra ao ser apontado. Ou serão os apontadores que já não prestam? Grande parte de minhas lembranças de viagens são lápis, bloquinhos e cadernos.

     

    Mas a verdade é que me habituei de tal modo a escrever no computador que sempre acabo perpetrando nele meus textos, sobretudo pela facilidade de corrigir e modificar, experimentar, o que não tem fim.

     

    A ilustração que Selminha encontrou sobre o “nascimento do texto” é uma delícia e me deixou com vontade de retomar a escrita com lápis e papel!

  5. 08/05/13 at 22:00

    Antonio, seja qual for o tamanho da bolsa, sacudiu, cai um bloquinho. Aquele que vem com o “lapinho” preso do lado então… 
     
    Beijocas!

  6. paulinho lima
    09/05/13 at 1:00

    nada me é mais simpático que uma folha de papel em branco. adoro meus rascunhos e desenhos rabiscados. preciso andar mais por essa estrela aqui.
    Texto de Selma, em parceria com Armando, é fantástico mexe com o maior dos prazeres, escrever.

    • 10/05/13 at 18:18

      Paulinho, “essa estrela aqui” é para bater ponto todo dia… Creia-me, ilustre cavalheiro. 

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