Posts from junho, 2013

Vanessa Mata Tom Jobim

 

 

vanessa da mata

 

Ainda não havia assistido ao show em que Vanessa da Mata interpreta canções de Tom Jobim, o que fiz ontem por um canal de TV que transmitiu ao vivo a apresentação em Ipanema.

O projeto “Viva Tom Jobim”, patrocinada pela “Nívea” é uma homenagem aos 50 anos do lançamento do primeiro disco solo do Maestro Soberano, “The Composer of Desafinado Plays”, gravado pela “Verve”, em Nova York, no ano de 1963.

Pois apesar da denominação do projeto, de bons músicos acompanhando-a, do belo cenário, o que vi e ouvi foi Vanessa, fazendo jus ao nome dela e ao do disco quinquagenário, tentando matar Tom Jobim, desafinando, semitonando, e outras coisas mais. Ficou evidente não estar à altura das nuances melódicas e do refinamento das músicas de Tom.

Não gosto dela como cantora, admito.

Quando surgiu, o timbre algo parecido com o de Gal Gosta me despertou a atenção, mas logo percebi que se tratava de uma cantora muito limitada, a despeito do grande sucesso de público e de crítica, o que, aliás, não significa absolutamente nada. Sou desafinado, mas meus ouvidos não são moucos.

Apesar disso, cheguei a me indagar se não seria mera implicância ou intolerância minha. Mas eis que, sem nada haver comentando antes com ela, recebo um e-mail de uma querida amiga e colaboradora deste blog (e que encanta quando canta) dizendo-me que sentia exatamente o mesmo. 

Até Caetano Veloso, que participou brevemente do show, parecia sem graça, pouco à vontade, cantando num tom (ou Tom), que não era o dele.

Vanessa só não mata de vez Tom Jobim porque ele é mesmo imortal.

(A cara do Tom na foto acima não parece preocupada?)

 

 

Suarabácti

 

         Annibal Augusto Gama

ANNBAL~1

 

 

 

 

 

 

Não sei onde ouvi ou li esta palavra, nem tinha à mão, na hora, um dicionário, mas ela ficou me martelando na cabeça. Parecia o nome de alguma doença inconfessável. Até que dei com o Prof. Lopes, um sábio, na porta da Farmácia Modelo, e lhe perguntei o que era ou queria dizer o tal de suarabácti,

O professor olhou para o céu, e depois me bateu a mão no ombro:

─ Cáspite! Faz mais de vinte anos que não ouço ninguém falar em suarabácti! Onde é que você encontrou a palavra?

Provavelmente, os antibióticos haviam acabado com o suarabácti, como acabaram com a gonorréia.

Mas não era nada do que eu supunha, e o professor explicou:

─ Suarabácti, meu caro amigo, é uma alteração fonética que consiste na intercalação de uma vogal para desmanchar um grupo consonantal. Diz-se também “anaptixe”. Por exemplo; “adevogado”, por advogado, “peneu”, por pneu, “taramela”, por tramela.

Ora, ora…

Agradeci ao professor e fui saindo. E ele permaneceu rindo, na porta da farmácia.

Fui para o Bar e Bilhar do Nilo, entrei, e experimentei no Elesbão, que é um cretino:

─ Você não tem vergonha na cara, seu pervertido? Fazer suarabácti no bordel da Ambrosina…

Todos olharam reprovativamente para o Elesbão, e ele pegou o taco, ameaçadoramente.

─ Repita o que está dizendo que lhe parto a cara!

─ Pois pergunte antes ao Professor Lopes, foi ele quem me disse, na porta da Farmácia Modelo.

Ele estava com as mangas da camisa arregaçadas, e eu tirei o paletó.

─ Bom será que não lhe caia a língua, depois do suarabácti. Se eu fosse você, ia logo tomar uma dose cavalar de antibiótico, porque a coisa é grave e contagiosa. E não me encoste, antes de se tratar.

Todos se afastaram do Elesbão, e ele empalideceu.

─ Vou já falar com o Doutor Magalhães, e depois volto para lhe quebrar a cara. 

─ Não é preciso, seu bestalhão, porque eu já tenho o antibiótico no bolso. Suarabácti é meter uma vogal num grupo consonantal, para desfazê-lo. “Adevogado”, por advogado, “peneu”, por pneu. 

Todos caíram na gargalhada. Ainda assim, o Elesbão correu atrás de mim, com o taco na mão, até a porta do bar.

─ Engraçadinho! Moleque! Vá gozar a mãe!

Quando ele se acalmou, retornei ao bar e perguntei ao pessoal:

─ Como é, gente, vamos ou não vamos jogar uma partida de sinuca?

De noite, na Ambrosina, sugeri à Loreta:

─ Vamos fazer um suarabácti? 

Ela se ergueu da cadeira, os olhos fuzilando.

─ Quem é que você pensa que eu sou? Seu descarado, seu tarado! Não me encoste a mão, e saia já daqui!

Foi um custo convencê-la que ela mesma praticava o suarabácti todos os dias.

A coisa se espalhou, e todos vinham perguntar-me que estória era aquela do suarabácti. Mas alguns ainda continuam duvidando. 

O Prof. Lopes me disse:

─ Pelo menos, você divulgou o suarabácti. Mas tenha cuidado, não exagere, não deturpe a língua, que é preciosa.

 

suarábacti