Posts from junho, 2013

Certas coisas…

 

     Selma Barcellos

Selma 2

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Por que viver vale a pena?” – indaga-se o autor da crônica com que me delicio na rede da varanda, boxers deitados ao lado, labradora empurrando minha mão com o focinho para ganhar cafuné. E responde o jovem cronista: por Mahler, Millôr, Manhattan, Peter Sellers, vinhos do 12ème, mulher “na primeira vez em que entrega sua nudez e seu sorriso” e por aí vai.

Fecho os olhos e penso igualmente em certas coisas que fazem valer a pena… Como o quê? Ora, os poemas do Pessoa, as veredas do Rosa, o esticador de horizontes do Manoel de Barros. Quixote. Quase toda a obra de Fellini, o Mastroianni, a nossa Fernanda, meus cult adolescentes “Um Homem e uma Mulher” e “Breakfast at Tiffany’s” – trilhas sonoras cantadas de cor. Aquela cena do Pacino dançando “Por una cabeza”… Aliás, tangos.

E Paris, “Those Were the Days” em Londres e “Prendi questa mano, Zingara” em Florença – aos 18. Sarah Vaughan, Sinatra, Tom&Vinicius, Tom&Jerry. Chico como encantado ao lado meu e as propostas do Roberto. A bateria da Mangueira. Paul McCartney no Maraca, Anna Netrebko no Waldbühne. “Nessun dorma”. O intermezzo de “Cavalleria rusticana”, a doçura do entreato de “Carmen”… Braços e pernas à perfeição do cisne de Plisetskaya.

Ainda agora, os mistérios de Sintra e pedalar por Cascais, o boardwalk de Santa Monica, ouvindo a percussão dos que sobraram de Woodstock e tomando Erdinger gelada… Bolinho de bacalhau do Seu Antonio. Búzios meio vazia, comendo cavaquinha grelhada no entreposto dos pescadores ao cair da tarde. Bombons trufados da Godiva. Mergulho no mar com a tal sensação térmica de 45º (mas é bom parar por aí). Sol se pondo em Itacoatiara…

A beleza dos dias sob a luz do outono. Aquela noite em que família e amigos, enrolados em mantas, deitamos todos no deck da cabana no Yosemite para observar o céu mais incrível de nossas vidas. As gargalhadas gostosas dos alunos com minhas gracinhas. O último retoque antes de assinar a tela. A expressão feliz do filho vendo sua noiva entrar. O bailado solto com o outro filho e suas dicas de bem viver. Aprender com eles. Chorar de rir. Cansar de dançar.

Não por último, subir ao palco da ABL para receber meu “Oscar” pelo 1º lugar no concurso de redação, 13 mil inscritos… (Nota do Editor: Veja a premiação da Selminha AQUI)

Ah! – e soltar o gogó em “Non, je ne regrette rien”. Glorioso. Meu épico de chuveiro.