Posts from junho, 2013

O horror, o horror

 

 

 

atropelamento em ribeirão preto

 

 

Em 1890, Jósef Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski, polonês naturalizado britânico, subiu o Rio Congo e durante essa jornada presenciou um dos períodos mais sangrentos da triste história africana, cuja população à época, escravizada na extração de marfim, estima-se que tenha sido reduzida à metade.

Anos mais tarde, já convertido no escritor Joseph Conrad, publicou a obra-prima Coração das Trevas, com claras reminiscências daquela aventura assombrosa. O protagonista do romance, Marlow, é encarregado de subir um rio até o posto comandado por Kurtz, um europeu que enlouquecera entre os selvagens. Kurtz só aparece nas últimas dez páginas, mas sua presença pesa sobre o livro todo. Esse personagem, louco ou lúcido demais (o que talvez seja a pior forma de loucura), equilibra-se na tênue linha entre civilização e selvageria. Suas palavras finais resumem não apenas a história colonial da África, mas de toda a humanidade: “O horror, o horror.”

Francis Ford Coppola, a partir do livro de Conrad, e deslocando a ação para o Vietnã, realizou em 1979 outra obra-prima, o filme Apocalypse Now, com Marlon Brando no papel de um Kurtz coronel desertor do exército norte-americano.

Ontem, mais de 120 anos depois da experiência sinistra de Joseph Conrad no Rio Congo, nesta aprazível São Sebastião do Ribeirão Preto, que acabara de completar 157 anos no dia anterior, outrora denominada “Capital da Cultura”  e “Califórnia Brasileira”, um energúmeno endinheirado, subindo com sua possante Range Rover por uma das principais avenidas da cidade, pela qual caminhavam milhares de pessoas, de forma absolutamente pacífica e ordeira, manifestando o descontentamento cívico e ao mesmo tempo a esperança do povo brasileiro em transformar o Brasil num país melhor e mais igualitário, sentindo-se contrariado pelo bloqueio de sua augusta passagem, atirou o transatlântico terrestre sobre a multidão, matando um jovem de 18 anos e ferindo várias outras pessoas.

Não, não adianta buscar explicações.

A única explicação é aquela mesma constatada por Conrad: o horror, o horror!

Apenas o horror!