Posts from junho, 2013

Paixão

 

             Lúcia Dibo

Lúcia Dibo

 

 

                                                  PAIXÃO

                                                                                                           

 

                                       há de se desapegar

                                       de bússolas

 

                                       pensou 

                                       ele

 

                                       navegar por um oceano

                                       ainda sem nome

 

                                       fechou seus olhos de gozo

 

                                       e ancorou seu corpo

                                       no corpo dela

 

                                       não como quem arde

                                       mas se esgota.

 

Foto poema Lucia Dibo

Fotografia: Ilico Kandaveli

 

 

 

Vampiro vão

 

       Claudia Pereira

 Claudia 2

 

 

 

 

 

Nos tempos modernos, na ausência dos bestiários medievais, os vampiros que fazem as mocinhas suspirarem são muito chatinhos.

Não sugam sangue humano. O vampiro bom moço, de carrão e adolescente, se alimenta de animaizinhos da floresta. Escolheu passar a infinidade de seus dias jogando beisebol e frequentando o colegial. Enterrar o canino na aorta, só para os coadjuvantes.

Mocinhas que cresceram informatizadas suspiram almejando a juventude eterna ao lado do grande amor imortal. A moral vencendo o instinto, sobrepujando o desejo incontido da mordida fatal na jugular.

Ah, o bom e velho Drácula dos filmes branco e preto! A névoa encobrindo o castelo, uma lua alucinada correndo à velocidade do grito contido, o único rastro de luz no breu do desejo e o medo.

Onde está o garboso Príncipe das Trevas dos pesadelos de minha infância?

Copo com água, réstia de alho, e a espera. Dormir com o travesseiro sobre a cabeça protegendo o pescoço, minha condição humana ameaçada, o terço de minha mãe pendurado na cabeceira da cama. O aparato completo. A estaca, um sonho de consumo!

Rezava para o anjo da guarda me proteger, e rezava para o Conde Drácula me querer. Um teste de fé: seria eu forte o suficiente para detê-lo e, caso me tornasse um ser abissal, como viveria esse mundo? Suportaria ser um deles? Olhos vermelhos, cabelos negros, a pele muito branca e uma vestimenta bem mais atraente que a de costume. 

Ultimamente o vampiro vive na América, a Transilvânia se encolheu ao passado junto com Bram Stoker.

Quando eu atingia o limite do pavor, era necessário que atravessasse o mais longo e extenso dos corredores que conheci. Nele, habitavam as sombras, mãos que roçavam meus braços, puxavam meus pés, arrastavam-se silenciosas no tapete sob meu corpo até conseguirem manter-me de olhos fechados e lábios selados pelo pavor 

Naquele turbilhão de horrores — que acontecia invariavelmente nas noites em que pensava Nele — já no meio do caminho, quase exaurida pelo pânico, estava o Tabú, meu cão que ali descansava tranquilo.

Não mais tremia tanto e conseguia galgar os próximos passos com maior dignidade. Ir de encontro ao grande portal. À salvação! Deitar no céu, na cama entre meus pais. Como era bom!

 

Vampiro