“In the morning mist two lovers kissed
and the world stood still”
“Love is a many-splendored thing” (Paul Frances Webster / Sammy Fain), com Nat King Cole
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=A26Ed9zNNJo&hd=1[/youtube]
“In the morning mist two lovers kissed
and the world stood still”
“Love is a many-splendored thing” (Paul Frances Webster / Sammy Fain), com Nat King Cole
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=A26Ed9zNNJo&hd=1[/youtube]
Adalberto de Oliveira Souza
FELIZ ANO NOVO
Assim caminha a humanidade,
um dia, outro dia,
uma semana, outra semana
um mês, outro mês,
um ano, outro ano
e os minutos e os segundos
e as longas horas (às vezes curtas).
Devorados pelo tempo,
tentamos sobreviver
(ou viver simplesmente),
esperando sempre o melhor,
suspirando por um inesperado
glorioso.
Acontece que há quem não espera (esses são raros, mas não tanto).
Os desesperados.
No entanto,
Vivemos só para esperar (é a nossa condição).
E pode ocorrer
tanto o inesperado cruel como o intempestivo magnífico.
Até quando se está
no suplício de uma saudade.
BONNE ANNÉE
Ainsi marche-t-elle l`humanité,
un jour, un autre jour,
une semaine, une autre semaine,
um mois, un autre mois,
et les minutes et les secondes
et les heures longues (quelquefois três courtes).
Le temps nous dévore,
onessaye de survivre,
(ou de vivre tout simplement),
on attend toujours le meilleur,
soupirant après un inattendu
glorieux.
Il arrive que certains n`attendent rien (ceux-là sont rares, mais pas toujours).
Les désespérés.
Néanmoins,
on ne vit que pour attendre (c`est notre condition).
Et il peut parvenir
aussi un inattendu cruel comme un intempestif
magnifique.
Même quand on est
dans le supplice d`une nostalgie.
Annibal Augusto Gama
OS TRÊS CONVIDADOS
Para a minha festa natalícia
convido três amigos,
um velho, um moço, um menino.
Sirvo-lhes na mesa redonda
coberta pela toalha de linho
o pão, o queijo, o vinho, o leite, o mel.
O relógio na parede vai bater nove horas
e é confortador o fogo sob a trempe do fogão
onde ferve a água para o café.
O velho come o pão embebido no vinho,
o moço come o queijo e bebe o vinho,
o menino toma leite e se lambuza de mel.
Não é preciso dizer nenhuma palavra
tanto nos conhecemos de tantos anos,
e eu rio nas rugas do velho,
na ardente face do moço
e nos olhos úmidos do menino.
Bebo afinal o café
com o fantasma das três idades.
“Resposta ao tempo” (Aldir Blanc / Cristóvão Bastos), com Aldir
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=fgHfzDgOwtY[/youtube]
Pelo segundo ano, dos três que Manuela tem, Papai Noel vem para deixar os presentes dela.
Ano passado foi Papai Noel Bell, este ano é Papai Noel Hilário (veja aqui).
Babu, que gosta de contar vantagem, diz que Papai Noel é seu velho amigo e avisou que viria.
─ Manu, ano passado você ficou muito quietinha na frente do Papai Noel! Converse mais com ele hoje. Ele é bonzinho e só vem até sua casa porque você mereceu e é muito especial. Para a maioria das crianças ele passa quando elas já estão dormindo e só encontram os presentes de manhã quando acordam.
─ Ah, Babu, mas eu fico nervosa! Você não é amigo dele? Me ajuda a falar com ele.
─ Combinado, então. Fico junto de você.
A festa continua, até que lá pelas 23 horas o Papai Noel Hilário vem entrando casa adentro.
─ Ho, ho, ho, Feliz Natal a todos! Cadê a Manuela? Oi Manuela, trouxe seus presentes. Deixe eu ver a minha lista aqui. “Manuela Cravo e Canela”, é você?
─ Não, Papai Noel!
─ “Manuela Mozzarella”?
─ Também, não!
─ “Manuela Mortadela”?
─ Não! Os olhinhos aflitos procuram Babu, numa súplica muda de ajuda.
─ Diga o seu nome completo para ele, Manu.
─ Manuela da Gama Gomes.
─ Ah, é mesmo. Está aqui. Manuela da Gama Gomes?
─ Sou eu! Mandei uma cartinha…
─ E vai ganhar tudo o que pediu na cartinha. Você foi uma menina muito boazinha. Vamos lá.
E Papai Noel se põe a descarregar da sacola presentes que não acabam mais.
Os olhinhos agora brilham tanto quanto a Estrela Guia. Talvez mais.
Quando afinal o Bom Velhinho se vai, “ho, ho, ho”, ainda tem muitos presentes a entregar — e os joelhos já não aguentam a posição agachada — o olhar dela, agora falante, mais uma vez busca Babu:
─ Babu, Papai Noel é doidinho…
Todo mundo vira criança na frente de Papai Noel, ninguém se lembrou de fazer as vezes de fotógrafo e registrar a encenação. Só houve esta foto, da entrada triunfal do Papai Noel Hilário.
NATALÍCIO
Súbito é Natal.
Todos os homens se amam
e de mãos dadas
cantam e festejam
um aniversariante
distante.
Na esquina próxima
um outro menino
me estende a mão,
não para o brinde ou o afago
mas para a esmola,
que mais a mim
do que a ele
consola.
Seus olhos desbotados
carregam um cansaço de séculos,
herança obscura de pó,
pedra, sangue e agonia
traspassada a cada novo ano
que já nasce
velho.
[youtube][youtube]https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Di6ndDWb68c[/youtube][/youtube]
Esse compacto foi oferecido pela imobiliária “Clineu Rocha” aos seus clientes, no Natal de 1967.
De um lado, a canção “Tão bom que foi o Natal” composta e interpretada por Chico Buarque. Do outro, faixas com jingles da empresa.
O brinde recebeu menção honrosa na categoria de “Melhor Cartão de Natal”, no”I Prêmio Colunistas Nacional 1968”.
Chico teve atritos com a imobiliária algum tempo depois do lançamento do disco, como se pode ver do trecho abaixo de uma entrevista dele ao COOJORNAL em junho de 1977:
Coojornal: Em compensação, aquela imobilária de São Paulo, a Clineu Rocha, usou com a maior cara de pau uma música tua como jingle…
Chico Buarque: Mas ela foi a falência como castigo (risos)
Coojornal: Como foi mesmo essa história da Clineu Rocha?
Chico Buarque: Não, foi um negócio de dez anos atrás. Eu fiz uma musiquinha, gravei com violão assim, que era para essa empresa distribuir aos seus clientes de brinde no Natal. Mas estava escrito, não era gravação comercial, não era para tocar na rádio nem nada. Agora há dois anos atrás usaram no Natal como jingle da firma. Aí fui lá e processei e eles me deram a grana porque era um abuso.
E por falar em hospital…
“Um Samba no Bexiga” (Adoniran Barbosa), com ele e Elis Regina se matando de rir
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=JjrrE0G03nI[/youtube]
Domingo nós fumo num samba no Bexiga
Na rua Major, na casa do Nicola
À mezza notte o’clock
Saiu uma baita duma briga
Era só pizza que avuava junto com as braxola
Nóis era estranho no lugar
E não quisemo se meter
Não fumos lá pra briga, nós fumo lá pra come
Na hora “h” se enfiemo debaixo da mesa
Fiquemo ali, que beleza, vendo o Nicola brigá
Dali a pouco escutemo a patrulha chegá
E o sargento Oliveira falá:
“Não tem importânça,
Vou chamar duas ambulânça.
Carma pessoá,
A situação aqui tá muito cínica.
Os mais pior vai pras Crínica.”
Euclides Rossignoli
Bem antigamente, quando não havia nenhum sistema público de saúde, a coisa era mais ou menos assim: o sujeito, quando precisava de atendimento médico, ou pagava tudo (consultas, exames, internações, remédios), ou era tratado como indigente, e aí não pagava nada.
Um belo dia apareceu no escritório do advogado Dr. João Bento um conhecido dele, um agricultor que vivia de muita labuta num pequeno pedaço de terra que havia herdado do pai.
Contou o caso:
— Dr. João Bento, em vim aqui pra ver se o senhor tira a minha mulher que está internada na Santa Casa.
— Mas o que é que está acontecendo?
— É, doutor, minha mulher teve de ser internada às pressas na Santa Casa e precisou ser operada. Já faz mais de quinze dias que ela está lá, mas agora, graças a Deus, está boa, está curada.
— E qual é o problema, então?
— É que eles disseram que não dão alta pra ela enquanto não pagar a conta. E eu não tenho dinheiro, doutor. O que eu tiro lá no sitinho quase não dá nem pra gente comer. Mas eles não querem saber. Disseram que, enquanto eu não pagar, eu não posso levar minha mulher embora. Então eu vim aqui pra ver se o senhor dá um jeito de tirar ela de lá.
— Eles estão tratando mal sua mulher?
— Não, doutor, isso não. Ela está sendo tratada muito bem.
— Então você larga ela lá na Santa Casa.
— Sem pagar, doutor?
— Sem pagar.
— Mas pode fazer isso, doutor?
— Você tem dinheiro para pagar?
— Não, isso eu não tenho.
— Então faça o que eu lhe disse. Mas não apareça mais na Santa Casa. Vai cuidar do seu serviço.
Cinco dias depois o agricultor voltou a procurar o advogado.
— Dr. João Bento, o senhor falou pra mim não aparecer mais na Santa Casa, então eu não fui, mas eles já mandaram avisar três vezes lá em casa que deram alta pra minha mulher.